Capítulo 19

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15/02/2037

Abro o forno para conferir se o pernil já está no ponto e percebo que falta poucos minutos. Aproveito para preparar a salada. Amanda está terminando de colocar a mesa e estamos adiantadas. Além de um almoço em comemoração ao nosso a aniversário de 47 anos, receberemos a namorada de Guto pela primeira vez. Eles se conheceram na faculdade e estão juntos há 4 meses. Estou ansiosa para conhecer a moça, nunca vi meu filho tão animado. Ele diz estar apaixonado e torço para que dê certo. Não sou eu que vou reclamar de ele ser muito jovem, já que desde meus 15 anos sei que amo meu Rom.

- O meu irmão saiu para buscar a Nat.

- Será que ela gostará de mim, filha? – pergunto insegura. Ele já teve relacionamentos antes, mas este é o mais importante.

- Claro, mamãe, não precisa ficar nervosa.

- Morro de medo dela não gostar de sogras, de uma maneira geral. Sua avó foi como uma segunda mãe para mim, quero ser próxima da minha nora também – Tia Priscila morreu há quase 2 anos, e ainda sinto muito sua falta.

- Eu já a vi numa festa de aniversário de um dos amigos do Guto. Foi muito simpática e agradável.

- Tomara que possamos ser amigas... Colocou o vaso de flores sobre a mesa?

- Já, mamãe. É a terceira vez que me pergunta – responde rindo de meu nervosismo – Quero só ver se vai ficar assim quando for minha vez... Vou cobrar, viu?

- Minha ciumentinha, não precisa fazer beicinho. E saiba que então terá seu pai nervoso também.

- Só ele não me fazendo passar vergonha...

Rom entra na cozinha, com suas roupas de academia, todo suado e lindo, interrompendo nossa conversa. Ele já pode ter os cabelos rareando no topo da cabeça, usar óculos para ler, precisar malhar muito para manter a forma, mas ainda é o homem mais bonito que já vi. Vem até mim e beija meus lábios com delicadeza.

- Mais calma, meu amor?

- Que nada, papai. Estou prestes a fazer um chá para ela – minha filha entrega antes de subir para se trocar.

- Querida, você é adorável, impossível não te amar. A moça ficará encantada – ele me abraça e não consigo me importar que agora precisarei de um banho também.

- Obrigada, adoro como tem jeito com as palavras – digo entre beijos. Ele me puxa pela mão em direção às escadas, mas volto um instante para desligar o fogão, antes de acompanhá-lo.

Arrumo meus cabelos mais uma vez diante do espelho, está longo novamente e ninguém diria que já o perdi todo. O câncer é apenas um pesadelo que ficou no passado, no entanto trouxe sua cota de coisas positivas. Nossa associação para mulheres acometidas por esta terrível doença cresceu muito, o que nos possibilita atender a um grande número de pacientes. Conseguimos sensibilizar muitos profissionais, que atendem gratuitamente e recebemos muitas doações. Cada vitória é comemorada e cada perda é sentida por todos, porém nos motiva a ir adiante.

Desço para a cozinha e confiro mais uma vez se tudo está em ordem. Amanda passa por mim balançando a cabeça divertida. Estamos todos na sala quando meu filho entra com a menina, pois aparenta ter uns 16 anos apenas, apesar de eu saber que tem 20. É morena, com uma pele naturalmente bronzeada muito linda e grandes olhos escuros. Já havia visto fotos antes, mas nada como encontrar frente a frente. Tem um ar de doçura e meiguice que me faz entender meu filho.

- Pai, mãe, está é a Natália. Princesa, meus pais – ela nos cumprimenta com um sorriso tímido e posso dizer que caí de amores por ela.

O almoço é permeado de muito riso e histórias. Não resistimos a contar as travessuras de nosso menininho, para diversão dela e constrangimento dele.

- Amor, lembra quando ele perguntou se estava muito "ock"?

- Foi tão fofo – digo me voltando para ela para contar em detalhes – Ele tinha uns 3 aninhos e eu estava o ajudando com o banho. De repente começou a gritar, gesticular, balançando a cabeça e terminando por se jogar no chão, deslizando de joelhos. Me olhou todo orgulhoso e perguntou se está muito "ock". Só então entendi que estava imitando um roqueiro com sua guitarra.

- Queria seguir os passos do papai, o meu garotão – Rom completa sorrindo para o filho e bagunçando seu cabelo – Ele tinha uma banda completa montada no quarto, cada dia era um instrumento novo que atacava. Fazia uma barulheira terrível, e tínhamos que aplaudir e pedir bis, senão chorava.

- Agora chega de me fazer passar vergonha, família. Onde está a sobremesa? – tenta mudar o foco, mas sem sucesso.

- Continuem, por favor. Estou adorando – Nat faz um carinho nele para apaziguá-lo e as narrativas continuam por mais uma hora.

Minha nora faz questão de me ajudar com a louça, mostrando que quer aprovação tanto quanto eu. Após terminarmos, meu filho a leva para conhecer a cidade. Ela ficará conosco neste carnaval e já preparei um dos quartos de hóspedes. Amanda também sai com as amigas para um cinema e ficamos apenas eu e meu marido em casa.

Aproveitamos para descansar em nosso quarto. Enquanto leio um livro, faço carinho em seus cabelos como ele tanto gosta, chegando a cochilar. Estes momentos de quietude e silêncio não incomodam de forma alguma, sentimo-nos confortáveis na presença um do outro, não precisando preencher os espaços com palavras. Quando ele desperta, lhe entrego um pacote. Havíamos trocado presentes de manhã, recebi o diário que sempre ganho, além de um lindo colar de opalas, já que aos 24 anos de casados comemora-se bodas desta pedra. Eu lhe dei uma coletânea comemorativa de seu cantor favorito.

- Mais um, amor? Está me mimando... – diz abrindo o envelope - Passagens para a Europa?

- Só de ida e apenas para nós dois – digo aproximando-me dele – Acho que merecemos uma nova lua de mel.

- Hum, gostei desta ideia. Quantos dias planejou?

- Pensei em viajarmos sem roteiro definido, nem prazo. Conhecemos vários países em suas turnês, mas com sua fama não era possível aproveitar.

- Você querendo viajar tanto tempo sem os filhotes? – pergunta rindo, com um brilho entre divertido e excitado no olhar.

- Já estão grandinhos, podem ficar sem nós – falo enquanto espalho beijos em seu rosto, fazendo uma trilha que desce pelo pescoço – 21 e 18 anos, não precisam mais de nós.

- Onde estão as malas? Não vou nem me despedir para não correr o risco de um deles querer vir junto – brinca antes de tomar minha boca num beijo apaixonado.

Tantos anos de casados, e o amor e a paixão não diminuíram. Perdemos a noção da hora, numa entrega mútua, plena em carinho.


Filhos crescidos, descobrindo o amor... E nosso casal continua vivendo o seu em plenitude.

Boa semana a todos e até quarta-feira. Muito obrigada

Rom & JuliOnde histórias criam vida. Descubra agora