Primeiro, a idéia da Vera era muito estranha! Segundo, como ela sabia o que eu estava a calçar se mal abria os olhos? E terceiro! Como ia eu passar por uma janela tão pequena?
Cruzei a perna, desapertei a bota e descalcei me.
Lembro me que nesse momento eu me concentrei ao máximo no vidro...
Levantei o braço, com a parte de traz da bota virada para a frente, investi toda a força possível e bati no vidro. Não partiu.. Voltei a fazer o mesmo e bati com mais força ainda! Repeti a ação umas cinco vezes e NADA!
_ Que RAIVA! -gritei desesperada
_ Leire concentra te por favor.. Tu consegues dar mais de ti! Eu sei que tu consegues! Vai..
Baixei a cabeça e comecei a chorar, eu sabia que não conseguia, eu sabia que não era forte o suficiente!
_ Não consigo! -exclamei
_Eu tenho a certeza que tu consegues!- exclamou a Vera mais uma vez- não desistas por favor, parte essa porcaria!
Não conseguia, já nem valia a pena tentar... Foi nesse momento que baixei os braços e olhei para a Vera com o objetivo de lhe dizer que já não havia nada a fazer...
Ela abriu bem os olhos, olhou para mim e disse:
_ O vidro é o alvo! Tenta só mais uma vez! Leire concentra te!- acalmou se um pouco e insistiu mais uma vez- O vidro é o alvo!-gritou ela
_ Não consigo! -respondi mesmo sem tentar novamente partir.
_ O VIDRO É O ALVO!- exclamou apertando a minha mão esquerda q estava livre.
Aquelas palavras entraram na minha cabeça e aumentaram a minha esperança de 8 a 80.
Olhei de novo para lá "O vidro é o alvo Leire.. O alvo!".
Essas palavras entoavam cada vez mais alto cá dentro, tão alto e tão forte que fiquei com os nervos á flor da pele.
Não havia explicação para a raiva que me assistia naquele momento!
O que se estava a passar comigo? Até conseguia ouvir o meu coração bater como nunca tinha ouvisto.
Fiquei muito vermelha, com muito calor, como se eu fosse um vulcão prestes a entrar em erupção.
Não me conseguia controlar, o cérebro não me obedecia, como se não fizesse mais parte do meu corpo! Simplesmente deixei me ir...
Levantei o braço, inclinei para traz e num movimento brusco descarreguei as minhas emoções! O vidro estalou e acabou por se despedaçar numa fração de segundos! Senti um alívio enorme! Olhei para a Vera e abracei a tão forte!
_Consegui! -disse eu- Vera! Consegui!
O seu sorriso disse tudo, foi o melhor agradecimento que me podia dar.
Ainda estava debilitada, penso que o efeito da anestesia ainda estava a passar...
_ Sentes te pronta para sair? -dei lhe a mão
_ Sim, sim! Sim! Vamos sair daqui!
_ Mas Vera tu ainda estás fraca, mal te mexes!
_ Vamos sair daqui! Não é seguro...
Tentei tirar todos os pedacinhos de vidro da parte inferior da janela, passei primeiro as pernas e deixei me deslizar até ao chão.
Com muita dificuldade, tirei a Vera e foi um alívio sentir me livre!
Depois de me acalmar, de respirar ar puro, olhei em volta... Não fazia a mínima idéia onde estava mas tinha a sensação de já ter estado alí...
A carrinha estava parada mesmo a meio de uma estrada da qual eu não conseguia ver o fim.. Do lado direito floresta e do lado esquerdo floresta!
As árvores eram bem altas e davam um ar sombrio á avenida, o sol passava escassamente por entre a folhagem e a neblina dominava no horizonte...
_ E agora ?
_ Não temos muita escolha, seguimos na estrada...- murmurou a Vera
E claro, foi isso que fizemos. Por mais de uma hora andamos pela estrada, o cenário era sempre o mesmo e não havia casas, nem cafés e não passavam carros para podermos pedir ajuda! Estávamos sozinhas na porcaria de uma floresta deserta...