Uma ducha

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Amar alguém é idêntico a tomar uma ducha. Você abre o registro com medo da água estar fria demais, ou quente demais, você hesita em entrar de baixo dela, você vacila quando ela te toca. E você se assusta, pois, em alguns momentos, ela é fria demais, em tantos outros, ela queima a tua pele e te arranca defeitos de dentro. Mas aí você se acostuma, entende que ela vai mudar e se revelar a cada segundo. 

 Mas então, sua pele começa a enrugar, a ficar dormente, e sua cabeça até dói de pensar que pode ser que esteja acabando. O shampoo cai nos teus olhos e os fazem lacrimejar. O sabonete te causa pequenas alergias, e você pede para sua família não comprar mais daquela marca, mas teus pais gostam do cheiro que deixa em si mesmo. Tudo isso começa a somar. 

 Quando estamos quase chegando ao fim a gente só deixa a água bater por mais um minuto antes de fechar o registro. A gente só espera com que uma força estranha venha até nós, e ela até demora, mas em algum momento ela vem.

 O problema de que amar alguém é igual a tomar um ducha é que, duchas terminam, a água acaba, o shamppo desce pelo ralo e o condicionador nem hidrata tanto assim seu cabelo. O problema de que amar alguém é igual a tomar uma ducha é que, esquecer alguém também é. É triste pensar nisso, é triste quando conhecemos a hora de fechar o registro, simplesmente dói tudo isso. Mas a nossa pele ressecada também machuca, a alergia causada pelo sabonete, o shamppo em teus olhos, as marcas que a água muito quente deixa, e os pelos arrepiados pela água fria cansam. 

 E então, um dia, a gente fecha o registro e vai embora para longe de tudo aquilo.

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