Eu ouço o som da água entrando em meus ouvidos, o som das bolhas de ar estourando. Penso em cada erro, em cada carta, de um baralho velho, que joguei errado.
Penso nos seus mistérios, qual seria a sua história? Por que você nunca me conta? Nós poderíamos voar em direção ao mundo todos os dias, se você não acreditar no errado.
Não me diga, meu amor, como é o certo. Me obrigue ir mais forte, a tentar por mais tempo. Tudo que você diz me faz querer pular, então venha até mim, não me diga um talvez. Grite tudo que acredita. Não suporto tentar desvendar seus mistérios. Todas as pessoas passam muito tempo olhando para seus olhos, quando na verdade o que importa são seus respingos.
Me dê um minuto, me deixe achar você. Eu sou apenas um cara, que tenta parar de voar, assim que pensa em você. Se a água não mais te ajudar, suma, sem nem esperar. Se tudo escurecer e secar, pule! Vai faltar ar em seus pulmões, assim como nos meus, e eles vão gritar todos os dias, assim como os meus.
Tenho certeza que assim que você ouvir a água ao mergulhar, você vai lembrar de tudo que realmente era a gente. Eu corria e pularia do maior penhasco para te tirar por um minuto da minha mente. Admita, você acredita em mim, você quer, mas não vem, por saber que muitas pessoas demoram.
E então dou um impulso para cima, buscando meu lugar em um último minuto. Por favor, não me diga o que fazer. Me sento na borda da piscina, sinto o ar congelar cada gota que restou. O vento tira toda a verdade, me deixa nu, faz com que seja mais fácil você entrar, e eu fico nesse círculo vicioso que no fim, só dá você. Eu poderia viver com os teus respingos, mas você só pensa em morrer com meus incontáveis acontecimentos.
- Vai ficar aí olhando pro nada? - grita a voz e o ser ao qual ela pertence repousa, suavemente, uma toalha em meus ombros.
Aquilo aquece, e a voz continua, muda e se arruma de uma estranha rouquidão, mas ainda assim eu não mudo meu foco. Continuo olhando para as árvores que estão logo após a água. Continuo voando por você, tentando mergulhar em você.
A voz desiste, se afasta, diz que não sou mais como antes. A voz sempre está certa, ela me conhece tão bem, muito melhor do que você, qual o motivo para nunca a ouvir? Eu tento dizer que não, mas é sempre você. Você disse que me odeia, mas você não acredita nisso. Seus olhos não desviaram dos meus quando proferiram tais palavras, eu sei que você está mentindo. Um último minuto, e você poderia dizer coisas em que realmente acredita. Um último respingo, e eu poderia dizer que sei tudo que sei.
Mas no fim tudo isso rasga, tudo isso mata. E a água, ela arde, me faz sentir todas as dores de novo, ela cicatriza.
O tecido da toalha começa a incomodar, coçar e arranhar minha pele. Então eu simplesmente deixo com que ela escorregue em direção ao chão. Eu não tenho idéia do que fazer para desvendar alguma coisa, para no fim, só voltar pra água e tentar pensar. Tentar mergulhar.
Dou um pulo e tudo volta ao normal, as feridas se abrem e a água voa e cai de novo. Queria saber a verdade, queria não me enganar com momentos que nem são tão contratempos assim. Depois que eu mergulhar em você isso tudo passa? Depois que eu abrir meu olhos e deixar de voar isso corre pra longe? Depois que eu planejar minhas cartas você vai embora de vez? Ou vai simplemente ficar aqui vivendo em meio aos meus inúmeros pensamentos que giram em torno de você?
Respiro o ar novamente, meu corpo permanece mergulhado, e minha cabeça permanece em tentar te esquecer. Horas se passaram em minha mente, mas minutos são a realidade. Me retiro da água decidido a deixar você ali, decidido a não mais voltar. Pego a toalha, seco o cabelo, a coloco em meu ombro direito e sigo em frente. Pronto para não voltar amanhã, pronto para deixar você na água, para você se afogar e mergulhar em si mesma. Mas, todas as manhãs, antes de aulas chatas, com contas desesperadas, eu volto e te tiro da água. Suas memórias estão um pouco afogadas, mas vivas. É sempre a mesma rotina, e nem é tão ruim, mas deveria.
Então eu sigo, com os pés molhados, e os joelhos avermelhados, de tanto tentar encontrar abrigo. Mas a verdade é que eu fico, só não admito. Continuo mergulhado em você.
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Coisas Estranhas Da Minha Mente.
Literatura FaktuJá parou pra pensar que as vezes dizemos coisas que não estavam em nossos planos, pensamos em atitudes cruéis e nós nos importamos com coisas não importantes. Já parou pra observar como perdemos tempo, como perdermos a nós mesmos. Já pensou na pos...