Foi um dia de aulas normal até aproximadamente as cinco da tarde. Entre a hora do lanche e o jantar ninguém sabia da Vera.
Quando o Ivan acabou as aulas-extra contamos lhe o que se passava e foi então que ele disse que, pela manhã, teria encontrado um recado da Vera na nossa porta destinado a mim.
Ele disse que talvez ela tivesse saído do colégio para tratar de algum assunto.
Foi então que ouvimos a Isabel gritar desesperadamente por ajuda.
Quase todo o colégio deixou os dormitórios para ver o que se passava. Era uma grande confusão, pareciam formigas!
Descemos o mais rápido possível as escadas e tentamos passar entre as pessoas.
Algo me dizia que a Vera não estava bem.
_ O que aconteceu? - perguntava eu, tentando perfurar a corrente de pessoas que enterrompia o acesso á antiga biblioteca, um lugar que pouca gente ou quase ninguém utilizava.
Quando finalmente consegui chegar me á frente, vi o pior cenário da minha vida.
Livros espalhados, sangue no chão, um corpo debaixo de um manto branco. O meu coração batia a mil e foi aí que um sentimento de culpa se apoderou de mim. Eu não sabia quem estava alí no chão, mas, não havia sinais da Vera desde á umas horas atrás e era só juntar os factos.
A diretora Blanca chega e agarra se á senhora Isabel.
_ Quem está alí Isabel? Quem está alí, por favor diga me que não é ela! - disse a diretora quase a chorar.
Foi então que a Isabel, muito atormentada e a chorar disse:
_ Filha, tem força!
Apertou uma última vez a diretora Blanca nos seus braços e foi então que tudo caiu.
A diretora já lavada em lágrimas, chegou se perto do corpo e levantou a parte lateral do manto vendo assim a mão da filha com as pulseiras que ela usava habitualmente.
Foi uma tortura ver esse sofrimento de mãe. Os gritos da senhora percorriam todo o colégio. A cada vez que ela gritava "Vera" o meu coração apertava se e a culpa que eu sentia aumentava. Ela estava num estado lastimável e tiveram de tira la dalí.
Era a Vera, a sua filha, aquela que na noite anterior tinha arriscado em contar me parte dos esquemas do seu avô e da sua sociedade, aquela que o meu pai tinha ameaçado de morte. Teria ele coragem para lhe fazer uma coisa daquela dimensão? Coragem para matar?!
Ouvimos boatos que seria um suicídio.
Subimos de seguida com o objetivo de encontrar o recado da Vera e comprovar que não seria um bilhete de despedida mas talvez um pedido de ajuda agora atrasado. A idéia de que ela teria sido ameaçada ou perseguida antes de morrer não me saía da cabeça. Mas talvez ela se tivesse mesmo suicidado..
Eu não sabia o que pensar, o que dizer. Quais seriam os motivos que levariam a Vera a acabar com a vida?
_ O papel está na primeira gaveta do armário. Vou levar a Julia apanhar ar- disse o Ivan limpando as lágrimas da Julia e abraçando a- vão indo que nós voltamos rapidamente.
_ Eu vou com eles- disse também a Carol.
Dentre eles os quatro, a Carol e a Julia eram as que estavam mais afetadas. Conheciam a Vera desde pequenas e mesmo se nesses últimos tempos a amizade entre elas não estivesse a 100%, elas gostavam imenso da Vera.
Já no quarto, o medo de ler o papel era muito. Aquelas eram as últimas palavras da Vera para mim e custava me imenso pensar que ela se tinha matado por causa disto tudo.
_ Isto custa me- confessei com o papel nas mãos. Eu estava a tremer imenso, quase não conseguia manter o papel nas mãos.
_ Podemos o ler juntos. Estou aqui contigo Leire!- exclamou o Marcos.
Sentei me ao lado dele e abri, ele colocou as suas mãos em volta das minhas com o objetivo de mantêlas firmes e foi então que comecei a ler :
"Estou a ser perseguida pelos testes e fui estudar. Se eu não estiver aqui a horas para a aula de artes, procurem a minha caixa de pintura no meu armário. Leire, aí está o teu pincel e podes finalmente acabar aquele quadro retratando o teu passado em família que me tinhas falado. Julia, Carol, Marcos e Ivan SU!
Vera Novoa"
Quando li não percebemos absolutamente nada, mas, depois tudo ganhou lógica.
_ Mas a Vera não tinha artes!- exclamou o Marcos- ela tinha biologia!
_ E eu não estou a pintar retrato nenhum! O que quer dizer SU?-perguntei
_ Uma espécie de lema que diziam entre amigos aqui no colégio.. Sempre Unidos.
_ Espera, ela começa por dizer que está a ser perseguida.. Talvez ela estivesse mesmo a ser perseguida!- exclamei
_ Talvez.. Por isso escreveu desta forma, para nos contar ou esplicar algo.
_ E, escreveu assim talvez para que, se por acaso os perseguidores encontracem o recado não o percebecem- murmurei
_ Sim! Oh meu Deus! Pobre Vera. - disse o Marcos
Continuei a percorrer palavra por palavra.. "Procurem a minha caixa de pintura no meu armário.."
_ Ela deve querer que procuremos alguma coisa no armário, talvez algo para ti porque de seguida ela fala para a Leire acabar o retrato de família- murmurou ele.
_ Então temos de procurar rápido. Se acham que foi suicídio vão vir procurar uma carta de despedida ou algo do gênero... Certamente a Vera deixou algo para nós e não para outros..- disse eu.
Abrimos o armário, estava tudo muito bem arrumado.
A Vera era muito organizada então já era de esperar ela ter as roupas arrumadas por cor e dobradas na perfeição.
Á primeira vista não vimos nada, tiramos tudo cuidadosamente para depois voltar a colocar do mesmo modo e nada, não encontramos nada.
Logo depois, o Ivan, a Julia e a Carol chegaram.
Mostramos o papel e explicamos as nossas "teorias".
Foi então que o Ivan agarrou numa grande tesoura que estava numa das nossas mesas, reabriu o armário e começou a tentar levantar a parte inferior.
Quando finalmente conseguiu tirar aquilo, chegamos nos todos para ver.
O Ivan chegou se para traz deixando cair a tesoura no chão.
E eu, não conseguia acreditar no que via!