Capítulo 3

81 9 14
                                    

Duas linhas não se cruzam atoa...

Naquela noite tive um sonho. Um sonho que não me foi muito surpreendente pois já havia sonhado outras vezes com a mesma pessoa. Já faziam alguns meses, desde que morava no Brasil, que venho tendo sonhos de vários tipos diferentes com a mesma figura, mas o mais agoniante disso tudo é que, eu nunca conseguira ver o rosto. Sempre essa figura masculina que aparecia para me proteger de algo, como um anjo, e fazia com que me sentisse mais viva nos sonhos do que na realidade, mas nunca conseguia ver o rosto, e, se conseguia não me lembrava ao acordar.

Dessa vez, sonhei que estava em um lugar muito bonito, um gramado lindo em que eu corria descalço por entre as flores. Haviam peônias, margaridas, girassóis, ipês, rosas... Sempre amei flores. Eu estava feliz, e sorria mais do que costumo sorrir. Meus cabelos estavam livres e eu usara um vestido longo e claro que balançava conforme o vento.

Era uma montanha, com arvores lindas que sombreavam os locais e haviam diversas borboletas sobrevoando em minha volta. De repente meu semblante mudara, e quando percebi estava a um passo de cair em um penhasco. Eu corri demais, sem me dar conta de para onde aquela montanha me levara. Eu não conseguia mais voltar, meus braços balançavam para trás numa tentativa desesperadora de me salvar, mas eu não conseguia. A agonia era tamanha que aquilo parecia real...

Senti um frio na barriga ao perceber que uma mão me puxara pela barriga, por trás. Era ele, o anjo. Como sempre, apareceu para me salvar, e a sensação de alívio também era tamanha que podia sentir como se fosse real e eu estivesse acordada. Quando me vi, estava abraçada à ele, envolvida pelos seus braços maiores que os meus, minha cabeça estava em seu peito e eu só consigo me lembrar de como me senti confortável e segura, como se mais nada pudesse me acontecer. Como se... o amasse.

_________________________________________

Acordei com uma preguiça incomum naquela manhã. Das 3 semanas em que chegara a Yale, acho que fiquei tão ansiosa em cada um dos dias e sem dormir, que o peso disso começou a aparecer agora. Eu me sentia estranhamente cansada, e, embora estava gostando daquela coisa de conhecer as disciplinas na primeira semana, senti vontade de permanecer ali, na cama. Assustei-me quando o celular tocou, por entre o cobertor...

Mensagem de: Mel

"Bom dia dorminhoca! Queria te dizer que não precisa me esperar no refeitório hoje. Brad e eu decidimos almoçar fora do campus, porque não teremos aula a tarde. Sei que combinamos, mas agora que tem a sua galera achei que não fosse se importar. Enfim, já saí porquê minha aula é mais cedo hoje, não se preocupe comigo e divirta-se! ahh, vê se arruma um gatinho! beeeeeijo, de sua Mel."

"Sua galera"... Tinha até me esquecido de que, agora não preciso que mel almoce comigo todos os dias para me fazer companhia. Sei que, ela queria e tinha outras coisas mais importantes para fazer, mas sempre abria mão disso para não me deixar sozinha.  

Levantei para me arrumar pensando no que mel havia dito ontem. Se eu contasse a ela sobre os sonhos que venho tendo, com certeza diria que estou louca, e que estou começando a misturar o mundo da escrita com a vida real. Sinceramente eu também não sei o que isso tudo significa... Desde que comecei a ter os sonhos, venho escrevendo sobre isso, sobre esse alguém, sobre esse amor, mas ninguém jamais vira, nem mesmo Júlia. 

Não sei bem como escrevera essas coisas sem ao menos estar amando alguém de verdade, mas, é tão real quando estou nos sonhos, nos braços dele, que é como se o sentimento existisse em mim. Isso me faz pensar... Será que Mel acha mesmo que sou como um "homem das cavernas"?! Ah, para quem estou querendo mentir... É claro que, eu gostaria muito de viver uma história dessas de amor forte e verdadeiro, mas isso não existe de verdade, e, se existe não tem a menor possibilidade de acontecer comigo. 

AuroraOnde histórias criam vida. Descubra agora