Uma brisa vinda da janela refresca suavemente o meu rosto.
Abri os olhos e já era de manhã.
Apesar de tudo eu consegui dormir naquela noite. No quarto, ainda ninguém estava acordado.
Dirigi me á casa de banho para molhar a cara com o objetivo de acordar definitivamente e foi então que senti uma mão gelada no meu ombro.
_ Eu devo te uma explicação...
Virei me para trás e era a Vera.
_ Vem comigo. - disse ela
Confesso que estava muito triste com o que se tinha passado na noite anterior, mas, talvez a Vera soubesse se aquele relatório médico era realmente meu.
Vestimos os uniformes tentando fazer o menos barulho possível.
Saímos do quarto e dirigimos nos á biblioteca onde ainda não havia ninguém e podíamos falar a sós.
_ Na verdade eu não sei mais que tu. Limito me a ouvir e ver coisas e tirar as minhas conclusões.
_ Mas por favor diz me tudo o que sabes! Vera, estou tão perdida! - disse eu
_ Eu sei Leire! E acredita que tentei poupar te a isto tudo... Bom, como sabes, foi o meu avô que criou o "Luna". Eu nasci aqui e aqui estou desde então.
Eu sempre ouvi dizer que quem tinha criado o colégio foi o bisavô dela... Mas talvez me tivesse enganado...
_Quando eu era pequenina- continuou- com uns quatro anos, gostava de correr por esses corredores fora. Esse colégio era o meu castelo e eu senti a me a princesa! Por vezes eu ouvia e via coisas que não devia. Um dia entrei no quarto do meu avô, o vosso "quarto mistério".
_ Por isso que já sabias o que havia lá- disse eu.
_ Sim...Mais ou menos...
_ Vah continua! - pedi
_ Então decidi descer as escadas em espiral. Eu não era autorizada a fazê-lo, aliás, ninguém estava autorizado.
Lá em baixo era tudo escuro e humido. Mesmo assim eu não tive medo! Era uma maluca! Fartei me de andar... Foi então que vi uma porta e vi que havia luz do outro lado. Quando abri fiquei muito feliz! Havia crianças! Mas estavam presas as camas por uma mão com correntes. Eu pensava que estavam de castigo e queria ajuda los para brincar com eles! Quando se aperceberam que eu estava no quarto eles começaram a gritar. Falavam línguas diferentes da minha. Eu não os percebia. Eles eram muito agressivos e gritavam tanto! Tinham marcas na pele e olhos estranhos. Eu comecei a ficar com calor e com o nariz a sangrar...
_ Não tiveste medo? Alguém te descobriu?- perguntei
_ Entrei em pânico e não conseguia abrir a porta. Foi então que apareceu o meu avô com máscara na cara a gritar " Vera! Vera! O que fizeste Vera! Incompetentes!".Eu não o estava a perceber eu não tinha feito nada.
_ E depois ?
_ Depois foi horrível... Levou me para outra sala. Era uma sala de operações. Vieram muitos médicos, gritavam números uns aos outros. Rasgaram a minha roupa e meteram me dentro de uma máquina.
_ Porque te fizeram isso?
_ Porque eu estava infetada com o vírus! Eu podia ter morrido 48 horas depois de ter estado em contacto com aquelas crianças... Fiquei lá em baixo cerca de dois anos em observações.
_ Que vírus era esse?
_ Não sei... Nunca descobri...- disse ela
_ Deve ter sido horrível.. Lamento imenso Vera. Mas, o que isso tem a ver comigo?
_ O teu pai trabalhava para o meu avô. Quando eu estava lá em baixo percorria todos os túneis e um dia voltei a ir onde não devia... Desci outro andar. Entrei numa sala muito bem decorada. Mais á frente havia umas cortinas meias transparentes e uma luz azul a piscar. Aproximei me super curiosa e vi uma especie de caixão em vidro com uma menina com mais ou menos a minha idade lá dentro. Acho que fiquei alí mais de meia hora a olhar para ela. Era linda! Tinha uns cabelos tão bonitos.. Derrepente chegou o teu pai. Fiquei muito assustada! Pensei que me ia punir mas em vez disso ele explicou me porque ela estava alí.
_ O meu pai? O que te disse? Quem era ela? -perguntei.
_ Disse me que ela se chamava Leire e estava muito doente. Lembro me que lhe perguntei se era filha dele e se estava morta, ele disse " Não querida, não é minha filha... Ela só está a descansar." Ele pediu me para nunca contar a ninguém que tinha visto a miúda. Pediu para ser o nosso segredo.
_ Achas que eu era a menina do caixão de vidro?
_ Penso que sim... Isso explica o relatório médico.
_ Mas se ela não era filha do meu pai não posso ser eu!- exclamei
_ Talvez não sejas filha do Eric... - murmurou ela
_ Não é possível! Obrigada por me teres contado tudo isso mas eu não acredito que a menina fosse eu. Mas como posso saber a verdade?
_ Talvez lá em baixo encontres algo que te ajude a saber se eras tu. Eu posso te ajudar. Desculpa tudo isto Leire!- Disse a Vera
_ Estás desculpada! Só precisas de explicar isto aos outros para eles perceberem e nos ajudarem.
_ Sim vou tentar.
_ Podes contar comigo Vera!- disse eu.
_ E tu comigo! Vamos descobrir a verdade!- disse ela
Os alunos começaram a descer para o pequeno almoço e vi a Francisca.
_ Leire! Leire!- gritou ela correndo até mim acompanhada pela Paula!
_ Minha pequenina linda! Dormiram bem?- perguntei eu
_ Sim!
_ Leire o Marcos está bem?- perguntou a Paula.
_ Acho que sim porque perguntas?
_ Ele ontem não me veio dar um beijinho de boa noite.. - murmurou
_ Ele estava ocupado... Muito ocupado a estudar para um teste muito importante! - menti eu para a deixar descansada - É melhor irem tomar o pequeno almoço! Eu já lá vou ter!
Olhei para a minha irmã... Ela só me tinha a mim e eu tinha de descobrir a verdade por nós!
Pus as mãos na minha cabeça.
Não sabia o que pensar, não sabia o que se passava com a minha vida.
O que pensar sobre mim!? Sobre os meus pais! Sobre a minha vida!
Eu não vos sei explicar como estava... Não há palavras para descrever!
Tinha uma vida quase perfeita e de um dia para o outro deixei de a ter, deixei de me conhecer a mim e á minha família.
Mas onde estava metida? O que tinha feito para merecer essa confusão?
Eu queria saber a verdade sobre mim! Queria saber o significado do relatório, queria saber quem era a menina!
Mas onde devia eu procurar respostas? Telefonar aos meus pais? Contar lhes tudo? E se isto não passasse de uma mera coincidência?
Algo estranho se passava, disso eu tinha certeza!
Era como um pressentimento...
Eu tinha quase a certeza que aquele relatório me pertencia e estava decidida a procurar a verdade sobre mim! Leire Novoa!