Capítulo 8

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A pedido de uma amiga leitora chorona, vou postar uma capítulo extra nesta semana. Muito obrigada @marcelatonetto pelo apoio.

15/02/2010

Vim para o sítio dos meus avós para fugir do carnaval. Adoro dançar e cantar, mas esse não é meu estilo. Aproveitarei para curtir minha família, pois logo as aulas começarão. É meu terceiro ano na universidade de psicologia, amo meu curso e meu apartamento, mas sinto muita falta de casa.

Cris e Manoela são ótimas colegas de quarto, nos divertimos muito, elas nunca me deixam ficar abatida ou desanimada. Saímos muito e nos tornamos grandes amigas, mas há sempre uma parte minha querendo minhas raízes. Quem estou querendo enganar, sinto falta mesmo é do Rom. Com o sucesso de sua banda, só o vi no Natal, depois de 6 meses falando-nos apenas por telefone e mensagens. Eles estão viajando por todo o país, e já lançaram o segundo álbum, o qual ficou entre os mais vendidos no ano passado.

Tenho muito orgulho dele, mas muita saudade também. Acompanho sua carreira através de revistas, programas de TV e internet. E enquanto eu estou sozinha desde que terminei com Bento, já cansei de ver matérias sobre seus casos e affairs. Ele diz que é tudo exagero da mídia, que nem um quarto do que noticiam é verdade, mas meu coração se despedaça cada dia mais. O fato é que o queria comigo, mas já não tenho mais esperanças.

Num esforço para deixar os pensamentos deprimentes de lado, coloco meu biquíni e vou aproveitar o dia ensolarado na piscina. Meus irmãos já estão na maior folia e me permito viver este momento com eles, sem dramas. Só saímos quando minha mãe avisa que o almoço está servido e estamos mortos de fome.

No entanto, antes de minha avó servir a sobremesa, que é meu bolo de aniversário, tia Priscila pede licença para atender ao telefone. Após alguns minutos, volta com o rosto banhado de lágrimas, muito nervosa.

- O que aconteceu? É o Rom? – ele é o primeiro que me vem ao pensamento.

- Não, querida. É o Benício. Foi internado às pressas, teve uma hemorragia, não entendi direito. Preciso ir embora.

- Não pode dirigir assim, eu e Humberto levaremos você. Mais tarde Julieta leva seu carro.

- Obrigada, minha amiga.

Eles partem em seguida e fico para ajudar minha avó com a louça. Combinamos que eles me ligarão confirmando se voltarão ou não para cá, dependendo do estado do pai do meu amigo.

Tento ligar para Rom, mas não atende. Estou muito preocupada com ele. Seu relacionamento com o pai é muito frio e distante, e pode não haver tempo para mudar isto. Acreditamos que temos a vida toda para corrigir o que não está bem, mas na verdade precisamos viver plenamente cada dia. Tio Benício sofre de alcoolismo, assim como seu pai, mas não procurou ajuda. A esposa tentou de todas as formas, mas nada adiantou. É necessário a pessoa querer se libertar do vício, e ele não conseguiu ter a força de vontade necessária. Meu amigo se ressente disso, pois acredita que o pai não o amava o suficiente para lutar pela família deles.

Minha mãe me liga no início da noite pedindo que vá para casa e traga o carro da tia Priscila, pois ela passará a noite no hospital, mas precisará do veículo pela manhã. Meus irmãos resolvem me acompanhar e despedimo-nos de meus avós em seguida.

Tomo um banho demorado e estou me preparando para dormir quando noto luz na minha casinha da árvore. Será que é algum dos meus irmãos? Resolvo conferir e me surpreendo ao encontrar Rom, sentado com as pernas cruzadas, já que o espaço é pequeno para alguém tão alto como ele.

- Meu Deus, o que faz sozinho aqui? Pensei que estivesse em São Paulo hoje.

- Minha mãe me ligou mais cedo, Juli – seus olhos marejam - Meu pai está morrendo.

- Sei que foi internado hoje, mas minha mãe não me disse mais nada. O que aconteceu? – sento-me ao seu lado e o abraço. Ele deita sua cabeça no meu ombro e sinto uma lágrima quente cair na minha pele.

- Ele está com cirrose hepática devido à bebida. Não se cuidou quando os sintomas apareceram e agora já é tarde.

- Mas tão rápido?

- Faz tempo que está doente, porém não procurou ajuda. Hoje ele teve uma hemorragia digestiva, um sintoma decorrente da cirrose. Perdeu muito sangue e está muito fraco. Seu fígado foi destruído pela bebida.

- Não há nada a se fazer?

- Só um transplante, mas ele não conseguirá um órgão novo, não com o histórico dele.

- Sinto muito, Rom. Você foi visitá-lo?

- Sim, estive como ele até agora há pouco. Ele ainda está no hospital e talvez possa ir para casa, mas não há muitas esperanças. Sabe, eu não tenho um relacionamento muito bom com ele, mas é meu pai, não quero perdê-lo.

- Deixe a mágoa de lado agora, Rom. Aproveite o tempo que ele tem para se aproximar.

- Farei isso, não posso perder mais tempo.

- Como sua mãe está?

- Arrasada, mesmo depois de todas as brigas e da separação, ela ainda nutre sentimentos por ele.

- Minha mãe disse que ele foi o grande amor da vida dela, que a bebida os separou, mas que ela nunca deixou de amá-lo.

- Não entendo como é possível, mas vi que é verdade hoje. Havia tanto amor e dor nos olhos dela... – sua voz falha e o aperto mais forte.

- Calma, eu estou aqui.

- Senti tanto a sua falta, Juli. Não me deixe fora da sua vida de novo.

- Não sou eu que me afasto, Rom – digo baixinho e nem sei se ele ouve.

Ele ergue a cabeça e encontramos nossos olhares. Ele está tão triste e dói tanto vê-lo assim que só quero encontrar uma maneira de tirar a sua dor. Seu rosto ainda está molhado pelas lágrimas que derramou e, num impulso, seco cada uma delas com um beijo, a última estando no canto de seu lábio.

Afasto-me assustada com minha ousadia, mas Rom me puxa de volta e toma minha boca num beijo desesperado, no qual me entrego por inteiro. Não me importo se é apenas carência, me dou por inteiro neste beijo, derramo todo meu amor e a compaixão que sinto. Ele só se afasta quando já não podemos mais respirar e estamos ofegantes.

- Não posso mais, Juli. Eu tentei, mas não consigo ser só seu amigo. Sou completamente apaixonado por você desde pequeno, lutei muito, mas não suporto mais.

- Pensei que nunca ouviria você dizer isso... Não sabe quantas vezes dormi rememorando o nosso beijo.

- Te amo, Juli. Me perdoa por te afastar, te magoar, sempre foi só você em meu coração. Eu fui um idiota medroso. Fica comigo, seja minha namorada.

- Eu te amo, Rom, nunca quis ninguém além de você.

Ele volta a me beijar e correspondo com toda a paixão e amor reprimidos por tantos anos. 


Até que enfim, não aguentava mais kkk

O que acharam? 

Até amanhã e muito obrigada a todos


Rom & JuliOnde histórias criam vida. Descubra agora