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Nada é o que parece

Neymar Jr

Todos nessa droga de grupo acham que sou o único culpado por aquela briga idiota, que só eu tenho o poder de estragar as cosias, que sou um babaca e que não mereço meus amigos, mas me tornei tudo isso porque ninguém foi capaz de olhar os fatos e ver a verdade. Então por que não ser o idiota que eles tanto falam por aí?

Depois que sai de lá fui pra pista de dança. Eu estou feliz pelo relacionamento do Salah com o Lio, eles são perfeitos juntos. Só que já me acostumei a ser o babaca do grupo.

Cansado de dançar fui pro bar para beber, pedir vodka e comecei a beber como um alcoólatra.

- Vai morrer de cirrose. - a voz calma e doce do tal Philippe soou.

- Não me parece que vou fazer falta a alguém. - dei de ombros. - O que você faz aqui? Pelo que eu sei você não é aluno.

- Mas sou o melhor amigo de um. - quem diabos era amigo desse cara? - Gabriel Jesus.

-  Ah. - não estava afim de conversar.

- Você precisa parar de beber desse jeito. - resmungou.

- E você precisa parar de ser intrometido. - ele revirou os olhos.

Começou a tocar Invincible de Ruelle.

- Você quer dançar? - perguntei um pouco nervoso. Por que eu estava o chamando pra dançar? Não faço ideia.

- Neymar Jr me convidando pra dançar, devo me sentir honrado? - suspirei.

- Deixa pra lá, foi uma ideia idiota.

- Eu danço. - ele falou já ficando de pé.

Fomos pra pista de dança, mas eu não sabia o que fazer. Não que eu não soubesse dançar, mas  porque fiquei perdido vendo o Philippe dançar, ele é maravilhoso dançando.

- Ei, se mexe. - segurou na minha cintura e começou a me balançar ao ritmo da música. Suas mãos na minha cintura trouxeram um calor estranho e um arrepio bom. O que é isso?

- Acho que não quero dançar mais. - disse entre suspiros.

- Por quê? - suas mãos apertaram mais minha cintura, e inevitavelmente ficamos mais perto.

- Quero beber.  - ele deu de ombros e me soltou.  

A sensação boa de paz se foi quando ele se afastou. Isso era estranho demais pra mim.

Voltei para o bar e comecei a beber outra vez, dose atrás de dose. Voltei pra pista e comecei a dançar sem me importar com nada, até que um idiota esbarrou em mim me fazendo cair no chão. A bebida nunca foi amante das pessoas nervosas. Quando levantei já parti pra agressão. É assim que vivo depois que me tornei a sombra de quem fui um dia, eu sou esse inútil que só serve pra arrumar confusão onde quer que vá. E droga, eu só apanhei, quem briga estando mais bêbado do são? Eu, é claro.

Senti mãos segurarem a minha cintura e me puxarem pra longe do cara.

- Ei, chega, você está só se machucando. - respirei fundo.

- Eu já disse pra parar de intrometer na minha vida. - ele me deixava vulnerável, e eu não gosto de me sentir assim.

- Eu não me importo com o que você diz. - piscou pra mim. - Seu amigo disse que vai levar você pra casa.

- Que amigo?

- O Roberto, eu acho. - era estranho ver alguém chamando o sorriso de Roberto.

- Ele vai arrancar seus olhos fora se pelo menos sonhar que você o chamou de Roberto. - ri e ele deu de ombros. Era fato que o Firmino não gostava do primeiro nome.

- Quem liga? - esse anão é debochado.

- Eu não. - revirei os olhos. - E não vou a lugar algum com aquele idiota. - ele pegou meu braço e passou pelo seu pescoço, e depois passou um de seus braços na minha cintura, fazendo aquela sensação de paz, de estar em casa voltar. Que porra que tô falando?

(...)

Estávamos no carro, me pronunciei após alguns minutos em silêncio:

- Eu sou um idiota.

- Você jura? Eu nem tinha percebido. - esse idiota. - Mas porque pensa isso de si mesmo?

- Eu faço meus amigos sofrerem, o Lio nunca contou que ama o Salah porque tinha medo, o Firmino, bom... Esse me ama como um irmão e eu o amo da mesma forma, mas me aproveito disso às vezes.

- Você é egoísta, todos nós somos egoístas. -  Philippe está sempre tentando amenizar as coisas.

- A dois anos eu fui traído e traí, e eu cresci em uma família onde escolhemos o orgulho ao invés do perdão. Todos nós  escolhemos de que lado ficar, mas somos todos culpados.

- Eu não estou conseguindo te acompanhar.

- Talvez eu não queria você entenda, só que me ouça, está doendo guardar tudo isso.

- Então se liberte.

- Eu deixei a mentira se transformar em pó mágico e "puf", eu me transformei no único culpado. - ri de desgosto. - Eu vivo em uma prisão, que eu construí pra mim mesmo. Todos me julgam e me culpam pelo que aconteceu, só que é fácil me culpar quando você só conhece uma versão da história.

- Por que permite que te odeiem? - ele estacionou o carro, acho que estamos na sua casa.

- Não sei.- dei de ombros.

- Você é covarde. Até quando vai deixar essa mentira sobreviver? Seja livre Neymar.

- Estou com sono.

Me joguei no sofá e não conversamos sobre mais nada. 

Entre Perdas e GanhosOnde histórias criam vida. Descubra agora