Eu sei quem você é - pt. 2

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20h30

Às 20h30 em ponto já estou na frente de casa esperando. Avisei para minha esposa que sairia, e ela não se importou muito. Vive dizendo que eu devia sair um pouco para espairecer mesmo.

Não disse a ela o quanto estou animado hoje. Sempre comento à mesa sobre meus colegas de trabalho, e ela já havia percebido que Ciro era mencionado mais vezes do que o próprio presidente. Justifiquei dizendo que eu admirava muito o trabalho dele, mas eu mesmo já não tenho certeza se o motivo é realmente esse.

Tento tirar isso da cabeça. É só um devaneio bobo. Sou muito bem casado e definitivamente não sou gay.

Com isso na mente, observo enquanto Ciro chega de carro e para em minha frente. Ao baixar o vidro, ele pisca para mim. Mesmo na noite escura, estou tão habituado às suas expressões que imediatamente as reconheço.

Entro no carro pela porta do carona e coloco o cinto antes de qualquer coisa.

- Boa noite, Ciro.

- Boa noite.

- Para onde vamos, exatamente?

- Você já esteve em uma boate?

Olho para ele, desacreditado.

- Já, há muitos anos.

- Pois vamos reviver sua juventude, então.

Mal acredito que estou mesmo sendo levado para uma casa noturna. Nem vale a pena perguntar para qual iremos, já que não conheço nenhuma.

Observo Ciro, parecendo menos imponente que o normal sem terno, porém ainda com uma vibração misteriosa irradiando dele e se concentrando no sorrisinho irônico que raramente sai de seu rosto. Será que todos vêem isso nele ou sou só eu?

Será que as outras pessoas também sentem esse calor incomum perto dele?

- O que tanto olha aqui?

- Nada, nada.

Mais uma vez, a risada dele me provoca uma espécie de calafrio quente.

- Você é um cara engraçado, Fernando.

-//-

01h50

Passo a mão no cabelo molhado de suor, para afastar as pequenas mechas que insistem em cair sobre meus olhos. Apesar de não ter bebido praticamente nada, me sinto muito mais leve que o normal. Não me divirto assim há... muito tempo.

No meio das luzes piscando e dos corpos se movendo ao som da música alta, Ciro me segura pela mão. Na outra, ele tem uma garrafa verde de cerveja. A única coisa alcoólica que bebi foi uns goles dessa mesma garrafa; ainda está na minha mente o calor que senti quando encostei a boca na mesma garrafa que ele, assim como a sensação de ser um adolescente tolo novamente.

- Você já quer ir embora? - Ele me pergunta praticamente gritando por causa do barulho.

Apesar de estar cansado, não quero ir embora. Entretanto, há alguns minutos percebi que Ciro está bêbado demais para pensar por si mesmo e provavelmente seria melhor parar por agora, já que temos uma audiência ministerial na próxima manhã.

- Pode ser. Temos trabalho amanhã. - Grito de volta.

Ciro ri.

- Nem assim você esquece do trabalho?

Dou de ombros. Não é tão fácil assim esquecer.

- Você quer que eu te leve pra casa?

- Por favor. Não estou em condições. - A risada dele está mais alta que o normal.

Me puxando pela mão, ele me guia se espremendo no meio das pessoas até chegar à porta de saída.

- Vamos lá, Fernandinho, pegue aqui a chave do possante. Normalmente não confio em um cabra que não tem carro, mas você sabe que é especial pra mim, né?

Enquanto me entrega a chave com uma mão, ele escorrega a outra pela minha nuca. Perto demais.

- Sei.

- É isso aí, colega.

Ele tira a mão de minha nuca e dá um tapinha em minhas costas. Solto a respiração que não tinha percebido que estava prendendo quando ele se afasta e entra no carro.

Durante a viagem até seu apartamento, conversamos só para que ele me guie pelo caminho certo. Passo a maior parte do tempo querendo bater a cabeça no volante por não estar afastando o flerte óbvio, e ele passa a maior parte do tempo fumando um cigarro ou então colocando a mão na minha perna e fingindo que é sem querer.

Quando chegamos ao edifício, me apresso em deixar o carro no estacionamento.

- Como você vai voltar pra casa, homem? - Ciro me pergunta, ainda no carro.

- De ônibus, ou talvez de táxi.

- Você é um careta de carteirinha mesmo, Fernando. Acha mesmo que um ministro não vai chamar a atenção andando de ônibus ou de taxi no meio da madrugada?

É, eu não tinha pensado nisso.

- E o que você propõe?

- Ora, espere dar 4 horas da manhã para que o motorista a qual você tem direito possa vir lhe buscar.

- Quê? Falta quase duas horas para às quatro e temos que estar numa audiência às nove!

- Você tem uma ideia melhor?

Tenho. Posso ir de ônibus mesmo assim. Sei que ele quer me convencer a passar um tempo com ele em seu apartamento. Sei bem o que ele quer.

- Não.

- Viu? Vem, vamos subir um pouco. Prometo que não mordo.

- Tudo bem.

Ele me segura pela mão novamente e me guia pelo prédio até seu apartamento. Me deixo levar e a cada passo meu coração fica mais e mais acelerado, até eu conseguir ouvir o sangue pulsando em minhas orelhas.

Cada músculo de meu corpo fica tenso quando ele tira as chaves do bolso e destranca a porta, me puxando para dentro logo em seguida.

É um estranho misto de surpresa e 'eu já sabia' quando ele me empurra firmemente contra a porta recém-fechada. Talvez a surpresa venha da intensidade e proximidade do olhar dele.

- E então, Fernando, o que você quer fazer agora? - Ciro pergunta, com o rosto a centímetros do meu.

Tão perto que eu sinto o cheiro dele, forte como nunca antes. Tão perto que sinto a respiração dele em meu rosto. Tão perto que eu poderia beijá-lo agora mesmo.

- E-eu só vim te trazer em casa. - É minha última tentativa de defesa, que sai sem nenhuma força.

- Ah, é? - Ele molha os lábios com a língua, tão perto que quase encosta em minha boca.

- É.

- Eu vejo o seu jeito pra mim desde o primeiro dia, rapaz. No começo, eu não achei nada, mas agora... - Ele desliza uma mão pelo meu peito. - Agora eu sei quem você é.

Sinto como se um choque elétrico atravessasse cada célula do meu corpo quando ele finalmente toca meus lábios com os dele.

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Em breve, sai um bônus com o hot kkkkk quem não curtir +18 pode pular sem problemas que não vai atrapalhar o entendimento da história.
Obs: será que alguém pega a pequena referência à outra fic no meio desse cap? Hehe

A Raposa e o Cordeiro (Ciro x Haddad)Onde histórias criam vida. Descubra agora