Capítulo Vinte e Seis

1.8K 137 2
                                    

Rain

Quando me olho no espelho, me decepciono. Não que eu estivesse feia ou algo assim. Na verdade, fisicamente, gostei bastante do resultado. Mas não era eu. Aquela não era eu.

O vestido lilás era a cara da minha mãe. Arrumado, dando a ilusão de menina e filha perfeita. Algo que eu definitivamente não era. Mas minha mãe gostava de manter a sua imagem de mãe amorosa. Eu estar aqui prova isso.

Os sapatos machucavam um pouco meus pés, mas não reclamei. Meu cabelo estava solto, algo que minha mãe com certeza seria contra, mas esse era meu pequeno pedaço de rebeldia. Ele caia em ondas até meus quadris, algo que eu amava.

Eu tinha um pouco de maquiagem no meu rosto e um brinco de diamantes que eu definitivamente não iria levar para casa na orelha. Apesar de bonito, era chamativo demais.

Respiro fundo, dando uma ajeitada no vestido para que não ficasse amassado. Dizer que minha mãe me mataria seria pouco.

A porta se abre, e Fred entra no quarto. Ele deixa a porta aberta atrás de si, e eu sei que está aqui para me acompanhar lá para baixo. Exagerado, se você me perguntar, mas ninguém aqui fazia. Ideia da minha mãe, com certeza.

"Vamos, Rain?" Ele pergunta, e eu aceno com a cabeça. Pego meu telefone e levo na mão mesmo. Caso eu precise de um resgate ou algo assim.

Fred estende o braço para mim e eu aceito. Tinha que descer as escadas, e precisaria de uma ajuda com esse salto.

"Nervosa?" Ele me pergunta enquanto andamos. Eu respiro fundo de novo.

"Eu? Por que estaria? São apenas um bando de amigas da minha mãe que conseguem me fazer sentir uma garotinha até com o olhar, apesar de eu ter vinte e três anos. Não estou nervosa de jeito nenhum." Digo, e Fred sorri. Esse homem entende meu sarcasmo, e eu o amo por isso.

"Qualquer coisa, vá ficar com Fiona. Mas disfarçadamente, senão sua mãe briga." Ele diz, me fazendo sentir como se eu fosse uma garotinha rebelde. Viu? Era essa casa.

Fred e Fiona eram casados a anos, mas não podiam ter filhos. Nunca vi um casal que se amasse tanto, porém. E, bem, eu era como uma filha para os dois. Assim como eu os considerava meus pais.

"Ela podia tentar parecer uma mãe, você sabe? Tentar não machuca ninguém." Eu resmungo quando começamos a descer as escadas. Fred sorri solidariamente para mim.

Assim que a sala onde acontece o jantar fica visível, eu engulo em seco. As mulheres eram como minha mãe. Muitas delas. Arrumadas ao extremo e esnobes. Os homens me lembravam meu pai. Seus ternos que provavelmente custavam anos de salário e cabelos extremamente penteados. E bigodes. Alguns tinham bigode.

"Você vai ficar bem, garota. " Fred sussurra para mim quando estamos lá em baixo. Algumas mulheres me olhavam com desprezo, outras apenas com curiosidade.

Eu conhecia algumas mulheres e seus maridos. Charlotte Golbert era uma das "amigas" mais próximas da minha mãe. Eu a odiava, e a relação era recíproca.

Vejo minha mãe vindo em minha direção, e logo Fred vai embora. Eu sabia que ela não iria gostar se ele estivesse ali comigo. E ele sabia disso também.

Fred e meu pai costumavam ser amigos, ou algo perto disso. O mais perto que meu pai poderia chegar de ter um amigo, pelo menos.

Mas, depois que ele morreu, minha mãe ficou pior ainda. Não porque o amava, mas porque não teria mais ninguém que a entendesse. Meu pai a entendia, de um jeito distorcido. Eles não se amavam, mas se entendiam. Talvez foi por isso que se toleraram por tanto tempo.

Dark Twin - Dark Phoenix (HIATUS)Onde histórias criam vida. Descubra agora