Vermelho

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Vermelho. 

A intensidade da cor fizera seu estômago revirar. 

Lis insista para que Liv comprasse o vestido, já que, segundo ela, no guarda roupa de Liv não havia nada que pudesse usar em festas. 

-me sinto uma dançarina de tango... -tentou argumentar.

-tango é legal, pare de reclamar. 

As garotas levaram o vestido, caminhando pelas calçadas das lojinhas do centro, as pontas dos coturnos enterradas na neve. O sol aparecia levemente por trás de algumas nuvens, mas estava frio, parecia um dia triste, e talvez era. 

-quantas vezes presenciou a Terra completar o movimento de translação mesmo? - perguntou Liv, quando entraram no carro.

-vinte e uma. Tenho habilitação há três anos e nunca matei ninguém... Ainda. 

Liv riu, o vidro aberto enquanto os cabelos balançavam com o vento. Fechou os olhos e sentiu a brisa gelada atravessar sua pele. 



A festa era a noite. 

Estavam ambas há quase duas horas trancafiadas no quarto. Segundo Lis, criaria uma obra de arte viva. Prendeu os fios ruivos em um coque desarrumado. Argolas. Maquiagem. Acessórios de ouro falso. 

Liv se olhou no espelho, porém o que viu foi uma imitação barata de qualquer atriz internacional. 

Ela suspirou.

Durante a festa, ficou escondida no quarto a maioria do tempo. Escutava gritos, risadas e conversas altas, além da música, mas nada a incentivava a ir até lá.

A porta abriu, e um Terry maravilhosamente charmoso entrou. Seu cheiro inundou o quarto. Usava uma camisa branca que realçava a escuridão de seus cabelos, e jeans escuros. 

- uau - disse, ao colocar os olhos em Liv.

- não. Não faça isso. Feche os olhos!

Ele obedeceu, rindo.

- o que houve?

- não quero que me veja assim, essa não sou eu, não se parece nada comigo.

Ele pensou um pouco.

- você está perdendo a festa.

- realmente não ligo. Não gosto de festas.

- você deveria experimentar ir até lá.

- não saio desse quarto desse jeito. Não consigo nem ao menos imaginar por que diabos cedi aos argumentos nada válidos de Elisa referente a minha aparência.

Terry fez menção de abrir os olhos.

- não! - e correu até ele, colocando suas mãos sobre seus olhos.

Sentiu a respiração acelerar. Percebeu a proximidade tarde demais. No desespero, deixou seu corpo colar no dele. Seus seios encostavam no peitoral do garoto e os lábios estavam em alturas razoáveis. Ele inclinou a cabeça em sua direção e o nariz de Terry tocou o seu.

Alguns segundos longos se passaram, ela se afastou poucos centímetros, sem tirar a mão dos olhos do garoto.

- me deixe abrir os olhos... Eu vou ajudar você, e vamos sair desse quarto, dançar até seus pés doerem enquanto todos nos olham.

Liv tirou a mão lentamente, o sorriso dele estava radiante, puro e majestoso. 

Seus olhos se encontraram antes dele se afastar para vasculhar o guarda roupa de Lis.

Xícara de CaféOnde histórias criam vida. Descubra agora