Capítulo Vinte e Quatro

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Rain

"Anjo, calma... Tudo vai ficar bem. Qualquer coisa me liga, tá?" A voz de Trev ecoa pelo viva voz conforme eu dirigia sexta feira a tarde.

Eu tinha acabado de chegar em Londres e estava realmente pirando. Bastante. Admito até ter errado algumas ruas de propósito.

Ir para a casa onde eu fui criada era algo que eu fazia uma vez por ano, e apenas porque era obrigada. Fazer isso mais vezes não era algo que eu queria.

"Eu não vou fazer isso, Trevor. Vou voltar agora. Minha mãe vai brigar mas..." Trev interrompe meu chilique com um suspiro.

"Você não vai voltar. Vai ficar tudo bem, anjo. Você pode lidar com a sua mãe, tudo bem?" Ele diz, e a certeza na sua voz me acalma um pouco. Tudo bem. Eu podia fazer isso.

Viro o carro na rua da minha mãe. Respiro fundo e respondo Trev.

"Você está certo. Eu posso lidar com isso. Eu vou lidar com isso. Obrigada, Trev." Digo, e posso quase ver ele me dando aquele lindo sorriso torto que eu aprendi a amar.

"Nada, anjo. Me liga mais tarde, ok?"

"Ok" eu digo, parando o carro em frente a minha casa. Respiro fundo mais uma vez. "Eu tenho que ir agora, Trev."

"Isso aí. Essa é minha garota." Eu sorrio. Minha garota. Gostei do som disso. "Nos falamos mais tarde, anjo."

"Beijos." Eu desligo, e paro para analisar a casa onde cresci.

Engraçado, eu nunca realmente cheguei a pensar nesse lugar como um lar. Como minha casa. Eu sempre chamei de casa dos meus pais. Talvez porque nunca realmente me senti confortável aqui. Bristol era minha casa. Não aqui.

Me forço a parar o carro na vaga em frente a casa e respiro fundo mais uma vez. Falar com Trev não acabou com meu nervosismo, mas me acalmou. Eu gostei do jeito que ele me chamou de sua garota. Eu amei, na verdade. Me senti como se eu finalmente pertencia a algum lugar.

Saio do carro junto com a pequena mochila que trouxe e vou em direção a porta. A casa dos meus pais sempre foi intimidante. Uma mansão, para ser mais precisa.

Antes mesmo que eu tocasse a campainha, minha mãe abre a porta. Ela estava impecável, como sempre. Ao mesmo tempo que eu era uma cópia fiel da minha mãe, nós éramos incrivelmente diferente.

Nós duas tínhamos cabelos ruivos do mesmo tom, apesar do dela ser cortado curto e o meu ser longo, tínhamos olhos verdes do mesmo tom também, e ambas éramos baixinhas. Mas era aí que as semelhanças paravam. Nathaly cobria suas sardas e pele clara com maquiagem e bronzeamento artificial enquanto eu não fazia nada. Ela usava aqueles terninhos e saias que hoje estavam em um tom de salmão. Seu cabelo era incrivelmente penteado e liso. E eu... Bom, eu era apenas eu.

Minha mãe me olha de cima abaixo, franzindo o nariz ao ver o macaquinho jeans estilo jardineira que eu amava e a blusa curta preta. Sua careta apenas aprofundou ao ver o meu tênis.

Eu podia ter me vestido um pouco mais aceitável, na perceptiva da minha mãe, mas esse era meu pequeno ato de rebeldia.

"Rain. Tenho uma roupa apropriada para você em seu quarto." Ela diz isso, e entra, me deixando sozinha na porta. Essa era minha mãe.

Logo depois, porém, o mordomo da minha mãe, Fred Landon, aparece com um sorriso na minha frente. Sr Landon estava conosco a anos agora, e ele era a única pessoa nessa casa que eu amava. E que me amava também. Ele era mais um pai para mim do que meu próprio pai.

Eu retribuo o sorriso de bom grado e ele me abraça.

"Senti sua falta, garotinha." Eu sorrio com o apelido. Fred me chamava assim quando eu era pequena e nunca parou. Eu não queria que parasse.

"Também senti sua falta, Fred." Digo assim que nós afastamos. Ele sorri para mim e pega minha mochila.

Ele me guia para meu quarto enquanto eu dava uma olhada na casa. Eu sabia que não tinha mudado nada. Tudo estava perfeitamente no seu lugar, criando uma falsa idéia de perfeição.

Quando Fred abre a porta do meu quarto e põe minha mochila em cima da cama, eu sorrio em agradecimento. Ele retribui e me deixa sozinha no quarto.

Era exatamente como sempre foi. As paredes rosa, assim como a minha cama. Os móveis eram brancos, e mais algumas coisas rosa. Eu odiava rosa.

Suspiro ao ver a roupa que minha mãe deixou para mim. Um vestido lilás que batia nos joelhos e um salto prateado que eu chutaria ter uns dez centímetros. Poderia até ser considerado bonito por algumas pessoas, mas não por mim.

Pego meu telefone, e sorrio ao ver uma mensagem de Trev e duas ligações perdidas de Summ. Vejo a mensagem antes.

T: Lembra de me ligar qualquer coisa, ok? Estou sempre aqui por você, anjo. É só dizer e eu vou direto para aí.

Um sorriso aparece em meu rosto. Eu tinha visto que ele não queria vir, e eu não queria que ele conhecesse minha mãe ainda. Não agora. Mas achava fofo que ele ofereceu vir mesmo assim.

R: Eu vou ficar bem. Mas obrigada, de qualquer maneira. Te ligo depois, Trev.

Uma mentira, talvez. Mas quando a resposta vem imediatamente, eu sorrio.

T: Tudo bem, anjo. Não sinta muito a minha falta ;)

Eu rio baixinho e resolvo retornar a ligação de Summ.

"Ei, chica! Tudo bem aí com sua mãe?" Ela pergunta, e eu suspiro. Summ sabia muito bem sobre a minha situação com a minha mãe, já que ela veio comigo em uma das visitas anuais. Vamos apenas dizer que ela e minha mãe não se gostam.

"Se bem você diz ela já chegar mandando em mim e franzindo a testa para as minhas roupas, então sim. Tudo perfeito." Ela bufa, e, apesar de tudo, eu rio. Deito na cama, sem ligar se estou ou não amassando o vestido.

"Sem ofensas, mas eu odeio essa mulher." Ela diz, e eu rio novamente.

"Às vezes, eu também, Summ." Respondo, honestamente. "Mas Fred está aqui, de qualquer maneira. Talvez no meio da festa eu possa escapar e ficar com ele e Fiona na cozinha." Digo, e Summ ri.

Fiona era a faxineira da minha mãe. Eu amava a mulher. Ela e Fred eram basicamente quem cuidava de mim quando eu morava aqui. Talvez até os amasse mais que meus próprios pais. Summ e eu ficamos toda a nossa visita com ela ano passado. Minha mãe ficou mais que irritada.

"Vamos cruzar os dedos..." Ela diz, e eu solto outra risada. "Sabe que pode me ligar e eu apareço aí, certo? Não perco a oportunidade de mexer com a sua mãe." Ela diz, e eu realmente considero a possibilidade. Mas logo depois jogo o pensamento longe.

"Obrigada, Summ, mas eu acho que vou ter que lidar com o dia de hoje sozinha." Digo, e dou uma espiada no relógio. Cinco e meia. "Tenho que ir agora, Summ. O tal jantar é às sete, e minha mãe me mata se eu atrasar." Digo.

"Mata não." Ela diz, e eu posso ouvir o sorriso irônico em seu rosto. "Ela manda alguém fazer o trabalho." Eu rolo os olhos, mas rio mesmo assim.

"O que está fazendo, de qualquer maneira?" Pergunto ao escutar um barulho de música no fundo.

"Eu? Ah, nada de mais. Apenas saindo com mais um gostosão. Te vejo depois, Chica." Ela diz, e eu rio.

Assim que desligo o telefone, minha mãe entra no quarto sem bater. Típica Nathaly.

"O que está fazendo? Vai se arrumar. E sai dessa cama, está amassando o vestido." Ela diz, e sai do quarto.

Eu rolo os olhos, mas faço exatamente o que a querida mamãe mandou.

A questão era... Até quando eu faria?

Dark Twin - Dark Phoenix (HIATUS)Onde histórias criam vida. Descubra agora