Ela caminhara entre as estantes da biblioteca da faculdade, passando os dedos pelas lombadas de todos os livros, desde aventuras à romances. Já havia escolhido dois, além do exemplar que a professora mandara ler. Se interessou por um livro na última prateleira, como se não bastasse.
Se esticou, fez com que o livro caísse de lá, mas viu que não conseguiria pega-lo a tempo. O exemplar caiu no chão com um estrondo, todos a olharam com figuras desprezíveis nos olhos.
- desculpe! - sussurrou para acalmar as caras feias e indignadas que surgiram em meio ao silêncio que fora perturbado.
Continuou examinando os livros. Tirou um deles da prateleira e deu de cara com olhos claros e cabelos escuros. Terry estava no corredor ao lado, com o rosto no espaço dos livros, para olha-la.
Se assustou, pulando para trás, o que a fez se desequilibrar e cair.
- eu sabia que o primeiro estrondo era você.
Terry deu a volta na gigantesca prateleira que os separava e ajudou Liv se levantar.
Ela o olhou feio, mesmo seu sorriso estando radiante.
- você não pode me avisar que chegou ao invés disso? - diz, raivosa.
- desculpe, minha intenção não foi assusta-la.
Eles caminharam para a saída, a bibliotecária registrou os livros encarando Liv como se a culpa de todos os seus problemas fosse dela.
Continuaram em frente, estavam dentro do campus, flores brancas rodeavam o caminho, e a grama verde recém aparada soltava um doce aroma que se misturava aos outros vários deixados pelas cafeterias por perto. Não nevava faziam alguns dias, ainda assim, o vento gelado queimava ao entrar em contato com a pele.
- vamos tomar um café - sugere Terry.
- não sei - ela diz e suspira - tenho que estudar.
- Liv, faz cinco dias que as aulas voltaram, você não deve ter tanto trabalho para fazer assim.
Viram, de longe, pelos cabelos brancos voando na velocidade que corria, que Lis queria alcança-los rapidamente.
- foi um absurdo! - antes mesmo de chegar a eles, ela começou a tagarelar loucamente.
Liv prestara atenção parcialmente. Sua mente buscara alertas sobre o tempo. O fato de sair sol, não impedia a neve de cair na madrugada, e o dia seguinte ser marcado por branco fofo e molhado.
- Liv? Lívia!
E trombou.
Sua testa foi de encontro com a porta do lugar, que graças aos céus estava vazio. Infelizmente, essa fato não impediu Lis de rir histericamente por vinte minutos.
Mesmo assim, gostava de Lis. Gostava de ser a mais sensata deles. Gostava dos cabelos rebeldes e contrários. Gostava da maneira como ela jogava os fios brancos para trás, quando ventava demais. E, acima disso, gostava de ter seu bom humor por perto.
Lis lembrava a Alasca Yong, com um toque de Luna Lovegood.
Quando foi para casa naquele dia, ligou o rádio baixinho, tocava jazz suavemente, e telefonou para a mãe.
- querida, não passe tanto tempo sem dar notícias!
Ela sempre dizia isso, mas nunca ligava. Liv não gostava de ligar pelo mesmo motivo. Sentia ter finalmente conquistado algo quando saiu de casa, um grande passo, uma grande responsabilidade. Morar sozinha fora a melhor experiência que teve, mesmo que fosse solitário as vezes. Os pais pagavam o aluguel, tinham um relacionamento saudável, uma boa convivência, mas...
Ela havia criado asas e decidido não voltar.
- desculpe mãe. Ando bem ocupada.
A mãe contou as novidades. Seu pai andava trabalhando muito. Ela havia acabado o curso que resolveu fazer nas férias. O cachorro estava doente. Seus tios estavam com saudades.
Bateram na porta, e Liv já podia imaginar quem seria.
- eu ligo pra você depois, tenho que ir...
- mas querida eu ainda...
E desligou. Sua mãe tinha o péssimo hábito de tagarelar quando precisava desligar.
- vamos dar uma festa! - gritou Lis ao entrar pela porta recém aberta.
- uma festa? Você só pode estar brincando.
- é claro que não. Será amanhã a noite. Seremos os anfitriões.
- não.
Lis a olhou como as pessoas na biblioteca.
- você faz alguma coisa divertida nessa sua vidinha monótona?
- gosto da monotonia.
- mas eu não gosto.
- então faça a festa sem me envolver.
- você só precisa aparecer!
- de jeito nenhum.
- você vai, nem que eu tenha que amarrar você e leva-la de pijama e pantufas! - disse, se virando e saindo.
Liv suspirou. Onde estava com a cabeça em fazer amizade com alguém tão convincente?
Caminhou até a porta para fecha-la. Terry estava parado, com as mãos nos bolsos, no último degrau da escada.
- ela convenceu você, não foi? - Liv se inclinou para olhar em seus olhos transparentes.
- não exatamente, gosto de festas.
- as vezes me esqueço como são parecidos - revira os olhos.
Ele riu, e Liv sentiu seus pulmões se encherem de ar quente.
Desceu os degraus e sentou, levando consigo um livro. Ficaram em silêncio, olhando a luz dos postes lançarem sombras sobre a rua. O vento bagunçara seus cabelos ruivos, e não estava de gorro para proteger as orelhas. Em questão de segundos suas mãos estavam frias, e podia ouvir sua mãe dizer que eram mãos de defunto.
- venha aqui - disse Terry, a abraçando para trocarem calor.
E resolveu. Suas mãos ao entrarem em contato com a pele de sua costela incendiaram seu corpo. Ele a abraçou apertado, impedindo que o vento se concentrasse totalmente nela, e dividiram todo calor que possuíam.
- Acho que não temos escolha sobre a festa - comentou o garoto.
Suspiraram juntos. Riram a seguir.
Terry virou o corpo a fim de olha-la e ela já podia sentir suas bochechas a entregarem.
- por que olha desse jeito pra mim?
Ele levantou uma sobrancelha, deixando seu rosto bonito ainda mais charmoso.
- porque espero que me olhe da mesma maneira.
A frase saiu como um soco, e seu estômago revirou.
Ao perceber o efeito que causara, Terry sorriu. Levou os dedos ao rosto dela e acariciou. Liv fechou os olhos para sentir seu toque por completo.
No fundo ela sabia que olharia para ele daquela maneira, mais cedo ou mais tarde.
Porém, segurava, tinha medo do que ocasionaria, tinha medo do fim, pois nunca fora boa em dizer adeus a nada. Sempre desliga o telefone antes de se despedir. Sempre diz até mais, ou até logo. Não se despediu de ninguém antes de se mudar. Chorou no quarto, ao ver pela pequena janela, os pais voltando para casa quando a deixaram, um ano antes daquele momento com Terry. Mas não respondeu quando sua mãe lhe disse tchau. Sorriu, sim, apenas sorriu, porque despedidas não necessárias.
A vontade de chorar veio como uma onda. Liv deitou a cabeça em seu ombro para que não percebesse. Sentiu a mão de Terry acariciar seus longos fios e se deixou levar pelas sensações boas que lhe trazia.
VOCÊ ESTÁ LENDO
Xícara de Café
Tajemnica / ThrillerNeve. Uma cidade com noites a beira do congelamento. Uma garota ruiva de gorro vermelho, tomando uma xícara de café. Liv sempre quis morar sozinha, e quando consegue, busca uma cidade atolada no frio. Leva uma vida tranquilamente monopolizada. As...