present

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Acordei com falta de ar.

Meu corpo todo arrepiou com a brisa matinal que batia ali. Me sentei com tudo, encarei as mãos sujas. Estava vivo, acordado, bem. A dor no peito permanecia, porém mais fraca. Olhei em volta e arfei ao lembrar daquele lugar. As más lembranças que ele me dava. As lágrimas vieram, fortes como nunca, e encharcaram meu rosto.

Tudo fora um sonho. Joon, a BigHit, os meninos. Um sonho real de mais. Estava nas ruas de novo, sujo, não havia ninguém para me ajudar. Chorei até não restar nenhuma lágrima para rolar, até meu abdômen tremer, até minhas mãos e bochechas formigarem, até sentir fraqueza. Caminhei até uma das pequenas torneiras que haviam distribuidas pelo parque e lavei o rosto, arfando ao sentir a água gelada contra a pele quente.

Me sentei de baixo de uma das árvores e observei as crianças brincando, que me lembraram minha irmã. Algo no fundo do meu peito se apertou em preocupação, e suspirei. Não lembrava mais o caminho de casa, fazia tempos que não saía daquele lugar.

Me levantei a caminhei até onde estava dormindo, e ouvi pessoas me xingarem de todos os nomes possíveis. Tentei não me abalar com aquilo, afinal era algo normal, do cotidiano. Decidi ir embora dali, juntei minhas coisas e caminhei para fora do parque, em direção a rua. Caminhei por algum tempo, até achar um café. Deixei minhas coisas no chão, em frente ao café e me sentei ali. O chão estava gelado, mas não me importava, apenas havia saído um pouco da parte movimentada da cidade. A porta do café de abriu e o cheiro forte de cappuccino invadiu meu nariz, me fazendo suspirar.

As pessoas passavam e me olhavam com compaixão, com dó. Eu também já havia me acostumado com aquilo. Me enrolei nas cobertas que tinha e suspirei, aquilo demoraria a passar, eu sabia disso, mas estava me destruindo. Aquelas cenas, as dores, minha irmã morrendo e eu não podia fazer nada. Eu era um inútil. As lágrimas vieram novamente, me debati com raiva e soquei a parede que havia do meu lado até minhas mãos sangrarem, com raiva.

Estava tendo outra crise de ansiedade, e nada podia me parar dessa vez. Arranhei os braços, pernas, quase arranquei meus cabelos fora. Ao final daquela dor insuportável no peito que sentia, estava com arranhões grandes nos braços, nas coxas, os nó dos dedos sangrando e os cabelos bagunçados. Ri de mim mesmo amargamente e suspirei, apoiando a cabeça no vidro da fachada da cafeteria.

Já era noite quando alguém parou perto de mim. Estava deitado e encolhido, enrolado nos cobertores, os pés tremiam com o frio, os olhos estavam fechados, estava apenas contemplando meus pensamentos tristes, quando ouvi uma voz doce. Ela cantarolava baixinho uma musica calma, mesmo com os olhos fechados, senti seu olhar sobre mim. Ela se aproximou de mim e encostou a ponta dos dedos em uma de minhas bochechas.

-Porque esse docinho está aqui?

Sussurrou, para não me acordar e deixou algo ao meu lado, se afastando em seguida. Abri os olhos e me sentei, e pela primeira vez no dia, deixei um sorriso mínino escapar pelos lábios ao abrir a pequena caixa que a garota havia deixado ali, revelando dois pedaços de torta.

-Muito obrigado, garota do café.

rapper ~ mygOnde histórias criam vida. Descubra agora