TRÊS

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Olívia Santos

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Olívia Santos

Escuto o toque do meu despertador e finjo por mais alguns minutos que hoje é domingo. O meu único dia de folga, o dia em que posso me dar ao luxo de acordar depois das cinco e trinta da manhã e tomar meu café da manhã com mais calma enquanto converso com minha mãe e a atualizo sobre a minha semana. Mas hoje, infelizmente, não é domingo e a história da minha rotineira vida vai se repetir. Sempre se repete.

A morte repentina do meu pai quando eu tinha apenas doze anos, mudou o rumo da nossa família. Um dia meu ele saiu para trabalhar e não retornou para casa. Nessa época, o Carlos, meu irmão mais velho, e eu tínhamos o costume de esperá-lo no portão de casa, todas as noites. Sentados em dois banquinhos, aguardávamos ansiosos o momento em que ele surgia na rua e caminhava sorridente em nossa direção. Meu pai sempre trazia um sorriso no rosto, era um homem doce e carinhoso com a família. Bom pai e exímio esposo, ele era um homem querido pelos amigos e amado por todos, entretanto nada disso impediu que ele fosse alvejado com dois tiros durante um assalto.

Manoel Dias Santos, meu pai, não teve a sua história contada na TV pelos seus bons atos e sua dedicação a família, mas sim por que fora vítima de um assalto enquanto trabalhava como segurança de uma loja, no centro da cidade. Meu pai foi mais uma vítima de uma sociedade doente que mata mesmo quando a vítima não reage, ele não teve a oportunidade de ver os filhos crescerem. E a nós sobrou apenas recebê-lo de volta dentro de um caixão.

Desde que ele faleceu as coisas aqui em casa ficaram difíceis, precisávamos nos adaptar a sua ausência brusca e aprendermos a lidar cotidianamente com a saudade. Minha mãe precisou exercer uma jornada dupla de dona de casa e diarista, enquanto os filhos se dedicavam aos estudos. A educação sempre foi o lema dos meus pais, eles acreditavam veementemente na importância dos estudos nas nossas vidas, meu pai costumava dizer que essa era a única herança que ele poderia nos transmitir. Assim, minha mãe adotou o posto de chefe de família e assumiu a vela do barco até que Carlos concluiu o ensino médio e só então pode dividir com ela a função de ajudar a sustentar a casa.

Onde meu pai estiver, ele deve estar orgulhoso da nossa família. Passamos por muitos percalços, mas nos mantivemos unidos e sempre acreditando numa mudança de vida através da educação. O seu Manoel é a nossa fonte diária de inspiração, é o principal motivo pelas carreiras que Carlos e eu escolhemos seguir. Meu irmão formou-se em Educação Física e atualmente integra o quadro de funcionários do Estado, como professor. Os mais novos, Edu, doze anos, e André, , frequenta regularmente o ensino fundamental. Enquanto eu estou no quinto período de Pedagogia e a cada dia eu reafirmo o meu amor pelo curso. Amo lecionar e amo ainda mais saber que tenho a oportunidade de mudar vidas.

Mas, isso não impede que eu deseje dormir mais vinte minutos antes de começar a minha rotina. Todos os dias eu me divido entre a faculdade e o trabalho de professora auxiliar em uma escola particular, além de preparar o jantar enquanto oriento os meus irmãos na atividade escolar.

Segundo Tempo (DEGUSTAÇÃO)Onde histórias criam vida. Descubra agora