Cap 19

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Thales pov:

Infelizmente vivemos num mundo onde amar alguém do mesmo sexo, de uma idade diferente ou até a classe social, se tornou um problema. Para a sociedade o sentir não é sincero, verdadeiro e espontâneo, há menos que tenha os padrões "certos", e conviver com pessoas de mente tão fechada está cada vez mais difícil.

Perante tudo que nos aconteceu, eu deixei Paulo escapar das minhas mãos por medo, me submeti a cultura atroz da minha mãe, que me fez infeliz, ansioso, deprimido por anos. Mas depois, quando sai de casa e passei a me relacionar abertamente com outros homens, ela acabou tendo que suportar, mesmo fazendo comentários inúteis em certos momentos.

Jogo a agenda com tudo na parede e começo a chorar, com o rosto entre os joelhos, e os braços envolta das pernas.

Eu queria Paulo, queria aquele sorriso lindo de volta, aquele abraço casa, aquela teimosia irreversível, e todo aquele barulho que só ele faz em meu coração. Com ele eu me sentia no meu verdadeiro eu.

"- Thalim! Cê não vai acreditar..."

Bia chega toda animada, mas assim que levanto o olhar e começo a secar meu rosto, ela se cala e vem até mim, e sem dizer mais nada me abraça.

"- Chega! Eu não aguento mais te ver assim! A gente vai atrás dele, onde quer que ele esteja!"

Tento contestar, mas ela me impede e me leva até a cama, deita junto comigo e procura por coisas do Paulo, e acaba descobrindo que ele estaria gravando daqui a três dias: Vai Que Cola. Agradeci pela ajuda dela e comprei só meu ingresso, já que ela estaria em uma viagem nesse dia.

[...] dias depois.

Ao chegar no dia de gravação, eu estava uma pilha de nervos de tão ansioso. Havia adiantado tudo na minha clínica, ido a academia e comprado roupa nova, tentando ocupar meu tempo livre, para não pensar tanto nele.
Mas estava inevitável, pois ouvi pacientes comentarem sobre ele. Vi o tal namoradinho dele na academia, e vi várias camisas que eu tinha certeza que ele amava. Um dia bem sufocante.

Faltando 30 minutos, sai de casa e fui para o local marcado, o que levou em média 15 minutos, todos os presentes sentaram nos devidos lugares, e rir se tornou inevitável no instante em que começou, diante de tamanha genialidade de todos do palco. Em questão de minutos, Paulo entrou em cena, e eu senti a voz fugir da minha garganta, o frio na barriga se instalar e as lágrimas marejarem meus olhos. Ambos tínhamos ganhado alguns quilos e na aparência estávamos mais velhos, mas ainda gosto tanto dele.

"- Você é bem fã dele, né?"

Uma mulher pergunta e eu sorrio, balançando a cabeça afirmando.

Por uma fração de segundos, o olhar de Paulo encontra o meu e eu engulo seco. Ele permanece normal fisicamente, e isso me faz desviar o olhar. Nesse instante ouço as palavras de Marquinhos e todos caiem na gargalhada, inclusive os próprios atores em cena.

Sorrio bobo com o jeito envergonhado de Paulo, me lembrava de como ele ficava quando eu o elogiava.

Ao fim da gravação, levanto e bato palmas junto à platéia, mas saio logo dali, antes que Paulo pudesse vir até mim, se é que ele viria de fato.

Eu joguei meus problemas e medos para o ar e me entreguei somente a ele, mas fazer isso sem se preocupar com o momento o qual elas iriam cair, foi tolice. Cresci aprendendo a valorizar cada simples detalhe do dia, cada pequena coisa à minha volta, e não me apaixonar pelos seus detalhes, foi inevitável. E de repente as coisas aconteceram, e foi inevitável a mudança. E coube a nós dois decidimos como superar os ponto negativos da nossa forçada despedida.

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