A diferença entre nós e eles?
Temos firmeza de propósito. Eles tem um propósito firme. Respeitamos o inimigo caído. Eles vêem uma oportunidade de alcançar lugares mais altos. Fazemos o que é saudável. Eles fazem o que lhes parece melhor.Acho que no fundo, não é uma questão de atitude. Mas, de perspectiva. Do pensamento ao ato, percorremos o mesmo caminho. Porém, de modo amplamente diferente. Temos culpa sobre o que sentimos? Não. Temos culpa sobre o que pensamos? Talvez. Temos culpa sobre o que fazemos? Absolutamente. Eles diferem de nós apenas no último aspecto desse processo. Não há pesar algum no que fazem. Nós sabemos o que somos e tentamos não ser. Eles sabem o que são, e celebram alegremente sua condição.
Mas, se sentimos a mesma coisa e reagirmos da mesma forma, como pode haver diferença?
Resposta: A mesma diferença que há entre o caminho do INSTINTO e o caminho da CONVICÇÃO.
O problema do caminho do instinto, é que ele se revela por meio dos sentimentos. E os sentimentos sempre oscilam entre o querer e o não-querer. O caminho do instinto é animalesco e inconstante. Embora, muito prazeroso, é o maior responsável por nossos atos mais egoístas e destrutivos.
O caminho da convicção, intrinsecamente mais desafiador resulta de um imenso emaranhado de experiências particulares e individuais. A convicção de um indivíduo representa o paradigma que alicerça sua personalidade. Em outras palavras, são os valores que norteiam seu caráter. A convicção, não raras às vezes, assumirá uma postura terminantemente oposta ao instinto. Isto ocorre, por ser a convicção, o caminho da constância e da empatia.
O primeiro caminho trata-se do poder. É a liberdade irresponsável.
O segundo caminho trata-se do dever. É a liberdade sob medida.
O dilema: POSSO, MAS, NÃO DEVO, nos é apresentado quando convicção e instinto se digladiam nos campos de batalhas dos nossos egos.Que escolha iremos adotar?
É apenas uma questão de que caminho escolhemos seguir.O primeiro caminho e o caminho do ''ELES''.
O segundo caminho é o caminho do ''NÓS''.
Embora, ocasionalmente, ocorra a oscilação de percorrermos um ou outro caminho, ou às vezes, até mesmo ambos, quando motivos, meios e fins tornam-se uma e a mesma coisa. Não fazendo muita diferença se para nós ou eles.
Das infinitas possibilidades que possam levar a derrocada da convicção e / ou a ascensão do instinto, cabe ainda, ressaltar algumas sutis, mas, marcantes diferenças, entre como e quando nós percorremos o caminho do instinto e entre como e quando eles percorrem o caminho da convicção.
Descemos ao instinto quando o controle se rompe e a fera, há muito enclausurada, corre novamente livre por nossas psiquês. O estrago resultante de tal fuga, é em certos momentos, incomensurável para nossas relações interpessoais. De tal evento, decorre a traição, a mentira e às vezes, a morte da fé.
ELES se elevam ao caminho da convicção quando contemplam uma oportunidade de maior ganho, por pura e desmedida malícia ou quando um evento traumático lhes concede a habilidade de tornarem-se seres dotados de empatia. Muito embora, no que concerne ao último ponto, isto ocorra de maneira extremamente rara.
Quanto às questões mais básicas para as quais nos voltamos e nos devotamos?
Liberdade? Acreditamo-nos livres. Eles puxam as cordas.
Amizade? Vemos um elo sagrado. Eles vêem uma situação vantajosa.
Amor? Onde vemos força, eles enxergam fraqueza.
Consciência? Enxergamos humanidade. Eles enxergam fraude.
Nós os acusamos de crimes contra o outro. Eles nos acusam de crimes contra nós mesmos.
Nós os acusamos de crimes contra a humanidade. Eles nos acusam de cumplicidade.
De todos os nossos subterfúgios, são estes os responsáveis por suas risadas mais insanas e por nossas lágrimas mais dolorosas.
Estranha e curiosamente, acabamos por deixar uma trilha de corpos até nossos objetivos. Não fazendo diferença se NÓS ou ELES.
Ao olhar para trás, instinto e convicção vêem em meio aos inimigos caídos, também aqueles que mais profundamente amaram.
''SÃO BAIXAS DE GUERRA'', argumenta o instinto. ''FOI INEVITÁVEL'', conclui a convicção.
Somos juízes displicentes e condescendentes quando sentamos no banco dos réus. Não faz diferença se NÓS ou ELES.
Quer saber onde estamos? Siga o sangue...
A diferença é que onde vemos culpa, eles vêem diversão. Onde vemos pureza, eles vêem sobrevivência.
No final, trata-se do mesmo ato e das mesmas consequências. Mas, nem sempre dos mesmos motivos.
A diferença entre NÓS e ELES?
Eles não se impotam. Nós nos importamos. Eles não importam. Nós acreditamos importar.A diferença entre NÓS e ELES?
A mesma diferença que há no espelho entre objeto e objeto refletido. Vemos inversamente a mesma coisa. Somos inversamente, o mesmo objeto.
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Espelhos, Máscaras E Outros Fragmentos Da Verdade
PoetryPoesias e textos diversos sobre amor, perda, solidão, esperança. ..