Prólogo

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Completamente hipnotizada era como ela se sentia ao ver-se sobre o escrutínio daquelas profundezas esverdeadas.

— Você não pode me deixar dessa maneira — choramingou aconchegando mais o rosto nas mãos deliciosamente quentes.

— Desde o início, sabíamos que não duraria muito — ele tentou confortá-la trazendo à memória o conhecimento de quão tudo aquilo era finito.

— Mas antes sempre havia um amanhã. Agora só nos restam poucos minutos — argumentou angustiada.

A mulher aconchegou a cabeça no peito do homem e inspirou o perfume exótico que a encantou tão logo o sentiu.

Sabia o quanto tudo aquilo era errado.

Ele estava noivo e ela namorando, mas todo o envolvimento deles muitas vezes se mostrava tão etéreo que ela se esquecia de sentir-se culpada. As poucas vezes que ele a havia beijado fora apenas um roçar de lábios para tentar aplacar mesmo que minimamente a sede que um sentia pelo outro.

Sabia que ele não pertencia a ela e nem ela a ele.

E ele estava indo embora.

A luz do sol da manhã era cristalina e eles se escondiam no bosque que margeava sua casa.

A despedida era triste e o sentimento de vazio assolava seu peito, deixando um ar de desesperança.

— Tome isto — o homem falou tirando algo do bolso de suas calças e depositando nas mãos trêmulas dela. — Se um dia quiser me ver novamente.

A jovem mulher olhou para a pedra que possuía em mãos.

— Te ver? — perguntou sentindo o coração inflar com aquela possibilidade.

— Sim, só é necessário que o deseje — ele esclareceu com a voz embargada. — Mas seria por poucos minutos, pois, eu não poderia mantê-la comigo.

Ela tirou os olhos negros da pedra e os fixou na face da qual havia decorado cada traço.

— Não seria o suficiente e só serviria para aumentar a minha dor — explicou voltando à desesperança de antes.

— É tudo o que eu posso lhe oferecer — ele disse levando uma das mãos ao rosto feminino e acariciando a bochecha rosada. — Eu gostaria de poder vê-la mais uma vez — admitiu.

— Eu não poderia fazer isso comigo mesma — a mulher falou deixando lágrimas escorrerem. — Eu não suportaria outra despedida. Seria o meu fim.

Ela estendeu a pedra para que fosse recolhida, mas ele gentilmente fechou a mão dela em torno do objeto e disse:

— Guarde com você como lembrança, ou caso mude de ideia.

Ela concordou com um aceno de cabeça e levou a pedra junto ao peito.

— Eu preciso ir — o homem anunciou secando as lágrimas que escorriam pelo rosto feminino. — Sempre me lembrarei de você — segredou.

— Também sempre me lembrarei de você — ela sussurrou em resposta.

Aproximando-se dela, ele depositou um suave beijo em sua testa com todo carinho e devoção que por ela tinha. Após acariciar brevemente os cabelos castanhos, afastou-se abrindo uma distância que se apresentava insuportável.

— Adeus — ela disse sentindo o corpo convulsionar pela força das lágrimas que a arrebataram.

— Adeus — ele sussurrou olhando-a intensamente por saber que nunca mais a veria.

E como se nunca houvesse de fato existido, ele sumiu bem diante dela, como uma faísca que belamente abençoa aos olhos com seu brilho, mas logo fenece, deixando apenas a lembrança fugaz de sua presença.

Além do Bosque (Degustação)Onde histórias criam vida. Descubra agora