Capítulo Quatorze

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Sábado, 23:17


Nadya subia pelo elevador e sentia a apreensão tomar conta de cada parte do seu corpo. Sentiu-se com menos medo enquanto estava com Bruno, mas agora sozinha com seus pensamentos, seu medo aumentava e, quanto mais ela repetia a si mesma que tudo aquilo era bobagem mais o sentimento se intensificava.


Dessa vez não houve paradas indesejadas e o elevador chegou ao 13º andar sem problemas. Adentrou no apartamento e secretamente desejou que alguma das colegas de quarto estivesse ali. Suas preces não surtiram efeito, logo que colocou as chaves sobre o balcão da cozinha e sentiu o silêncio que pairava pelo lugar, viu que estava só.


Dirigiu-se para seu quarto, deixando todas as luzes da casa acesa, por algum motivo, o claro dava a ela uma sensação de mais segurança. Pegou o rádio que se achava na sala e o levou para seu quarto. Ligou-o em uma estação A.M. que falava de esportes, não se importava com qual time ganharia o campeonato, só queria ouvir a voz do locutor e fingir que ele estava ali com ela, para afastar um pouco da sensação de solidão. Retirou o vestido, ficando apenas de calcinha e sutiã. Não sentia fome, então foi direto para o banheiro para escovar os dentes. Terminando de fazer sua higiene bucal, abaixou-se sobre a pia para enxaguar a boca e quando voltou à posição normal para encarar seu sorriso no espelho, viu uma sombra enorme passar correndo por trás dela para fora do banheiro. Todos os músculos da garota se enrijeceram e suas mãos que ainda seguravam a escova começaram a tremer.


- Isso não está acontecendo... Não está... Não está...


Repetia o mesmo refrão, olhando para baixo, incapaz de voltar a fitar o espelho. Correu para a sua cama e sentou-se, fitando tudo ao redor, esperando que a sombra estivesse escondida em algum canto do quarto. Não havia nada.


Esperou por alguns minutos e nada aconteceu. Ainda assustada, pegou seu celular e acessou a internet. Digitou num site de pesquisa a frase: "tabuleiro ouija" e apertou pesquisar. Rapidamente, apareceram na tela centenas de resultados em diversos sites e diversas imagens daquele objeto. Clicou no primeiro da lista. O site descrevia quando o tabuleiro tinha sido criado e como as pessoas costumavam usá-lo. Isso não interessava a Nadya. Saiu do site e clicou no segundo da lista. Mais uma vez o site não dizia nada que ela já não soubesse. Na sexta tentativa, encontrou um site de aparência sinistra que continha diversas imagens de todo o tipo de demônio, nesse site constava as consequências sofridas por uma pessoa que abandonasse o jogo, Nadya endireitou-se na cama e começou a ler o texto:


"Todas as pessoas que deram início a evocação utilizando esse tabuleiro ou qualquer outro método devem ter em mente que o abandono do ritual tem sérias consequências. Você gosta de ser abandonado? Pois é, ELES também não. Normalmente esse tabuleiro é utilizado para evocar apenas espíritos - não demônios -, mas mesmo que os espíritos não tenham a maldade dos demônios, eles são capazes de muitas coisas, normalmente eles usam do terror, tentando intimidar ao máximo a vítima. Não existe tempo determinado para esse tormento feito por eles, pode durar um dia, um mês ou um ano. Depende muito do espírito arranjar ou não outra coisa para fazer. Há relatos de pessoas que passaram o resto de suas vidas atormentadas por eles, tendo que ser internadas em clínicas psiquiatras, também há relatos de pessoas que aprenderam a conviver com seu espírito seguidor. Normalmente, o jeito de fazê-los com que te deixem em paz é ajudá-los a seguir o caminho para o outro lado, deixando então esse mundo ou então, adquirindo seu próprio tabuleiro e dessa vez, seguindo com o "jogo" até o fim. Para adquirir seu tabuleiro...".


Nadya interrompeu a leitura, não precisava saber onde adquirir um tabuleiro, ela não queria um, não por enquanto, rolou a página para baixo, embora estivesse enjoada com a linguagem daquele blogueiro, não encontrou nada mais de interessante. A frase que fechava o artigo era a seguinte: "Há diversos espíritos errantes pelo mundo e muitos deles querem diversão, como eles se divertem? Igual os demônios, com os seus MEDOS".


Depois de ler isso, Nadya fechou a página e colocou o celular ao lado de seu travesseiro. Se o que estava atrás dela era algum espírito querendo se divertir com seu medo, ele cairia do cavalo. Ela não daria mais isso a ele. Mas e se... Um pensamento lampejou no fundo da mente dela. E se não fosse um espírito, fosse algo pior? Um demônio? Não podia ser. Voltou a pegar o celular e dessa vez pesquisou se demônios podiam ser evocados por aquele tabuleiro. A maioria das respostas que obteve contradizia o artigo que lera no blog anterior, todas foram unânimes em afirmar que demônios podiam sim ser evocados através daquela brincadeira e que quando isso acontecia, os resultados eram desastrosos.


Lembrou-se do que tinha visto no banheiro do shopping e dentro da sala do cinema, aqueles pés, aquelas mãos, aquelas garras... Um espírito teria aquelas formas? Ela sabia que o que ela vira fazia mais jus a um demônio do que qualquer outra coisa. Mas por que um demônio ia querer se comunicar com um bando de jovens bêbados em uma festa? Não tinha sentido, a mente da garota trabalhava a mil. Passou a mão pelos cabelos e sentiu o cordão do colar que ganhara de Rebecca, enroscado nos fios, soltou-o e o colocou ao lado de seu celular. Deitou a cabeça no travesseiro, notou o quanto estava cansada e sentiu suas pálpebras pesarem, fechou os olhos e adormeceu. Mas logo o inferno recomeçaria.

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⏰ Última atualização: Mar 28, 2016 ⏰

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