Capítulo Dezoito

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Trent

"Hey, Trent." Escuto a voz de Conn, então subo o olhar para encontrá-lo encostado na minha porta. Eu sabia exatamente o que ele estava fazendo ali, mas não disse nada.

Eu temia o dia de hoje a um bom tempo. Todo o ano, nesse exato dia, é como se tudo estivesse acontecendo de novo. Ver Rain ontem me acalmou um pouco, assim como tê-la se contorcendo na minha mão. Mas eu não podia mais adiar.

Sair de seu apartamento ontem a noite foi um sufoco, já que ela parecia tão doce e inocente dormindo, e já que eu sabia o que me esperava, mas era preciso.

"Fala." Digo, me fingindo de sonso. Eu ponho a guitarra que eu tinha no colo de lado na cama. Vejo Connor suspirar.

"Está na hora, cara. Você sabe que tem que fazer isso." Eu suspiro em derrota, e pego meu telefone de trás do bolso. Connor se aproxima para sentar ao meu lado na cama.

"Não sei porque fazemos isso. Ela não vai atender, por mais que eu queira." Digo, e estou consciente da maldita dor na minha voz.

"Eu já te disse para ir atrás dela. Você não quis. Isso é o mínimo que deve fazer." Ele diz, e eu sei que cada palavra é a pura verdade. Seguro o telefone em minhas mãos, e apenas o encaro por alguns minutos.

"Você sente falta dela?" Pergunto, já até mesmo sabendo a resposta.

"Claro que sinto, T. A pirralha era como minha própria irmã." Eu fechei o olho e assenti. Connor apenas esperou enquanto eu tirava forças para discar o número.

Eu o amava por isso. Era o exatamente por momentos como esse que o cara era meu irmão. Eu sabia que tinha que fazer isso, e, sinceramente, não acho que poderia fazê-lo sozinho.

Disco os números que conheço com a palma da mão, e pressiono o telefone no ouvido. Com cada toque, meu coração pulava.

"Aqui é Violet Prince, deixe um recado depois do bip!"

Eu sorrio com a doce voz da minha irmãzinha. Deus, eu sentia sua falta. Suspiro, e começo a falar. Sinto a mão de Conn apertar meu ombro.

Eu não podia fazer isso com Aust ou Dame. Eram meus irmãos também, mas nenhum deles era tão próximo de V como Conn. Dame e ela eram amigos, sim, mas Conn era mais nosso irmão que Trevor. Sempre foi.

"Hey, pirralha. Só queria te dizer... Feliz aniversário. Vinte anos, ahn?" Eu suspiro, contendo lágrimas. "Eu sinto sua falta, V. Muito. Coisas vem acontecendo... Coisas que eu gostaria que você estivesse vendo comigo. A banda vem decolando, eu conheci uma garota."

Eu fico um minuto em silêncio, e Connor aperta mais meu ombro, em sinal de apoio. Era difícil saber que minha irmãzinha estaria escutando essa mensagem e ignorando, ou até mesmo deletando sem nem ouvir. Será que ela estava bem? Meu pai melhorou? Conseguiu um emprego? Está na faculdade?

As vezes, a única coisa que eu queria fazer era pegar um avião e ir direto para a minha cidade natal, forçar V a me ouvir, de alguma forma. Mas eu sabia que não iria adiantar. E, honestamente... Eu morria de medo. E vergonha.

Como eu poderia apenas voltar lá depois de ter saído sem olhar para trás? Como eu poderia olhar nos grandes olhos violeta da minha irmã, depois que eu a deixei sozinha ali?

Claro, ela me disse para ir embora. Ela me disse para eu ir. Eu tentei levá-la comigo, mas V é boa demais. Ela achava que poderia ajudar nosso pai. Fazê-lo voltar de qualquer que fosse o buraco que se enfiou. Quando eu disse que era apenas um sonho infantil, ela me disse para ir embora. E eu o fiz.

Não deveria, porém. Tinha que ter insistido mais, até a arrastado se precisasse. Ou ter ficado com ela, apesar de não conseguir me arrepender de não ter feito isso. Se eu ficasse naquela cidade, a banda nunca teria decolado, eu nunca teria conhecido Rain.

"Eu realmente sinto sua falta, irmãzinha. Feliz aniversário, ok? Lembre... A Phoenix vai sempre cuidar de você." Digo, e desligo o telefone.

Meus olhos estavam embaçados com lágrimas, mas aquelas eram lágrimas que eu não tinha vergonha de ter.

Connor me puxa para um abraço, sem falar nada. Ele sabia, tanto quanto eu, como era ficar sem aquela menina. E eu sabia muito bem que ele deixaria seu próprio recado mais tarde.

Eu boto o telefone no bolso, e depois de mais um aperto no ombro, meu amigo me deixa sozinho no quarto. Assim como fizemos nos últimos cinco anos. Era sempre assim. Ele me fazia ligar, eu dizia o que queria falar, lágrimas caiam de meus olhos, Connor me abraçava e saia.

Era por isso que ele era meu irmão. Desde quando estudavamos naquela maldita escola, ele era mais minha família do que meu próprio irmão gêmeo.

Tinha um tempo em que Trevor e eu éramos realmente amigos. Éramos irmãos. Fazíamos todas as bobagens que gêmeos tinham direito. Enganar as pessoas trocando de lugar. Era divertido.

Mas aí, quando tínhamos mais ou menos quatorze anos, V tinha nove, ele se tocou. Se tocou que nossa vida não era o que ele considerava boa. Se tocou que nosso pai nunca sairia do buraco em que se enfiou. E Trev não conseguiu lidar com isso.

Desde então, ele virou um completo babaca viciado em sexo. Era sua maneira de descarregar, eu acho. Transar com qualquer coisa que se movesse do sexo feminino.

E, na primeira chance que teve, em vez de tentar ajudar a família, ele roubou todas as nossas oportunidades e foi embora. Roubou as oportunidades de Violet. O dinheiro que liberamos do nosso avô quando atingimos dezoito anos não era pouco, e poderia muito bem nos tirar daquela merda. Tirar Violet daquela merda.

Mas ele pegou tudo. Cada centavo.

Eu estava preparado para ir na polícia ou algo assim. Ele tinha direito a aquele dinheiro, mas eu também. E eu teria ido. Mas Violet, minha doce e boa demais irmãzinha disse para eu não fazê-lo. Não queria ver seus irmãos brigando.

Então, por ela, eu não fiz. Trevor conseguiu usar aquele dinheiro e virou um fodido arquiteto. Rico para cacete.

Então, sim... Os caras com quem eu vivia agora, cada um deles eram mais meu irmão do que Trevor.

Dark Twin - Dark Phoenix (HIATUS)Onde histórias criam vida. Descubra agora