Capítulo 4

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15/02/2006

Olho para o relógio e são 00h03min, já posso dizer que tenho 16 anos. Deitada na cama, me perco nas lembranças do último final de semana e não consigo dormir. Já escrevi no meu diário, já li, mas o sono não vem.

O que tem me mantido desperta é o Rom e meu amor secreto por ele. No sábado, ele se apresentou junto com Jeff, Tim e Claus, que com ele formam a banda de pop rock Tempest, numa casa de shows na cidade vizinha. Minha mãe não queria que eu fosse, por causa da minha idade, mas insisti tanto que ela deixou. Afinal, era a primeira grande apresentação de meu melhor amigo, não podia faltar.

O show foi ótimo, os meninos são feras. Claus arrebenta na bateria, Tim é um excelente baixista, Jeff tem uma voz incrível, assim como o Rom, que além da cantar, toca guitarra. Estava me divertindo muito, estourando de tanto orgulho do meu amigo, mas... não contava com as fãs. Os garotos chamaram muita atenção, pois são todos lindinhos, mas o guitarrista foi um sucesso. Ver todas aquelas meninas gritando o nome do Rom me fez muito mal.

No final, elas cercaram os meninos, pedindo autógrafos, dando telefones, e precisei me afastar, pois os eles estavam adorando tanta atenção e não suportei ficar mais lá. Não tenho baixa autoestima, sei que sou bonita com meus olhos e cabelos escuros e minha pele clarinha, mas fiquei abalada. Com tantas opções de moças lindas e interessadas, senti diminuir a pouca esperança que eu tinha que ele desistisse daquele nosso acordo infantil.

Após nosso beijo, Rom aceitou sair com a Monique. Namoraram por uns 3 meses e depois dela, se envolveu com várias outras garotas. Eu fingi que nada aconteceu entre nós, como ele pediu. Coloquei uma máscara de alegria no rosto e nunca o deixei perceber como me magoava, a cada menina nova que via em seus braços. Nossa amizade continuou igual, eu permaneci sua prioridade, e se alguma de suas conquistas implicava comigo, ele logo terminava com ela.

Ele mudou muito neste último ano, ainda é calado, mas agora seus silêncios são encarados como um charme a mais, um rapaz misterioso e ainda mais atraente para as meninas. Sempre de preto, indiferente, rebelde, roqueiro, ele tem um ar de garoto mau, que fascina e faz todas quererem conquistá-lo. Elas procuram chamar sua atenção e várias pedem minha ajuda com ele. Já não passamos mais tanto tempo juntos, apesar de sermos melhores amigos ainda. Ele fica horas em seu quarto ouvindo música e tocando sua guitarra ou o teclado, ou ensaiando com a banda.

Seu relacionamento com seus pais é mais distante a cada dia, sua mãe trabalha demais e não tem tempo para ele. Quando tenta se aproximar, não consegue derrubar os muros que ele construiu ao redor do coração. Vejo a dor nos olhos dela ante sua indiferença, mas sei que é apenas para disfarçar o quanto sofre por não ter pais presentes.

Agora, temo que nossa amizade fique ainda mais prejudicada, não sei se consigo concorrer com todas aquelas garotas e a atenção que lhe dão. Reviro-me na cama, cada vez mais mordida pelo ciúme, tentando achar uma posição mais confortável para atrair o sono.

Acordo assustada com o despertador. Custei muito a dormir e agora que estava no meio de um sonho bom, sou tirada dele bruscamente. Arrasto-me para fora da cama e troco-me para a aula. Minha mãe me espera na cozinha com uma mesa recheada de delícias, um café da manhã especial de aniversário. Ainda estou comendo quando tia Priscila buzina.

Rom me acolhe em um grande abraço e curto cada segundo dele em meus braços.

- Feliz aniversário, Juli. Adivinha o que tenho para você?

- Um diário? – ele me dá um todos os anos.

- Também. Mas tem outro presente – ele está adorando fazer suspense, sabe que sou muito curiosa.

Rom & JuliOnde histórias criam vida. Descubra agora