Capítulo 32

10 1 0
                                    

   Jeni acordou num pulo. Passara a noite acordada, cochilava algumas vezes, mas sempre acordava, não podia dormir, sabe-se lá o que seu professor teria em mente. Não sabia que horas eram, já que não havia janelas, estava com fome e com sede, queria banhar, queria ver sua família, Ethan, amigos.

Ela levantou da cama e passeou pelo quarto. Não podia acreditar que ele refez seu quarto achando que ela iria gostar. Até tinha os mesmo móveis posicionados no mesmo lugar, com exceção da poltrona. Uma penteadeira estava posta em frente a cama, o que só notou agora. Apesar de o quarto estar escuro, ela podia identificar os objetos que faziam parte dele. Seus olhos passearam pelo cômodo até avistar um circulo de luz no alto da parede. Jeni se virou para a parede atrás dela procurando a brecha de onde saía aquele círculo. Aquilo devia ser entrada de ar, era um tubo pequeno que dava acesso à parte de fora.

Jeni não conseguia alcançar, nem mesmo na ponta dos pés ou pulando. Se aquele círculo emitia luz, poderia estar de dia. Ela queria subir para ver o que tinha do lado de fora, precisaria de alguma coisa que servirá de apoio. Seus olhos passearam pelo quarto novamente até ver o criado mudo perto de sua cama, então o arrastou para o lado até ficar exatamente embaixo do círculo. Jeni subiu com facilidade, mas mesmo assim ficou com certo receio, afinal não queria fazer barulho. Viu ao final daquele tubo só verde, devia ser grama, e nada mais.

A garota rapidamente desdeu do criado mudo quando ouve algo do outro lado da porta. Ela senta na cama abraçando as pernas e virou a cabeça para o lado contrário à porta. Sr. Smith entra um pouco intimidado, a culpa ainda o remoía por dentro. Ele liga o interruptor que se encontra do lado de fora do quarto fazendo-a fechar os olhos quando a luz invade seu campo de visão.

-Creio que esteja com fome – disse ele, mas não obteve resposta. Um suspiro tristonho veio. Sr. Smith segurava uma bandeja com um prato de frutas e um copo de suco em cada mãos. Ele se aproximou da poltrona, que deixou exclusivamente para esses momentos e se sentou – Jeni, você deve estar chateada comigo, eu entendo. Me exaltei, não deveria ter feito aquilo. Peço perdão.

Jeni permaneceu calada. Ele era mesmo inacreditável, depois de tudo o que fez, falar que ela estaria chateada por causa de um tapa era muita cara de pau. Nesse momento lutou contra si mesma para não cometer qualquer tipo de burrada, agora só iria ouvir.

Sr. Smith colocou a bandeja em cima da cama da menina o que a fez se encolher. Ele umedeceu os lábios e se encostou à poltrona.

-Vou contar uma história – disse ele, parecia empolgado agora – Era uma vez um garoto, com mais ou menos dez anos de idade. Era feliz, apesar de seu pai lhe bater muito. Tinha uma mãe boa e uma irmã prestes a nascer – ele olhava para o chão – Um dia, ele presenciou uma cena muito feia... seu pai chegou bêbado em casa, começou a bater em sua mãe. Bateu tanto que acabou perdendo a irmãzinha. A mãe desse menino chorou, chorou e chorou até não aguentar mais. Ele só olhava, pois não podia fazer nada, tinha apenas dez anos. Poucos dias depois, sua mãe faleceu. O garoto acreditava que seu pai foi o principal culpado, mas seu pai... para se safar colocou a culpa no pequeno e todos acreditaram.

Jeni escutava silenciosamente. Não entendia o que ele pretendia contando aquela história, não estava interessada, não queria ouvir, só queria procurar um jeito de sair dali.

-Aquele garoto viveu sozinho desde então até estar preparado para enfrentar o mundo... mas essa história é para um outro momento.

-Porque está me contando isso? – Disse Jeni, pela primeira vez. Querendo ou não aquela história despertou certa curiosidade – quer que eu acredite que você pode ser diferente daquele homem?

Ela se virou para ele com um olhar de desprezo.

-Eu sou diferente dele – disse ele – sou muito diferente, porque ao contrário daquele homem... protejo a mulher que amo.

Meu anjo - EM REVISÃOOnde histórias criam vida. Descubra agora