Prólogo

4.2K 83 22
                                    

Agora ela sabia que tinha cometido um erro. Seu último erro.

Ela estava sozinha em seu quarto, mas as entidades não saíram de sua vida. Agora distinguia todo o peso da decisão que havia tomado horas atrás. Mas nada mudou, tudo continuava do mesmo jeito, ela não podia aguentar mais aquela situação. Algo deveria ser feito. Foi até seu guarda-roupa, abriu a porta mais baixa onde guardava seus calçados e pegou o tênis que usava em suas corridas matutinas. Algo mórbido passou por sua cabeça enquanto tirava os cadarços. Sabia o que faria a seguir, mas como mudar seu destino? Aquela era sua última opção. Pegou a banqueta da escrivaninha que usava em seus estudos. Esforçou-se um pouco para conseguir fazer um nó firme no suporte do lustre. Desceu e foi em direção ao grande espelho da mesinha. Viu seu reflexo e atrás dele um vulto negro surgiu, mas não havia medo, não mais, naquele momento o que ela sentia era um desconforto, pois sabia que a decisão que estava sendo tomada fugia de seu controle, o espírito era quem estava traçando seu destino.

Não havia raiva, pois no fundo sentia que era o melhor a ser feito. Todas as escolhas feitas nos últimos três dias levaram-na até aquele caminho sem volta.

Subiu novamente na cadeira, amarrou o outro cadarço no pescoço, por fim, uniu as duas pontas e pulou da cadeira. Ela imaginou que sua morte seria rápida, mas não calculou muito bem a queda e seu pescoço não quebrou, ela estava consciente, olhou para o chão e viu que por cinco centímetros não podia tocá-lo, desejou ser um pouco mais alta. Seu corpo começava a girar, o nó em seu pescoço começou a sufocá-la, tentou puxar ar para levar até os pulmões, mas era inútil o esforço, ela sentia que eles iam explodir, estavam queimando cada vez mais, buscando algo que não podia chegar até eles. Sentiu seu corpo começando a desfalecer, estava começando a perder os sentidos. Com o leve girar ela conseguiu ver-se no espelho novamente; dessa vez seu rosto estava ficando irreconhecível: estava inchado, roxo. Seus cabelos que ainda lhe davam orgulho naquele último momento de vida: cabelos negros, lisos e sedosos. Pouco antes de “descansar em paz” ela viu o vulto ressurgir, mas dessa vez ele tomou uma forma parecida com a de um ser humano, mas totalmente negra, como uma sombra que acabara de ganhar vida. A entidade colocou uma mão sobre o ouvido dela e encostou a cabeça como se fosse contar um segredo. Algo surreal aconteceu: cada sílaba entoada pelo demônio pôde ser ouvida com total clareza: A maldição não acaba em você!  Foi então que percebeu: ela não pertencia mais a este mundo.

O espirito se foi, arrastando consigo a alma suicida recém-capturada.

Evocação - Você Acredita em Maldições?Onde histórias criam vida. Descubra agora