Conforme os dias passaram, a neve continuava a cair. Não havia diferença entre as estações do ano. As árvores sempre estavam sem folhas. O vento sempre mais frio.
Eles estavam juntos, afinal, Liv até aceitara Terry em suas caminhadas.
Naquela noite, dormiram no sofá dividindo um cobertor, sentindo as respirações próximas, aconchegando-se nos braços um do outro, com os corações compassados no mesmo ritmo.
Lis estava a ponto de perder o juízo quando adormeceu sentada na porta do banheiro. A neve continuava firme em sua jornada de afundar toda a cidade, e a festa era algo distante. Ela sentiu um toque no ombro, delicado, discreto. Esfregou os olhos com as mãos fechadas, espreguiçando.
-quer companhia? - ele perguntou.
Ele, um garoto alto, esguio, com os cabelos castanhos, estava parado ao seu lado, olhando-a atentamente.
Ela deu de ombros, Lis não é o tipo de pessoa que sabe flertar, ou que precisa dessas situações.
Ao menos, foi assim que ela contou a Liv, sentadas nos degraus da casa com suas xícaras ferventes de café.
Liv estava feliz, Terry era uma mistura de ciências e poesias. Ela sentia que eram um casal, porém as coisas não foram oficializadas com palavras, e não havia necessidade. Entraram na faculdade de mãos dadas na noite anterior, e isso era o suficiente.
De algum modo, sentiu a aproximação do garoto. Suas mãos suaram, e seu coração disparou. Sentiu as malditas borboletas no estômago.
Terry virou a esquina, carregando uma rosa. Ela não conseguiu disfarçar sua felicidade e sorriu, tímida.
Lis bufou.
-não posso passar nem um minuto sozinha com a minha melhor amiga!?
Melhor amiga. As palavras soaram delicadamente por seus ouvidos, ecoando em sua mente. Melhores amigas.
A verdade era que os gêmeos rodopiaram seus dias, destruindo parcialmente sua rotina. E, por incrível que pareça, estava em paz com isso.
-desculpe Lis, ela é mais minha que sua.
Ele lhe entregou a rosa branca, e sentindo o doce perfume, disse:
-digam-me que não estão disputando posse sobre mim. Eu não sou um objeto.
Riram, como costumavam fazer, estava tudo em perfeita ordem.
Lis saiu para encontrar o rapaz, dissera que estavam conversando desde a festa, e que teriam um encontro aquela tarde.
Quando ficaram sozinhos, Terry tomou o resto do café de Lis, espreguiçou e voltou seus olhos para a porta.
-você quer entrar? - perguntou Liv, sorrindo, e o sorriso de canto do garoto como resposta foi suficiente.
Assim que atravessaram a porta, ele a virou, encostando seus corpo no dele. Seus dedos tocaram levemente os lábios rosados, subindo para as bochechas geladas.
Liv suspirou. O toque dele era quente, mesmo que pouco agasalhado diante da tempestade de frio lá fora. As mãos de Terry estavam nuas quando se encararam pela primeira vez, ela se recordou.
Se inclinou suavemente para que seus lábios pudessem se ver, e os olhos de Terry estavam sorrindo, refletindo o alaranjado de seus cabelos.
Quando os lábios se tocaram, sentiu uma explosão de borboletas. Era estranho viver um sentimento profundo como aquele. Ela estava acostumada aos livros, e não sabia se na vida real algo assim poderia acontecer, sempre acreditara que não.
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Xícara de Café
Mystery / ThrillerNeve. Uma cidade com noites a beira do congelamento. Uma garota ruiva de gorro vermelho, tomando uma xícara de café. Liv sempre quis morar sozinha, e quando consegue, busca uma cidade atolada no frio. Leva uma vida tranquilamente monopolizada. As...