Quando Maria o viu sumir pelas escadas acima, sentiu as lágrimas quentes jorrarem por seu rosto mais uma vez. Não sabia o que aconteceria com ela, não sabia quem eram aquelas pessoas, e para melhorar toda a situação, sua cabeça doía agonizantemente.
Ela olhou para a pequena janela que ficava além de seu alcance e observou a pouca luz solar que passava por ali, a chuva já cessara e o sol brilhava lá fora.
Sentia frio, e na busca por calor, sentou-se na pequena parcela do chão aonde a luz do sol chegava, levando os joelhos ao peito e apoiando a cabeça neles.
A luz mudava de posição conforme o sol seguia sua rota no céu, e a jovem se adaptava na ânsia de não perder o calor. Sentia que morreria ali, não fazia ideia de como ainda conseguia se manter consciente.
A exaustão foi tomando conta dela e Maria não tentou resistir. Encolhida em um canto buscando se esquentar nos últimos resquícios da luz solar, se deixou levar pelo peso que sentia em todo o corpo e rapidamente adormeceu.
[...]
— Rã rã...
A jovem levantou a cabeça rapidamente em direção ao barulho que ouvira. Devido ao movimento brusco sentiu-se tonta não conseguindo ver com nitidez.
— Oi!
Ao ouvir o cumprimento inesperado, respirou fundo tentando acalmar a zonzeira. Quando conseguiu enxergar, viu que o lugar estava completamente escuro, a não ser por uma vela que iluminava significativamente em volta. Olhou com mais atenção e viu que quem estava ali agachada e segurando as grades, olhando para ela com olhos enormes e curiosos, era a menina que havia visto mais cedo.
Maria limpou a garganta e tentou falar:
— Olá — sua voz saiu rouca e baixa.
— Você está se sentindo bem? — A preocupação da garota era evidente e Maria se limitou a balançar a cabeça negando.
A menina virou para trás procurando algo que imediatamente estendeu a jovem.
— Trouxe para você, pois, deduzi que estivesse com frio. Apesar de hoje o sol ter aparecido, o dia não foi dos mais quentes. As fadas invernais fizeram uma bagunça!
Maria estranhou o fim daquele comentário, mas mesmo assim com relutância estendeu a mão e pegou o que lhe era oferecido. Vendo ser uma coberta, esqueceu-se do receio, passando-a pelos ombros e se enroscando nela com ânsia.
A menina virou-se novamente para trás e foi então que a jovem percebeu que a garota havia trazido uma bandeja, pegara um copo de água e o oferecia. Maria bebeu avidamente e depois mais os outros dois copos que lhe foram entregues.
Em seguida, a menina colocou um prato cheio do que lhe parecera biscoitos ao alcance dela do lado de fora da cela. A jovem olhou o prato e depois olhou a menina que balançou a cabeça incentivando-a.
— É para você — disse com um sorriso no rosto.
Maria imediatamente começou a comer os biscoitos com rapidez, não conseguindo nem sentir o gosto do alimento, pois, a fome que sentia não a permitia mais que isso.
— Meu nome é Wyn.
Maria olhou a menina que continuava sorrindo com seus olhos grandes fixando-a, e percebeu estar sendo um pouco mal-educada.
Limpou a garganta e tentou falar novamente.
— Hã... desculpe, me chamo Maria.
— Maria? Ma... ri... a..., Mariaaa, gostei! — Wyn disse testando os sons do nome. — Nunca ouvi — ela observou colocando um dedo na boca como se estivesse pensando.
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Além do Bosque (Degustação)
RomanceEm um passeio nostálgico pelo bosque que enriquecera sua sonhadora e solitária infância, a tímida Maria vê-se inquietantemente surpresa ao ser arrebatada para um lugar misterioso que mostra-se muito além do que até então ela acreditava ser realidade...