Neve.
Uma cidade com noites a beira do congelamento.
Uma garota ruiva de gorro vermelho, tomando uma xícara de café.
Liv sempre quis morar sozinha, e quando consegue, busca uma cidade atolada no frio.
Leva uma vida tranquilamente monopolizada. As...
-e mais uma vez, Lis convence a todos nós que devemos dar uma festa - resmunga Terry.
Os dois estavam sentados no banco em frente ao lago. O ombro direito de Liv tocava levemente o ombro esquerdo do garoto. Suas roupas eram finas, e podiam sentir o calor que emanava de seus corpos pela proximidade.
O clima continuava ameno, mesmo com a tempestade de neve há algumas madrugadas. Ainda assim, duvidavam que se manteria assim por muito tempo. As folhas caíam amareladas em um ritmo frequente, e as vezes, voando pelo imenso céu azul, se enroscavam nos cabelos lisos de Liv.
A garota de cabelos alaranjados se sentia culpada por não contar de imediato ao companheiro o que havia acontecido na biblioteca, algumas noites atrás. Resolvera que agiria com cautela e não se arriscaria a perder nenhuma oportunidade de descobrir as intenções por trás daquele joguinho. Se contasse a ele, no minuto seguinte Terry estaria confrontando os dois amigos.
Além disso, não sabia ao certo o que Miguel tinha em mente, mas não fingiria ser ingênua. Ele costumara olhar para ela com fogo ardente, seu olhar ultrapassando todos os limites que poderiam existir. Ele estava esperando por Guilherme na biblioteca. Ele estava planejando algo, ela pressentia.
Terry virou-se. Seus olhos transparentes examinando cada centímetro de seu rosto.
-eu te trouxe uma coisa - ele sorriu, um sorriso discreto e sincero.
O garoto abaixou-se e pegou uma caixa pequena, decorada com fitas azuis e prateadas. Um pequeno coração estava marcado no centro da tampa, e ela podia ver que fora feito a mão. Era azul, seus traços de caneta esferográfica, provavelmente usara caneta Bic, eram suas preferidas.
Ela sorriu, nunca ganhara um presente que não fora da mãe, e as vezes do pai.
Abriu a caixa. Colocado delicadamente sobre o papel de seda salmão, havia um par de luvas vermelhas, que combinavam perfeitamente com seu gorro.
-sei que por enquanto não está tão frio... - começou ele a se explicar.
-Terry, são lindas! É perfeito, obrigada!
Liv se jogou nos braços do garoto, o puxando para um abraço. Levou os lábios na direção dos lábios do menino, antes que pudesse perceber. Os dedos de Terry acariciaram sua nuca, suavemente. Ela suspirou, e seu toque desceu pelo braço, trazendo uma onda de calor.
Quando ele a deixou em casa, fora para o quarto e abriu o guarda roupa. Provavelmente, esta noite seria sua chance para distrair os garotos e faze-los falar. Liv suspirou ao pensar que estava agindo de forma imprudente, talvez fosse apenas uma piada.
Ao contrário do que sua mente tentava faze-la acreditar, seu instinto dizia que havia algo por trás daqueles olhares, por trás de uma mensagem clara e direta.
No fundo, Liv sabia que estava tentando provar a si mesma que conseguiria resolver seus problemas sem a ajuda de Terry.
Ela o viu, pendurado por trás de todas as suas jaquetas e vestidos floridos. Vermelho. Pendendo do cabide de forma arriscada. Lis o trouxera na noite em que conhecera Miguel, para usar no restaurante. Liv estendeu a mão para toca-lo. Seus dedos sentiram a delicadeza do tecido.
Decidiu que seria o vestido ideal.
Ops! Esta imagem não segue nossas diretrizes de conteúdo. Para continuar a publicação, tente removê-la ou carregar outra.
