Capítulo 2

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15/02/2002

Acordo com minha mãe entrando em meu quarto, meu pai vem logo atrás. Ela tem uma bandeja nas mãos, com um pequeno bolo decorado com confeitos coloridos e 12 velinhas acesas.

- Bom dia, princesa. Feliz aniversário!

Sento na cama surpresa, afinal já tive minha festa no sábado passado. Apago as chamas com um sopro e ganho o abraço de meus pais. Meus irmãos entram também e pulam em cima de mim, gritando parabéns. Após me desvencilhar dos pequenos, recebo um pacote de meu pai.

- Outro presente? Muito obrigada, papai – abro e encontro um microfone sem fio, que fiquei namorando na vitrine da loja quando fomos procurar um presente do Rom.

- Você merece, meu amor. É uma ótima menina.

Adoro cantar e ouvir música alta, para desespero da minha mãe. Ela brinca que nem entrei na adolescência direito e já estou estourando seus tímpanos e a deixando maluca.

- Vamos tomar café, filha, é seu aniversário, mas tem aula. Logo sua tia Priscila buzina – troco-me e desço para a cozinha.

Minha mãe corta o bolo, que está delicioso, e tenho toda a minha família ao meu redor. Diego reclama que recebeu uma fatia muito pequena e Oscar o imita. Tudo o que um pede o outro quer também. Apesar destas briguinhas bobas de criança, estão sempre grudados, o que me faz pensar no meu amigo Rom. Ao contrário da minha família feliz e numerosa, agora só restam ele e sua mãe, já que seus pais se separaram há alguns meses, depois de anos de brigas. Ele diz que está aliviado com o final das discussões, mas não me engana, sei que sonhava com que seus pais se entendessem.

Tio Benício mudou-se para a cidade vizinha, onde trabalha, e o filho o vê a cada 15 dias apenas. Rom não gosta de passar o final de semana com ele e sempre arruma desculpas para visitas rápidas. Com o divórcio, minha tia voltou a trabalhar e conseguiu uma vaga de secretária de um empresário, porém faz muitas horas extras, voltando para casa só à noite. Meu amigo passa cada vez mais tempo comigo, e seu relacionamento com os pais é muito distante. Ele tem se fechado para eles e é triste ver esta frieza no seu relacionamento familiar.

Escuto a buzina e corro para não deixá-los esperando. Despeço-me de minha família, coloco a mochila nas costas e saio.

- Bom dia, Juli, parabéns querida.

- Obrigada, titia – viro-me para Rom e ele me sorri, abraçando-me.

- Parabéns para nós – ele me entrega um embrulho. Abro e encontro um diário perfumado, ele sabe que adoro coisinhas fofas.

- Muito obrigada, adorei. Seu presente é apenas depois da aula, tenho uma surpresa – digo adorando ver sua expressão curiosa.

- Fala, Juli, não me deixa na expectativa.

- Nada disso, mas sei que vai adorar – ele abre a boca para insistir, mas mudo de assunto - Ganhei um microfone sem fio, não vejo a hora de estrear.

- Podemos montar uma banda então. Acredita que meu pai me deu um teclado? Vou começar com as aulas no próximo mês.

- Será ótimo, Rom e Juli serão um sucesso - ele sorri animado e fico feliz que esteja mais leve hoje, estava preocupada com seu primeiro aniversário após a separação.

Na escola, como faltaram muitos alunos por causa de ser semana de carnaval, os professores não dão matéria nova. Deixam os alunos conversarem em pequenas rodas. Organizo um jogo e logo toda a sala está envolvida. Sempre tenho facilidade de que façam o que peço e minha mãe diz que sou uma líder nata. Rom já é mais calado, mas o envolvo e por fim está brincando como todos.

Já faz quatro anos que Romeu insistiu em que as comemorações de nosso aniversário sejam em dias e com temas diferentes. Porém este ano a sua festa, que seria no próximo domingo, foi cancelada, devido aos problemas em sua casa. Ele diz que não se liga, que é melhor assim, já que não quer ver seu pai bêbado estragando tudo, mas sei que está chateado. Por isso, pedi ajuda da minha mãe e fiz seu bolo favorito e convidei nossos coleguinhas da escola para uma festinha na nossa casa da árvore. Será apenas para as crianças, mas acho que ele vai gostar, apesar de sua timidez.

Combinei os detalhes com nossos amigos na escola e, no horário marcado, peço para todos se esconderem na garagem enquanto atraio Rom para a surpresa. Ele não desconfia de nada e leva um grande susto quando as crianças surgem gritando seu nome. É uma algazarra, e meus irmãos são os mais animados. Minha mãe trás os lanches que fez e meu amigo olha para tudo admirado.

- Obrigado, Juli, você me pegou mesmo.

- Gostou? Sei que não é de muita festa, mas não queria que esta data passasse em branco.

- Eu adorei, veio todo mundo, não imaginei que viriam – Monique, uma colega nossa, se aproxima com um presente, toda corada e sorrindo para ele.

- Parabéns, Romeu – ele recebe o embrulho e um beijo no rosto, ficando muito vermelho, enquanto agradece envergonhado.

De uns tempos para cá, percebi que as meninas ficam cochichando sobre o Rom e só agora entendi o motivo. Ele está crescendo e é um dos mais altos da turma. Destaca-se também com seus olhos verdes, cabelos loiros escuros e suas covinhas. É realmente muito bonito, não sei como não reparei antes. Monique volta para suas amigas e todas sorriem e olham para ele. Fico irritada com as risadinhas e puxo meu amigo para longe.

Passamos uma tarde divertida com muitas brincadeiras e animação. Ligo meu microfone e todos têm a oportunidade de cantar um pouco, apesar de que alguns só querem mesmo é fazer barulho. Porém Jeff, o melhor amigo de Rom depois de mim, tem uma ótima voz e todos pedem bis quando para.

As mães buscam as crianças ao final da tarde e, por fim, restamos apenas nós. Meu amigo está cansado depois de tanta diversão e correria, e nos sentamos aos pés de uma mangueira.

- Ainda não te dei meu presente.

- Tem mais ainda?

- Sim, esperei todos irem embora.

Ele não esconde a empolgação quando abre o pacote e encontra um jogo recém-lançado.

- Você adivinhou, estava doido por isto. Muito obrigado.

- Vamos jogar, então?

- Só se for agora – corremos para meu quarto passamos algumas horas nos divertindo, parando apenas para jantar.

Sua mãe chega para buscá-lo e está com um ar exausto. Olho para o relógio, constatando que já passa das 21h. Nem no dia do aniversário do filho conseguiu sair mais cedo e vejo como está chateada com isso.

Tomo meu banho, mas ainda não consigo dormir. Resolvo escrever no meu diário novo. Abro a primeira página e admiro as flores e corações por toda a borda da folha. Coloco no papel tudo que aconteceu no dia, mas, de todas as lembranças, a que mais me chama a atenção são as risadinhas de Monique e amigas. Será que o Rom percebeu também? Como será que se sente com a atenção que desperta? Até ontem éramos apenas crianças, quando foi que isto começou a mudar? Não quero crescer tão rápido e nem perder meu amigo para alguma namoradinha.

Fecho meu diário e deito-me. Acho que estou me preocupando à toa, temos apenas 12 anos afinal. De qualquer forma, Rom e eu seremos amigos para sempre e ninguém vai nos atrapalhar.


Eles estão crescendo... O que acharam da história ser contada a cada dia 15/02?

No próximo capítulo, teremos mais animação. 

Coloquei uma música no início, foi usada em filme infantil kkk, mas é linda e fala sobre amizade, achei que combinava. Gostaram?

Bom final de semana e até segunda. 

Muito obrigada por me acompanhar até aqui.

Rom & JuliOnde histórias criam vida. Descubra agora