rapper ~ myg

cappuccino

     Alguns meses se passaram, e eu continuei no mesmo lugar, do mesmo jeito. A moça do café sumiu, nunca mais deixou nada para mim, eu nem sabia quem era ela. Se passou por mim mais alguma vez, eu não soube. Algumas pessoas que saíam do café ofereciam sorrisos pra mim, eu os devolvia minimamente.

 Ajeitei o cobertor sobre os ombros e suspirei, olhando algumas crianças passarem. Uma delas se aproximou de mim, sorrindo. Devia ter uns 7 anos, estava bem vestida e arrumada. Seu cabelo estava preso pra trás, deixando a mostra sua franja bem cortada. 

-Hey, moço... Meu pai pediu pra eu te dar isso. Ele disse que achava que você precisava de um desse. 

Ela tirou um violão das costas e o esticou pra mim com dificuldade. Eu peguei e sorri mínimamente.

-Obrigada, querida. 

Minha fobia social estava se fazendo presente novamente. Era a primeira vez em alguns meses que eu sentia aquele pavor de socializar. 

-Aqui, esses vinte mil wons também. Compre algo para comer, você está magrinhos, parece uma folha de papel. 

Eu peguei as duas notas e sorri mínimamente, acenando com a cabeça.

-Muito obrigada, mocinha.

Me curvei levemente e sorri. Ela correu até um homem alto na esquina, que me deu um aceno de cabeça. Eu o retribuí e encostei as costas na parede, abri a case do violão e achei um caderno com um microfone na capa e uma caneta preta, eu podia finalmente compor.

Aquilo aqueceu meu coração, me fez abrir o caderno rapidamente e anotar algumas frases que eu tinha na cabeça na hora. Passei a tarde escrevendo, já era noite quando minha cabeça rodou e eu tive que parar, minhas mãos doíam e meus olhos ardiam. Eu guardei o caderno na case do violão, fechei tudo e deixei no canto, peguei meu cobertor e cobri tudo, pra nao aparecer. As vezes as pessoas pegavam as minhas coisas, achando que era lixo. 

Me levantei pra esticar as pernas, foi quando senti algo gelado escorrer pelo meu cabelo e minhas roupas. Coloquei a mão no pescoço e algumas gotas da água gelada escorreram pela minha coluna, me fazendo arrepiar. Olhei pra cima e vi alguns garotos na sacada de um pequeno prédio que havia ali, rindo.

Me encolhi, sentindo toda a minha roupa se encharcar, me deixando gelado, e o vento não estava ajudando. Minhas roupas estavam cada vez mais molhadas e o vento batendo fazia com que ficasse mais frio ainda.  

Quando ia me sentar novamente, alguém segurou meu braço. Eu me assustei e me virei, dando de cara com uma garota baixa, de cabelos curtos e jaqueta preta. Ela me arrastou pra dentro do café e me fez sentar em uma das mesas. Percebi que o café estava fechado ao focar o olhar na placa na porta. 

-Aqui, beba. Está frio lá fora. Você deve estar com muito frio. 

Ela colocou um copo de cappuccino na minha frente e um prato com alguns salgados. Eu arfei e olhei em volta, pensando no que dizer. 

-Ya... Porque estou aqui? Eu estou bem, só preciso ficar de olho no meu violão...

-Não. Você está molhado. Beba o cappuccino pra esquentar, está frio e você vai ficar doente. Me espere aqui por cinco minutos. 

-Hey, espere! Eu... 

Antes de terminar de falar a porta já havia sido fechada, me deixando sozinho com uma xícara grande de café e comida. Eu peguei um dos salgados timidamente e mordi ele, sentir aquele gosto depois de tanto tempo era inacreditável, parecia ainda mais gostoso. 

Enquanto comia, fiquei pensando se meus vinte mil wons daria pra pagar aquilo, já que era uma cafeteria e normalmente as coisas são caras em lugares assim. Ouvi o sino da porta tocar, avisando a presença de outra pessoa, e uma sacola de papel grande ser colocada na cadeira macia ao meu lado.

-Aqui. Roupas limpas e novas. Quando acabar, vá ao banheiro se trocar.

Meus olhos se arregalaram em surpresa, me fazendo desviar o olhar dela pra sacola várias vezes.

-Não. Não posso aceitar. Magina, não posso pagar por isso.

-E não pode ficar molhado. Vamos, pense como um presente. De uma amiga. Por favor.

Eu encarei ela, colocando o ultimo pedaço do salgado na boca e assenti. 

-Obrigada por isso... Eu precisava urgentemente disso. 

Me curvei levemente, bebendo o resto do café no copo.

-Sabe que pode contar comigo, não sabe docinho?