DOIS

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Arthur Silva


Não há lugar como nosso lar. Essa é a sensação que me domina toda vez que piso em solo brasileiro. Ainda que os últimos anos da minha vida tenham sido em terras europeias é aqui que eu me sinto verdadeiramente em casa. Aqui podia ser apenas o Arthur, o homem de origem simples que curte um churrasco enquanto joga conversa fora com os amigos.

E foi exatamente assim os meus dois primeiros dias. Celebrei com mus amigos e familiares, alguns eu nem lembrava mais que existia, e escutei inúmeros pedidos de presentes. Nessas horas minha mãe sempre tomava a dianteira e mudava de assunto enquanto eu respondia que veria como atendê-los.

Não é que eu tenha esquecido dos parentes depois que enriqueci. Muito pelo contrário, busquei ajudar a todos dentro do possível. Mas ainda assim os pedidos de ajuda se multiplicavam, sempre tinha um que pedia para eu divulgar o neto que estava iniciando na carreira musical ou o outro que implorava que eu o indicasse para um teste de elenco como jogador de futebol. As pessoas me viam com um elo para alcançar os seus anseios. Eles pareciam esquecer que até pouco tempo atrás eu era só mais um Silva tentando mudar de vida.

— Não acredito que você vai sair... — Minha mãe lamenta assim que surjo no alto da escada — eu mandei preparar o bolo de cenoura com calda de chocolate que você tanto gosta.

— Chantagem emocional não vale, dona Mirtes. — Ela sorri, aquele sorriso que ilumina todo o rosto, fazendo com que as marcas de expressão enalteçam a linda mulher que ela é. Uma mulher guerreira que junto com o meu pai abriu mão das suas vontades em prol do meu sonho.

Três vezes por semana seguíamos a nossa peregrinação até o centro de treinamento na zona Sul do Rio. Enquanto meu pai trabalhava para prover o sustento da família, minha mãe seguia comigo em busca do meu sonho em me tornar um jogador profissional. Dona Mirtes era a minha principal fonte de determinação. A cada vez que eu entrava em campo, sob sua bênção, sabendo que tinha um olheiro em busca de novos talentos, eu me esforçava ainda mais. Era por ela que eu me dividia entre os estudos e o futebol. Eu queria proporcionar uma vida confortável e digna para meus pais, eles mereciam o conforto de uma boa casa e os privilégios que o dinheiro trazia. Fora por eles, que eu me transformei no jogador que sou hoje, para compensar tudo que fizeram por mim.

Meu pai não viveu o suficiente para desfrutar do meu sucesso, ele faleceu em ataque fulminante do coração. A sua morte pegou todos nós desprevenidos, ele era um homem forte e saudável, que praticava atividade física regulamente. Na época insisti que minha mãe fosse morar comigo em Londres, mas ela recusou, não queria abandonar as crianças do Instituto que levava o meu nome.

Depois da morte do meu pai, cuidar do Instituto tornou-se o seu passatempo favorito. Além do mais, permanecer nessa casa era forma que ela encontrou de continuar conectada a ele.

Segundo Tempo (DEGUSTAÇÃO)Onde histórias criam vida. Descubra agora