QUATRO (parte 2)

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Arthur Silva


Estaciono o carro em frente ao endereço que o Waze indica e, para a minha surpresa, a minha convidada já me espera parada em frente ao portão da sua casa. Das duas uma, ou ela estava ansiosa pelo nosso encontro ou ela queria se livrar o quanto antes disso. Para o bem do meu ego, eu fico com a opção um.

Desço do carro como o perfeito cavalheiro que sou, para abrir a porta do carona. Olívia diminui a nossa distância com passos firmes. E mais uma vez estou deslumbrado pela sua beleza natural: nada de maquiagem, nem mesmo um gloss toca os seus lábios rosados. Que cor eles assumirão quando eu a beijar? Seria rápido e quente ou lento e incendiário? Suas mãos envolverão o meu pescoço ou ela ficará estática deixando que eu a conduza? A escolha do vestido repleto de botões era proposital... Ela queria testar a minha paciência enquanto eu abria cada botão da peça? E os cabelos presos num coque desajeitado? Eu não via a hora de desmanchar o penteado e deixar os cabelos caírem sobre seu colo. Meus pensamentos seguem um ritmo acelerado e eu respiro fundo para controlar a situação. Tenho uma noite inteira para descobrir e vivenciar todos as respostas.

— Apesar de sua tentativa de não chamar a minha atenção, você falhou. Estou hipnotizado por sua beleza, Olívia.

— Hum... — ela hesita por alguns segundos — você não precisa dizer o que você acha que eu quero ouvir.

— Vamos ficar nesse jogo de gato e rato? — Me aproximo e ela recua, paro no meio do caminho. E seguindo o que aprendi no futebol, retorno a defesa e começo novamente o contra-ataque — eu seria um tolo se dissesse que mesmo usando a roupa da vovozinha você ainda está deslumbrante? — Olho descaradamente dos seus pés a sua cabeça, desejando ser o tecido que envolve o seu corpo.

Ela distribui o peso de um pé para o outro revelando a sua impaciência, e eu continuo a tortura e continuo a comê-la com os olhos.

— Para sua informação, a roupa é da mamãezinha — aponta para a o vestido com estampa de bolinhas brancas.

A roupa era releitura da moda dos anos 80, aqueles vestidos de busto marcado. Em qualquer outra mulher seria uma péssima escolha, visto que não se trata de uma festa temática, mas em Olívia a peça ganhava um destaque único, o vestido ressaltava cada parte do seu corpo escondida nas calças jeans.

— Minha mãe que fez.

— Então o vestido foi feito especialmente para esse encontro? — Ergo a sobrancelha sugestivamente.

— Não seja pretensioso — rebate sorrindo — eu jamais me daria a esse trabalho. Essa era a roupa que minha mãe fez para uma festa a fantasia, achei que combinava com o momento.

— Você realmente povoa a minha fantasia. — Jogo e espero a sua reação, ela permanece estática quando me aproximo, acaricio o seu rosto com delicadeza, ela não repele o meu toque, apenas deixa escapar um suspiro alto.

Uso a mão livre para tocar a sua cintura e puxá-la para mais perto. Inalo o seu cheiro e deslizo o nariz pelo seu pescoço. Prossigo a exploração, quero descobrir o que a faz suspirar mais alto, quando ela chama meu nome num sussurro eu sei que estou no caminho certo.

— Arthur! — Um grito estridente, parece despertá-la e ela me afasta com um empurrão — É ele mesmo, o Máquina Mortífera. — O garoto grita mais uma vez e faz sinal para que os outros se aproximem.

Segundos depois, estamos cercados de dezenas de meninos. Todos afoitos para dizer o quanto são meus fãs.

"Você poderia autografar minha bola?" "Meu sonho é ser um grande jogador como você!" "Você me dá uma chuteira nova?" "Arthur, bem que você poderia realizar nosso sonho em bater uma pelada com a gente." Uma mistura de vozes e pedidos chegam até os meus ouvidos, mas eu não consigo discernir quem falou o quê!

Segundo Tempo (DEGUSTAÇÃO)Onde histórias criam vida. Descubra agora