Ganhar a atenção do meu namorado se tornou impossível. Ele estava absurdamente estranho. Uma semana com Carter me tratando de forma incomum era mais do que minha mente hiperativa podia aguentar. E o pior é que não era só ele, tinha meus amigos e meus irmãos também, além do meu avô cobrando um posicionamento.
Os exames de admissão das faculdades começariam em breve também e mesmo que eu não fosse fazê-los, ainda era um enorme desafio a se enfrentar.
Meu pai estava negociando com meu avô para que o debute não acontecesse, até porque meu aniversário é nas vésperas do natal e isso significava que teríamos que passar as festas de final de ano por lá também. Isso soava como uma tortura para mim. Minha sorte é que eu não sentiria a diferença de clima.
Estressada com tudo que estava explodindo sobre minha cabeça nos últimos dias de maio, troquei o vestido de verão que eu usava por uma roupa mais confortável e desci até o porão. O lugar estava limpo e tinha paredes à prova de fogo, graças ao revestimento caríssimo que meu pai usou.
Fechei a porta e a travei com o maior cuidado para que ninguém acabasse machucado. Sentei no centro da sala em posição de índio e fechei os olhos de forma apertada.
Os cabelos da minha nuca se eriçaram quando eu abri a palma da mão, sentindo as labaredas de fogo lamberem suavemente minha pele em reverência. Aos poucos, senti o calor fluir pelas minhas veias, o fogo subindo pelos meus braços e tomando o chão ao meu redor.
Meu corpo relaxou de imediato. Devia estar um calor insuportável para humanos normais, mas eu me sentia no melhor casulo do mundo. Um casulo meu, um lugar onde só eu poderia chorar minhas pitangas porque eu era única capaz de criá-lo e controlá-lo.
Abri minha mente para todos os pensamentos conturbados que me atingiram nos últimos dias. Meus sentimentos serviam como combustível para o meu poder correr livre pelo ambiente, como uma criança quando sai de casa.
A desconfiança que me assolou era forte demais. Incrível como eu estava bem com Carter até pouquíssimos dias atrás, comemorando seu aniversário com muita dança e comida, só para em seguida ele mudar da água para o vinho.
Cerrei os punhos rigidamente quando a lembrança dos sorrisos nada discretos que meu namorado e minha melhor amiga trocaram nos últimos dias. Sorrisos carregados de malícia. Meu coração acelerou no peito enquanto a temperatura na sala subia a níveis perigosos. Não precisava ter um espelho na minha frente para saber que nesse momento meus olhos brilhavam em um laranja intenso. Eles sempre ficavam na cor das chamas que eu invocava. Esse foi com certeza o maior susto que meus pais levaram quando descobrimos meu poder.
De repente, tudo em minha aparência diferente dos demais pareceu fazer sentido. Quando Ilícia despertou aquele gatilho em mim e eu pude entender o que eu era, tudo se encaixou em mim e eu parei de me estranhar dentro do meu próprio corpo. E, naquele momento, minha autoestima estava seriamente ameaçada com a possibilidade de eu estar sendo traída. E a maior dor dessa traição não seria por Carter e sim por Anneliese. Minha melhor amiga teria coragem de fazer isso comigo?
Em um rompante, levantei-me do chão. A sala parecia fria quando cessei qualquer lavareda dentro dela, não que eu pudesse dizer o que é que era frio quando eu nunca o senti, apenas podia imaginar. A Chama Real me dava uma espécie de proteção térmica adorável.
Espantei todos os pensamentos inúteis da minha cabeça enquanto marchava em direção ao meu quarto. Era o cúmulo do absurdo que eu estivesse sofrendo por um homem e uma garota sem lealdade. Santo céu, eu era melhor que isso. Se tem uma coisa que nem em mil encarnações eu faria, é me deixar ser humilhada por outra pessoa e aceitar isso de cabeça baixa. Uma hora ou outra eu iria reagir.
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