Capítulo 21

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15/02/2053

40 anos de casados, 63 de idade... Como o tempo passou rápido... Olho para Rom ao meu lado e ainda vejo aquele menino confuso, que fugia de seu amor por mim, com medo de perder a melhor amiga. Ele me sorri, com o mesmo sorriso amoroso de todos os dias, e agradeço a Deus pela dádiva de dividir minha vida com ele.

Volto minha atenção para o telão à nossa frente. Em comemoração à nossa boda de Esmeralda, nossos filhos e netos prepararam uma linda festa. Nossos amigos e parentes estão todos reunidos para comemorar conosco. Alugaram um belo salão de festas, que está decorado com tulipas, minhas favoritas. Uma das bandas que meu marido ajudou com sua gravadora animará os convidados logo mais.

Fico feliz em notar que muitas mulheres beneficiadas com nossa associação estão presentes. Cada vitória que elas representam é um presente para mim. Cris e eu já nos afastamos da diretoria, mas ainda participamos de várias reuniões e atendimentos. A Tempest fez seu show de despedida há 11 anos em pró do hospital que construímos e foi com o valor destes ingressos que terminamos as obras. Rom tocou e foi emocionante vê-lo uma última vez com sua guitarra, interpretando as nossas músicas.

Toco meu singelo colar de esmeraldas, presente de meu marido, e me recordo com carinho do novo diário que me espera na cabeceira de minha cama. Ele não falhou em nenhum ano, desde nossos 12. Guardo com carinho no sótão cada um destes registros dos anos que vivemos juntos, e já avisei que quero que entreguem para nossos filhos e netos quando eu me for.

Inicia-se o vídeo que meu Guto preparou e um silêncio respeitoso preenche o salão, mas é logo quebrado por expressões de encantamento. Na tela, surgem dois bebês recém-nascidos nos colos de suas mães. Meus olhos marejam ao ver minha mãe e Tia Priscila, tão jovens e felizes, nossos pais com sorrisos gigantes e orgulhosos. Seguem-se imagens de nós crianças, em nossa casa da árvore, palco de tantas brincadeiras e descobertas. Andando de bicicleta, cantando com meu microfone, fantasiados, sujos de lama. De fundo a música sobre nossa amizade.

O filme chega à nossa adolescência e juventude, e me perco nas lembranças de anos que sufoquei meu amor, tentando esquecer um sentimento que julgava não ter futuro. Meu Rom nos primeiros anos da banda, minhas amigas da faculdade, meus irmãos e eu. Por fim, nós juntos, nosso casamento, nossas viagens.

Quando surge nosso filho, ainda bebê, não posso deixar de olhar para ele agora um homem, como seus 3 filhos e sua esposa ao seu lado. Ele se dedicou a trabalhar na gravadora do pai, enquanto ela foi me ajudar com a associação, sendo hoje a presidente. Meus netos chegaram com um intervalo pequeno, meus meninos queridos, Túlio, Luís e Marcos.

Viro-me para observar minha Amanda, que agora é retratada no vídeo. Ontem mesmo uma menininha e hoje já é uma mulher, mãe de um casal de gêmeos, Juan e Júlia, e uma excelente médica. Quis trabalhar um ano nos Médicos sem fronteira após se formar, onde conheceu Inácio, um argentino que curou seu coração de quaisquer mágoas e dores do passado. O amor nasceu entre eles em meio à dor que ajudavam mitigar, num trabalho árduo e inspirador. Seu marido sorri para ela e fecho meus olhos relembrando de seu casamento. Minha princesinha estava tão linda e feliz, mãos trêmulas de nervosismo, sorriso radiante no rosto. Rom era uma pilha de nervos, alegre pela filha, mas com medo de perder sua bonequinha também. Eu estava plena de amor e orgulho, como ainda hoje. Meus filhos nunca me deram desgostos, foram sempre um fonte abundante de alegria.

Vejo Rom enxugando as lágrimas que teimam em rolar, ele não gosta de mostrar vulnerabilidade, mas não pode deter a emoção. Ele aperta mais forte minha mão e deposita um beijo em minha testa, antes de voltar a atenção para o telão. Nossos filhos crescidos, nossas viagens em família, os casamentos, os netos.

Rom & JuliOnde histórias criam vida. Descubra agora