Olívia Santos
Não dormi bem a noite porque todas as vezes em que fechei os olhos, enxerguei Arthur Silva. Então os mantive abertos pelo tempo que consegui, o pôster não ajudou, parecia que o próprio jogador estava me observando. E isso fazia meu corpo esquentar. Houve uma hora que precisei sentar de tão quente que o meu colchão parecia. Ele me deixava febril. Agora eu compreendia a legião de fãs que o cara tinha, ele encantava as pessoas, persuadia e fazia com que elas se apaixonassem pelo seu jeito. E a maior prova estava na minha casa. Não, não eu, mas os meus irmãos que eram fascinados nele. A cada dez palavras dos moleques, nove eram Arthur e dessa maneira ficava difícil não pensar no dito cujo.
Meu cérebro emite sinais insistentes de alerta para eu fugir, desde a primeira vez em que vi aquele homem, mas o que eu fiz? Andei na direção contrária e aqui estamos nós. Praticamente de quatro por um homem que nunca poderei ter. A não ser, é claro, na minha cama. Mas bem sei que isso não seria suficiente e só acabaria comigo.
Como se transa com alguém por quem se está apaixonado, sabendo que esse alguém vai para o exterior em poucos dias? Além disso, é provável que esse mesmo alguém queira apenas isso de você. E você, romântica incurável, se prometeu que se entregaria apenas por amor, muito provavelmente apenas ao seu marido, não foi?
É cilada, Olívia.
Jogo meus questionamentos do lado e foco na apresentação do seminário que farei em poucos minutos. O primeiro grupo está se apresentando e o próximo é o meu. Repasso mentalmente algumas informações e só me movo quando os aplausos para o grupo anterior cessam. Eu e mais três colegas seguimos para a frente da sala de aula, corro até o notebook e conecto o pen-drive com a apresentação.
Volto para o centro da sala e começo a minha fala. Sou responsável por introduzir o conteúdo do trabalho.
— Bom dia, nós vamos falar um pouco sobre Educação Popular — firmo meu olhar na parede branca, no fundo da sala, e deixo as palavras virem — escolhemos esse tema porque acreditamos, tal qual Paulo Freire, na "educação como Prática da liberdade". A Educação Popular é um método de educação que valoriza os saberes prévios do povo e suas realidades culturais na construção de novos saberes. Muitos tentam aponta-la como "Educação Informal", mas esclarecemos que é um equívoco. A E.P visa a formação de sujeitos com conhecimento e consciência cidadã. É uma estratégia de construção da participação popular para o redirecionamento da vida social...
Nesse momento apago da minha mente qualquer coisa sobre a minha vida pessoal e mergulho até a alma naquilo em que realmente acredito. Quando acabo minha parte, passo a palavra ao Álvaro que dá continuidade e, depois dele, os outros componentes do grupo. Nossa apresentação se encerra sob aplausos e eu volto ao meu lugar, satisfeita.
***
Depois de uma manhã inteira de aulas, um sanduíche como almoço e uma tarde tendo que substituir a professora titular, sem tempo para sequer ir ao banheiro, me sinto completamente acabada. Estou saindo da escola quinze minutos depois do horário porque tive que explicar para a coordenadora o que tinha ensinado aos alunos, o que com certeza me fez perder o ônibus. Quando piso na calçada vazia tudo que mais desejo é um par de asas para chegar em casa sem ter que me espremer para conseguir entrar em uma lata de sardinha.
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Segundo Tempo (DEGUSTAÇÃO)
RomanceUm jogo nunca está acabado até que o juiz apite o fim. Nem o amor. Prepare-se para o segundo tempo! AVISO IMPORTANTE: O Livro ficará completo para leitura até dia 17/12/18. Depois dessa data ficarão disponíveis apenas alguns capítulos de degustação...