Hoseok não podia fazer aquilo, ele sabia. Mas era muito teimoso, ao ponto de brigar com a única pessoa que se importava consigo apenas para tornar aquela ideia em algo real.Ele sabia que Yoongi estava furioso consigo, afinal, não concordava com o fato de que deveriam se afastar. O mais velho não aguentava não as jornadas de trabalho, nem imaginava como seria dez dias longe do amado.
Odiava ter a mente ansiosa e paranóica achando que, com qualquer deslize de separação, Hoseok achasse alguém melhor que si tanto física como psicologicamente.
Não aguentaria. Ele era fraco, e precisava de sua ajuda para ser forte.
Nunca admitiria ser dependente, se sentir inferior, afinal, Yoongi não podia manter-se num relacionamento onde ambos sabiam quem era o superior. Ambos deveriam ser dependentemente iguais.
E foi pensando naquele assunto que ele se sentiu desconfortável com os olhos castanhos encarando fixamente seu rosto. Sabia que Hoseok estava se fazendo de cãozinho sem dono para conquistar o coração de Yoongi, mas, depois de três anos juntos, o efeito já não era o mesmo.
O pálido se enchia de raiva com aquela expressão, pois percebera que, toda vez que cedia, Hoseok o usava como ponte para alcançar suas metas.
Apenas pegou o controle da televisão, sentindo os dedinhos do moreno acariciando uma pequena parte exposta de sua pele. Ignorou aquilo e olhou na direção oposta, pegando seus óculos de leitura e o livro que, recentemente, tinha achado da biblioteca da universidade a qual trabalhava.
Hoseok soltou um suspiro em forma de choro, daquela vez sentindo-se triste por ser completamente deixado de lado. Virou-se de costas, abraçando o travesseiro e escondendo o rosto para assim poder repreender as lágrimas em seus olhos. Era fato, ele estava indeciso.
Já tinha deixado seu pequeno e furioso na mão tantas vezes que não sabia mais se era certo ou não deixa-lo sozinho. E, pensando bem, também não queria partir e abandonar aquele ser, dono dos melhores abraços os quais tinha posse. Imaginando-se sem aquele toque, notou todas as vezes que Yoongi, inocentemente, pedia por um beijo, um abraço, ou até mesmo o entrelaçar das mãos, e lembrou de cada vez a qual negou aquilo para o próprio namorado, importando-se mais com a popularidade momentânea do que com a felicidade eterna.
Tornou-se consciente de como era, de como agia com o outro, e assim sua mente se acendeu para raciocinar o quão idiota era por estar ao lado de alguém tão sensível, não sendo capaz de notar todas as vezes que o machucou.
Hoseok fechou os olhos, sentindo a quente gota de água se arrastar do canto de seu olho e atravessar o nariz, até chegar nos outros cílios, também úmidos. Respirou fundo e se encolheu, apenas querendo estar abraçado ao corpo de Yoongi.
Este que começava a se entreter nas páginas de seu livro, arrumando os óculos vez ou outra. Depois de cinco páginas passadas, totalizando dez, frentes e versos, foi capaz de olhar para o moreno.
Aparentemente dormia. Esticando o pescoço para ver, como costumava fazer as vezes, pôde confirmar os olhos fechados, mas apenas comprovou quando viu o moreno se encolher. Mordeu o lábio e voltou a ler.
Dessa vez, sua concentração estava perturbada, e apenas pensar em quem estava ali, fazia o seu estômago revirar. Amava Hoseok, amava o homem ao seu lado, mas se sentia inconformado pela forma como agiam um com o outro.
Yoongi suspirou, soltando o nome de seu parceiro pelos lábios, sentindo o coração falhar.
Marcou a página do livro e assim o fechou, deixando em cima de seu colo. Encolheu as pernas, abraçando os joelhos, e assim fechou os olhos por alguns segundos.
Tentou organizar os pensamentos, afasta-los apenas para conseguir concluir a leitura de mais um capítulo, e, quando não conseguiu, forçou a si mesmo a tentar concentrar a atenção nas palavras. Não gostava da forma como Hoseok parecia invadir seus pensamentos toda vez que ele precisava esquecê-lo.
Não se importava em estar ao lado dele, apenas não queria pensar nele.
Estava tão perdido que sua mente pareceu desligar a função dos olhos apenas para prestar atenção na fraca e fina garoa do lado de fora, batendo na janela de vidro.
Quando notou, já se perdera novamente em sua falha tentativa. Ao olhar para o lado, percebeu que Hoseok mantinha uma respiração acelerada, e que, em determinados momentos, soltava um som pela garganta.
Esticou o pescoço e viu as mãos fechadas em punhos, subindo o olhar para o rosto e encontrando o cenho franzinho no meio da expressão horrorizada.
Fechou seu livro, sem ao menos marcar a página, e tirou os óculos, pondo ambos ao seu lado na cama.
Acariciou o braço de Hoseok, chamando por ele com sussurros. O estímulo fez o moreno virar o corpo na cama, para ir atrás da voz que o acalmava e chamava por si.
Yoongi não pôde evitar o sorriso ao senti-lo enterrar o rosto em seu peito, abraçando sua cintura e entrelaçando ambas as pernas.
Mesmo sabendo de todas as dificuldades, e todos os problemas psicológicos deles como um casal, ele gostava de ver o quão fazia bem ao outro. Gostava de ver o efeito que causava no moreno.
Naquela tarde, os pesadelos de Hoseok sumiram aos poucos, acalmando o coração assustado e, agora, protegido pelo amado.
As pálidas mãos acariciavam-lhe os cabelos e as costas, mantendo-o perto.
Por alguns segundos, assim que despertou de seu cochilo, Hoseok achou estar sonhando, mas logo concluiu que era real. Olhou para cima, encontrando a serena vigilância de Yoongi sobre si, com os olhos cansados e quase fechados.
O sol já não aparecia, e os céus ficavam cada vez mais escuros e barulhentos. Os dedos de Yoongi se tornavam cansados ao enrolar as mechinhas de cabelo castanho em forma de redemoinho, e ele estaria entrando em seu sono, caso Hoseok não tivesse erguido o corpo para ficar na mesma altura dos olhos do mais velho.
Eu te amo.
Ele disse, fazendo um pequeno sorriso preguiçoso surgir, deixando aqueles pequenos dentinhos aparecerem.
Não vou deixar você, nem por um dia, nem por uma semana, meses, anos, nunca!
Se pôs firme no que disse, pedindo para que Yoongi aguentasse mais um pouquinho acordado. Os olhos escuros continuaram abertos, atentos, e então se fecharam quando um beijo foi trocado.
Hoseok percebeu que estar sem Yoongi, era estar sem chão, sem apoio. Ambos deveriam seguir os mesmos passos, juntos.
E, naquele fim de tarde, início da noite, ele soube.
Da mesma forma que o sol e a lua se completavam, os rios e os mares se encontravam, ele soube que precisava de Yoongi, e Yoongi precisava dele.
Entre as diversas brigas e conflitos, formava-se uma grande ponte cada vez mais concreta, onde os pilares eram feitos de confiança, amor e a esperança de que, um dia, eles possam chegar, juntos, no último pôr do sol.

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o último pôr do sol • yoonseok
Hayran Kurguapenas uma simples tarde de chuva, leituras, pesadelos.