Capítulo 4

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Maria surpreendeu-se ao entrar no salão, deixando seus olhos vagarem pelos detalhes impecáveis e pelas dimensões monumentais.

Uma espécie de nave central era o destaque, separada por colunas das naves laterais. O teto estava a vários metros do chão e, ao fundo, um imenso vitral com uma paisagem idílica ocupava toda a parede do meio, emitindo uma luz colorida para todo o ambiente. Bem no alto das paredes laterais haviam janelas seladas apenas por grades, por onde entravam vegetações que desciam sinuosamente até chegarem ao piso; este continha uma brancura e uma limpidez surpreendente que refletia todo o ambiente em volta, transmitindo a sensação de que deslizavam em um lago de águas puríssimas. Uma mesa muito comprida de madeira clara, talhada de forma rústica, ocupava o centro do salão. Nela cabiam muitas pessoas e era nos últimos lugares, bem ao fundo do ambiente, que eles se encontravam.

Aryon andou em direção aos outros elfos e se sentou na extremidade da mesa em meio a eles. Maria não demorou muito para perceber que os três que estavam ali eram os mesmos que lhes deram as "boas-vindas" ao acordar, com exceção da Wyn, que claramente não estava ali.

Ela tentou dar uma vislumbrada nas pontas das orelhas deles mesmo estando longe, mas ainda assim Maria as pôde ver. Já estava na hora de aceitar o que era evidente, mas a hipótese de alucinação ainda lhe parecia muito atraente.

Em pé na extremidade oposta da mesa, ela ficou encarando os quatro sem saber o que fazer. Resolveu se desenrolar da coberta que já estava sendo usada como um escudo. Tirou-a dos ombros e a dobrou de um jeito desengonçado colocando-a em cima de uma das cadeiras ao lado, depois levantou o olhar para eles enquanto torcia os dedos a frente do corpo.

— Aproxime-se, por favor. — A elfa que havia ouvido chamar ao Aryon de filho se pronunciou, sua voz era doce e encorajadora, sendo sua semelhança com a Wyn gritante.

Ela estava sentada à direita dele enquanto Anar estava a sua esquerda, seguido pela elfa que Maria desconhecia o nome.

— Sente-se aqui — ela apontou para a cadeira a seu lado e ofereceu um sorriso brando.

Maria contornou a mesa e foi em direção a elfa com relutância, quando chegou perto deles, olhou para Aryon que estava encarando-a impaciente. Arrastou a cadeira meio sem jeito e se sentou.

A jovem então se questionou se seria simples assim. Ela se sentaria em uma mesa e conversaria normalmente sobre tudo o que aconteceu, com uma elfa simpática lhe sorrindo. Maria não poderia reclamar daquela situação, as coisas estavam bem diferentes do que ela imaginou e do que o Aryon fez parecer.

— Meu nome é Laurea — a elfa disse fazendo com que Maria a olhasse novamente. — E como você se chama?

— Maria — ela respondeu tentando retribuir o sorriso que recebia.

Ela decidiu que gostava da elfa, Laurea tinha lindos olhos violetas inumanos que brilhavam sabedoria e doçura. Em comparação às orelhas, os olhos de cores incomuns não mais a perturbavam.

— Nome bonito, Maria — ela observou e seguiu apresentando o restante do grupo. — Este é o meu filho Aryon com quem você já teve maior contato, ele é o nosso atual regente, nosso Tur Kaano — disse como se aquilo fizesse algum sentindo para a humana e apontou para ele que não se deu nem ao trabalho de levantar os olhos para vê-la. — Este é Anar, nosso primeiro conselheiro e esta é Ávelis, nossa segunda conselheira. — Maria olhou a ambos que lhe cumprimentaram com um aceno de cabeça. — Gostaríamos que você nos contasse um pouco sobre o que exatamente te trouxe até aqui, como você conseguiu vir e o que você espera conseguir. Tudo bem? — concluiu ela com um sorriso amável e encorajador.

Maria ficou um instante olhando a elfa tentando organizar os acontecimentos para que pudesse falar coisas coerentes. Era preciso ser clara ao relatar o que se passou se não quisesse voltar para aquelas celas. Pontuou em sua mente a ordem das coisas e após dizer para si mesma que tudo ficaria bem, começou a contar tudo que havia ocorrido, desde sua planejada viajem até acordar atordoada naquele quarto. Enfatizou principalmente o fato do seu total desconhecimento sobre todo aquele mundo com o qual agora se deparava e até sua dificuldade de acreditar que aquelas coisas estavam de fato acontecendo.

Além do Bosque (Degustação)Onde histórias criam vida. Descubra agora