Capítulo 5: Achas que eu era a menina do caixão de vidro?

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Uma brisa vinda da janela refresca suavemente o meu rosto.

Abri os olhos e já era de manhã.

Apesar de tudo eu consegui dormir naquela noite. No quarto, ainda ninguém estava acordado.

Dirigi me á casa de banho para molhar a cara com o objetivo de acordar definitivamente e foi então que senti uma mão gelada no meu ombro.

_ Eu devo te uma explicação...

Virei me para trás e era a Vera.

_ Vem comigo. - disse ela

Confesso que estava muito triste com o que se tinha passado na noite anterior, mas, talvez a Vera soubesse se aquele relatório médico era realmente meu.

Vestimos os uniformes tentando fazer o menos barulho possível.

Saímos do quarto e dirigimos nos á biblioteca onde ainda não havia ninguém e podíamos falar a sós.

_ Na verdade eu não sei mais que tu. Limito me a ouvir e ver coisas e tirar as minhas conclusões.

_ Mas por favor diz me tudo o que sabes! Vera, estou tão perdida! - disse eu

_ Eu sei Leire! E acredita que tentei poupar te a isto tudo... Bom, como sabes, foi o meu avô que criou o "Luna". Eu nasci aqui e aqui estou desde então.

Eu sempre ouvi dizer que quem tinha criado o colégio foi o bisavô dela... Mas talvez me tivesse enganado...

_Quando eu era pequenina- continuou- com uns quatro anos, gostava de correr por esses corredores fora. Esse colégio era o meu castelo e eu senti a me a princesa! Por vezes eu ouvia e via coisas que não devia. Um dia entrei no quarto do meu avô, o vosso "quarto mistério".

_ Por isso que já sabias o que havia lá- disse eu.

_ Sim...Mais ou menos...

_ Vah continua! - pedi

_ Então decidi descer as escadas em espiral. Eu não era autorizada a fazê-lo, aliás, ninguém estava autorizado.

Lá em baixo era tudo escuro e humido. Mesmo assim eu não tive medo! Era uma maluca!  Fartei me de andar... Foi então que vi uma porta e vi que havia luz do outro lado. Quando abri fiquei muito feliz! Havia crianças! Mas estavam presas as camas por uma mão com correntes. Eu pensava que estavam de castigo e queria ajuda los para brincar com eles! Quando se aperceberam que eu estava no quarto eles começaram a gritar. Falavam línguas diferentes da minha. Eu não os percebia. Eles eram muito agressivos e gritavam tanto! Tinham marcas na pele e olhos estranhos. Eu comecei a ficar com calor e com o nariz a sangrar...

_ Não tiveste medo? Alguém te descobriu?- perguntei

_ Entrei em pânico e não conseguia abrir a porta. Foi então que apareceu o meu avô com máscara na cara a gritar " Vera! Vera! O que fizeste Vera! Incompetentes!".Eu não o estava a perceber eu não tinha feito nada.

_ E depois ?

_ Depois foi horrível... Levou me para outra sala. Era uma sala de operações. Vieram muitos médicos, gritavam números uns aos outros. Rasgaram a minha roupa e meteram me dentro de uma máquina.

_ Porque te fizeram isso?

_ Porque eu estava infetada com o vírus! Eu podia ter morrido 48 horas depois de ter estado em contacto com aquelas crianças... Fiquei lá em baixo cerca de dois anos em observações.

_ Que vírus era esse?

_ Não sei... Nunca descobri...- disse ela

_ Deve ter sido horrível.. Lamento imenso Vera. Mas, o que isso tem a ver comigo?

_ O teu pai trabalhava para o meu avô. Quando eu estava lá em baixo percorria todos os túneis e um dia voltei a ir onde não devia... Desci outro andar. Entrei numa sala muito bem decorada. Mais á frente havia umas cortinas meias transparentes e uma luz azul a piscar. Aproximei me super curiosa e vi uma especie de caixão em vidro com uma menina com mais ou menos a minha idade lá dentro. Acho que fiquei alí mais de meia hora a olhar para ela. Era linda! Tinha uns cabelos tão bonitos.. Derrepente chegou o teu pai. Fiquei muito assustada! Pensei que me ia punir mas em vez disso ele explicou me porque ela estava alí.

_ O meu pai? O que te disse? Quem era ela? -perguntei.

_ Disse me que ela se chamava Leire e estava muito doente. Lembro me que lhe perguntei se era filha dele e se estava morta, ele disse " Não querida, não é minha filha... Ela só está a descansar." Ele pediu me para nunca contar a ninguém que tinha visto a miúda. Pediu para ser o nosso segredo.

_ Achas que eu era a menina do caixão de vidro?

_ Penso que sim... Isso explica o relatório médico.

_ Mas se ela não era filha do meu pai não posso ser eu!- exclamei

_ Talvez não sejas filha do Eric... - murmurou ela

_  Não é possível! Obrigada por me teres contado tudo isso mas eu não acredito que a menina fosse eu. Mas como posso saber a verdade?

_ Talvez lá em baixo encontres algo que te ajude a saber se eras tu. Eu posso te ajudar. Desculpa tudo isto Leire!- Disse a Vera

_ Estás desculpada! Só precisas de explicar isto aos outros para eles perceberem e nos ajudarem.

_ Sim vou tentar.

_ Podes contar comigo Vera!- disse eu.

_ E tu comigo! Vamos descobrir a verdade!- disse ela

Os alunos começaram a descer para o pequeno almoço e vi a Francisca.

_ Leire! Leire!- gritou ela correndo até mim acompanhada pela Paula!

_ Minha pequenina linda! Dormiram bem?- perguntei eu

_ Sim!

_ Leire o Marcos está bem?- perguntou a Paula.

_ Acho que sim porque perguntas?

_ Ele ontem não me veio dar um beijinho de boa noite.. - murmurou

_ Ele estava ocupado... Muito ocupado a estudar para um teste muito importante! - menti eu para a deixar descansada - É melhor irem tomar o pequeno almoço! Eu já lá vou ter!

Olhei para a minha irmã... Ela só me tinha a mim e eu tinha de descobrir a verdade por nós!

Pus as mãos na minha cabeça.

Não sabia o que pensar, não sabia o que se passava com a minha vida.

O que pensar sobre mim!? Sobre os meus pais! Sobre a minha vida!

Eu não vos sei explicar como estava... Não há palavras para descrever!

Tinha uma vida quase perfeita e de um dia para o outro deixei de a ter, deixei de me conhecer a mim e á minha família.

Mas onde estava metida? O que tinha feito para merecer essa confusão?

Eu queria saber a verdade sobre mim! Queria saber o significado do relatório, queria saber quem era a menina!

Mas onde devia eu procurar respostas? Telefonar aos meus pais? Contar lhes tudo? E se isto não passasse de uma mera coincidência?

Algo estranho se passava, disso eu tinha certeza!

Era como um pressentimento...

Eu tinha quase a certeza que aquele relatório me pertencia e estava decidida a procurar a verdade sobre mim! Leire Novoa!

LeireOnde histórias criam vida. Descubra agora