Terça-feira, 20:55
Deitado na sua cama de casal, em um quarto espaçoso com móveis rústicos e lustrosos, com pôsteres de carros clássicos e motos caríssimas nas paredes, ele mexia no celular, analisando seus contatos. Depois de ligar para três ex-namoradas – e ser xingado por todas –, ele continuava sem entender porque diabos sua melhor amiga estaria interessada nele.
Victor não entendia porque ela havia resolvido bombardeá-lo com aquelas declarações absurdas. Ele sabia muito bem o canalha que era, tinha acabado de confirmar isso nas três ligações que acabara de fazer. Seus três namoros tinham chegado ao fim de maneiras muito conturbadas, com choros, copos estilhaçados pela casa, palavrões e juras de ódio eterno (da parte delas). Ele não negava a sua culpa, afinal, quem gosta de ser deixado?
Rebecca sabia tudo isso, era para ela que ele ligava quando isso acontecia, desabafava e falava com ela horas a fio, mas era isso o que ela representava para ele: AMIZADE. Ele nunca teve qualquer outro interesse nela, não por ela ser feia ou coisa do tipo, pelo contrário, Rebecca era linda e muito inteligente e Victor a amava, mas como sua melhor amiga e nada além disso.
E mais uma vez, aquela pergunta não parava de ecoar pela mente dele: Ela me conhece completamente, por que diabos se apaixonou por um cara como eu?
Victor era de uma família de classe média alta, seu pai era dono de uma rede de restaurantes de alto padrão, o que colocava o seu filho único em uma excelente posição social. Ao contrário de Rebecca, ele não possuía o menor interesse em cursar qualquer faculdade.
– Para quê vou me matar de estudar? Eu já nasci com a vida feita!
Dizia ele, quando a amiga o questionava a respeito, ele sempre se gabava da gorda poupança que tinha no banco e que o dia que o seu pai partisse – e ele esperava sinceramente que demorasse muito – todo aquele império alimentício passaria para o controle do seu querido e estimado filho único. Então Victor venderia todos os restaurantes, colocaria todo o dinheiro em diversas contas bancárias e com o dinheiro que adquiriria, passaria o resto da vida viajando e conhecendo uma mulher nova em cada porto.
Agora, naquele quarto imenso cercado de lembranças de suas noitadas com diversas mulheres diferentes, muitas das quais ele sequer conseguia lembrar o nome, ele pensava o quão sem perspectivas sua vida era realmente e o quão “errado” ele era para Rebecca.
– Vou ligar para ela e contar a verdade, dizer que a amo! Mas a amo como minha amiga, daí ela me falará que estava brincando quando disse aquelas bobagens e voltaremos a ser melhores amigos e eu nunca mais voltarei a encarar toda a minha sorte como uma “falta de perspectiva” como estou fazendo agora e seremos felizes para sempre. Cada um ao seu modo.
Refletia ele, em voz alta, o que por um momento o fez pensar que estivesse enlouquecendo. Mas, estava decidido, ele ligaria para Rebecca e diria tudo isso... Amanhã, sim, amanhã ele faria isso, já que essa noite ele já tinha uma balada marcada para ir.
〔〄〕
Terça-feira, 22:32
Pi... Pi... Pi... Pi...
Mais uma ligação encerrada sem que o assunto fosse concluído, várias mensagens sem resposta, ele começava a se sentir preocupado.
– Algum problema, David?
Sentados em uma mesa de jantar de seis lugares, estavam David e seu pai Roberto. Roberto era um homem de 50 anos, cabelos grisalhos e cavanhaque bem feito, do lado oposto em que o filho estava sentado, ele reparou na expressão do rosto do filho e sentiu que havia algo errado. Era óbvio que ele e Nadya estavam tendo problemas. Nadya. A nora que ele havia pedido a Deus! Muito diferente das garotas mimadas e mesquinhas que David costumava levar para casa. Ela era uma garota centrada, de boa aparência e extremamente inteligente, podia não ser de uma família de “status” social, mas tinha “status” em seu caráter. Ele não queria nem imaginar que o relacionamento dos dois estivesse atribulado.
– Está tudo bem entre você e a sua namorada?
– Ah sim, pai, está tudo ok... – O fato de David ter coçado o pescoço ao responder, ato típico de alguém que não ter certeza do que fala, não fez o pai ficar mais confiante.
– Tem certeza? Já faz algum tempo que ela não vem almoçar conosco nos domingos... – Percebendo a expressão tensa no rosto do filho, decidiu mudar de assunto – Bem... Como ela está indo na faculdade?
– Bem... Pai, eu estou um pouco cansado, se não se importa, vou subir para o meu quarto, ok?
– Ok filho, não se esqueça de que amanhã as sete em ponto preciso visitar um cliente, hein!
David mostrou o polegar para o pai em sinal de positivo e saiu da cozinha. Quatro meses atrás, Roberto sofrera um acidente envolvendo seu veículo, um caminhão e uma moto. O motociclista, infelizmente, não sobrevivera, o motorista do caminhão saiu intacto e Roberto ficou com um braço quebrado e algumas escoriações. Mesmo tendo sobrevivido aquele acidente sem maiores danos, a cena de seu carro totalmente retorcido ao lado dos outros dois veículos e meia hora que ele passou preso entre as ferragens o traumatizaram e toda vez que ele sentava atrás de um volante, começava a tremer e a suar frio. Coincidentemente David acabara de fazer 18 anos e tirar a carta, o que tornou o filho seu “motorista particular”. Roberto era dono de uma transportadora e adquirira alguns imóveis ao longo dos anos, os quais alugara e sempre precisava visitar algum cliente para alguma negociação. Assim, uniu o útil ao agradável e transformou David em seu mais novo funcionário.
Agora, subindo as escadas para o segundo andar da casa nada pequena que ele morava, David praguejava pelo fato de ter que acordar cedo no dia seguinte. Passando pelo corredor, viu que a porta de um dos quartos estava aberta e sua irmã, Verônica, estava sentada na cama com diversos livros à sua frente, estudando. Verônica era quatro anos mais velha que o irmão e ao contrário dele, que dependia do pai para tudo, ela, há algum tempo era independente, trabalhava de recepcionista em uma clínica hospitalar pela manhã, e a noite cursava Filosofia, o que o irmão particularmente, achava uma total loucura.
Chegando ao seu quarto, David notou um bilhete em cima da mesa de seu computador, a letra era de sua mãe, Elena. Elena era uma mulher de 47 anos que nunca fora dependente do marido, trabalhava de enfermeira em um hospital e atualmente estava fazendo os seus plantões a noite.
O bilhete com a letra caprichosa dizia: “Querido David, eu te amo. PS: Pare de deixar suas roupas sujas largadas pelo chão do quarto, caso contrário, eu deserdo você.” David riu, essa era sua mãe, sempre irônica, deitou na cama e fechou os olhos, afinal, o dia seguinte começaria cedo para ele.
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Evocação - Você Acredita em Maldições?
ParanormalEsta Obra encontra-se Registrada na Biblioteca Nacional. Logo estará disponível para venda. Boa leitura. Contém cenas fortes, recomendado para o público maduro. Tudo estava ocorrendo perfeitamente bem na vida de Nadya: recentemente ela ganhara uma b...