Chegamos ao quarto. A Vera ainda não estava lá mas não tardou a chegar.
Quando entrou, olhou me nos olhos e percebeu que se passava alguma coisa.
_ Ainda estão acordadas?- perguntou ela disfarçando o nervosismo de nos encontrar alí assim.
_ Vera.. Eu vi o meu pai. Eu ouvi e vi o que te fez.
_ A mim?- disse ironicamente-Deves ter confundido... Os teus pais voltaram de Portugal?
_ Nós estivemos nos túneis Vera!- exclamou a Carol.
Ela sentou se na sua cama, passou a mão na cabeça e começou a chorar.
_ Vera, como é possível o meu pai estar aqui? Ele estava em Portugal!
_ Ele nunca esteve em Portugal. Esteve aqui!- disse ela
_ Aqui?- perguntei
_ Aqui nos túneis, a trabalhar para o meu avô.
_ Porque te ameaçou? Como sabes tanta coisa? Começa a falar!- gritou a Julia
_ Vera peço te por tudo! Não imaginas como estou a sofrer com isto! Estou completamente á deriva e só tu me podes orientar. Mais uma vez, peço te, conta me tudo o que sabes!- pedi.
Olhou me novamente nos olhos e a tremer disse:
_ Leire.. Se abro a boca eles matam me!
_ Eles quem?- perguntei
_ As pessoas para quem trabalho!- respondeu
_ Ninguém vai saber Vera! Fica entre nós! Só quero saber a verdade, percebes?
_ Percebo..
_Então FALA!- gritou novamente a Julia
Tentei acalmar a Julia e pedir para ele ser paciente com a Vera. Ela era a única pessoa que nos podia contar a verdade.
_ É muito complicado.- disse a Vera a chorar.
_ Prometo que não sai daqui!- disse eu
_ Confia em nós Vera- pediu a Carol.
_ Sim Vera pode confiar! Desculpa se me precipitei á pouco..- disse desta vez a Julia
Agora mais calma e pronta para falar, a Vera limpou as lágrimas e começou:
_Bom, quem comanda isto é o meu avô- começou por dizer- somos cerca de trinta pessoas a trabalhar para ele.
_ Trabalhar para ele como?- perguntou a Carol
_ Na SSBA.. Á uns anos, quando ainda trabalhava nos campos de concentração, o meu avô criou uma sociedade científica com o objetivo de analisar e criar virus. A idéia principal era ganhar dinheiro criando um vírus fraco que necessita se de tratamento. As pessoas contagiavam se e compravam medicamentos.
_ E instalaram se aqui no colégio?- perguntei
_ Sim, nos túneis subterrâneos do Luna. Assim podiam utilizar os órfãos para fazer experiências.
_ Então eles estão a ganhar dinheiro ilegal e a usar inocentes como ratos de laboratório?- questionei
_ Não, o vírus fraco tornou se forte e capaz de matar toda a humanidade. Por isso o vírus foi colocado no laboratório. Mas, foi possível descobrir uma forma de imunizar algumas pessoas caso ouvesse um contágio, e, aí é que tu entras- disse a Vera olhando para mim.
_ Eu?
_ Sim Leire. Quando eras pequena costumavas brincar nos túneis. Os teus pais trabalhavam para o meu avô e vocês passavam aqui maior parte do tempo. É normal que não te lembres e já vais perceber porquê. Um dia entraste nos laboratórios da SSBA <Schneider Sociedade de Biologia Anônima> encontraste o frasco do vírus e antes que alguém pudesse impedir te abriste o frasco e tocaste no líquido contagiando te.
_ Então estive doente? O vírus espalhou se?
_ Não se espalhou graças as nossas instalações que estavam preparadas para desinfectar automaticamente em caso de emergência. Mas os dois enfermeiros que te tiraram da sala, acabaram por morrer.
_ E eu? - perguntei
_ Tu foste a única a utilizar o antídoto que te tornava automaticamente curada e imune ao Vírus. Mas, para que a cura milagrosa acontecesse era necessário colocar te dentro de uma caixa de radioactividade, o caixão de vidro. Só te tiravam para fazer experiências, para saberem se o vírus estava realmente a desaparecer. Ninguém sabia se ias sobreviver depois de tanto tempo.
_ Eu fiquei quanto tempo dentro dessa caixa?
_ Três anos..
_ E eu reagia? Comia ou falava com alguém?
_ Estavas como morta. Não desenvolvias, ou seja, paraste naquela idade.
_ Eu tinha que idade quando isto aconteceu?
_ Três anos.. Leire, eles tiveram de mudar a tua data de nascimento.
_ Como? Como foi possível e porque o fizeram?
_ Tu tinhas três anos quando isto aconteceu e três anos depois estavas fisicamente igual! Tinham de fazer algo! O meu avô conseguiu alterar os teus registos através dos conhecimentos dele. A data que tens nos teus documentos é a data do contágio. Se isto não tivesse acontecido tu não tinhas dezasseis mas sim dezanove anos.
_ Ó meu deus! Como puderam esconder me isso!
_ Lamento Leire...Lamento imenso ser eu a contar te isto. Desculpa se não o fiz antes mas a minha vida está em jogo. Tu não sabes do que eles são capazes.
Sim, neste momento sei do que foram capazes. Não eram pessoas, eram monstros! Eram capazes de usar crianças para as suas experiências, criar vírus mortais, entre outras coisas. O Ivan tinha razão, eram como os Nazis! O que mais me dói no meio disto tudo é pensar como a Vera sofreu depois de nos ter contado isso. E, carrego essa dor comigo e carregarei para sempre.