Então, as aulas voltaram, trazendo com elas a tortura de olhar para meus antigos amigos.
Amigos esses que ficaram perdidos em memórias antigas das quais não valiam a pena ficar repassando na mente. Eu tinha coisas mais importantes a fazer do que choramingar por pessoas falsas que estavam prontas para me apunhalar pelas costas na primeira oportunidade. Afinal, quem trai uma vez, trai sempre. Estou aliviada de ter me livrado dessas cobras.
O uniforme agora ficava um pouco folgado em mim devido ao peso que perdi durante as férias de julho. Estranhamente, isso não me incomodava. Como de costume, prendi meus cabelos em um coque alto, aplicando creme para esconder o frizz. Optei por passar um pouco de maquiagem em busca de disfarçar a minha cara de mosca morta e até que deu certo. Eu estava belíssima e com a confiança renovada.
Minha postura estava ereta e ninguém poderia desconfiar do quanto eu ainda estava abalada quando adentrei no prédio do educandário. Os mesmos cochichos começaram assim que eu botei o pé na escola, mas dessa vez eu fiz questão de encarar com desdém e desprezo cada pessoa que o fizesse, afinal, eu podia.
É claro que os mexericos e atitudes absurdas das pessoas eram um forte motivo para que eu lutasse com unhas e dentes por aquela vaga. O principal deles eu diria. Afinal, por mais forte que você seja, não dá para fingir o tempo inteiro que aquilo não te atinge. Uma hora ou outra você acaba deslizando.
A possibilidade muito forte de sair daquele inferno me dava forças para enfrentar todos os olhares curiosos e acusatórios sobre mim. Incrível como que até pouco tempo eu era invejada e usada como exemplo por muitas garotas e agora eu era o lixo da qual todos falavam mal. O mundo era de uma futilidade incomparável e as pessoas moradoras dele eram as mais idiotas possíveis.
O toque do sinal me lembrou que por mais que eu passasse naquela prova ainda teria muitos dias de aula para enfrentar e aquele era só o primeiro. O primeiro de muitos a enfrentar na mesma sala que Carter e Anneliese. E que os céus me dessem força para enfrentar tal coisa porque não seria fácil.
E minha paciência foi testada ao limite durante o curto período de quatro aulas e o intervalo para lanche. Se eu não estivesse com uma paciência de Jó, certamente teria esquecido a dama que eu sou e esfregado a cara de Anneliese no chão.
No intervalo, sentei sozinha longe de todos, comendo o de sempre. Observei de longe como a mesa de Carter ainda era composta pelas mesmas pessoas, com exceção de mim. É isso aí, você trai, humilha e acaba com uma garota, mas mesmo assim ainda é o gostosão que todo mundo idolatra. Como eu queria voltar no tempo e me estapear por ter me sujeitado a respirar o mesmo ar que essas pessoas. Céus, só de lembrar que eu já tinha beijado Carter, sentia ânsia.
De fato, sem ter ninguém para conversar, o lanche se tornava uma grande merda. Admitia ser um pouco dependente de vida social, afinal, eu tinha me acostumado a ter uma e essa virada tão brusca estava desestabilizando mais ainda meu psicológico. Provavelmente, desistiria da ideia de ainda ir ao refeitório nos próximos dias, já que o martírio social ali era grande. A única coisa que me impediu de sair de lá naquele momento foi o anúncio ecoado pela rádio interna da escola.
— Aos alunos que realizaram a prova oferecida pelo Instituto Wodrood. — Apurei o ouvido de imediato, sentindo-me tremer. — Por favor, dirijam-se imediatamente para a sala da coordenação.
Se comportar como uma dama? Que se dane o decoro e os guias de etiqueta. Minha ansiedade me fez agarrar a carteira e aproveitar meu corpo magro para me embrenhar entre as pessoas e sair apressada do lugar. Outras cinco pessoas, que eu não fazia ideia que também tinham feito a prova, corriam na direção da coordenação quando enfim cheguei ao corredor.
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