Capítulo 5

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15/02/2007

Estou ajudando minha mãe com a louça do almoço quando a campainha toca e ela me pede para atender a porta.

- Julieta Ramos de Oliveira? – o entregador da floricultura pergunta, com um grande ramalhete de rosas vermelhas nas mãos.

- Sou eu – ele me entrega e pede para assinar o recibo. Agradeço e entro, procurando o cartão, apesar de desconfiar de quem sejam. São de Maurício, com imaginei:

"Julieta, meu amor

Te envio estas singelas flores para lhe desejar feliz aniversário. Receba, em cada uma delas, um beijo meu.

"O que é que há, pois, num nome? Aquilo a que chamamos rosa, mesmo com outro nome, cheiraria igualmente bem"*(*frase famosa de Romeu e Julieta)

O que há em meu coração, senão amor pela minha bela Julieta?

De seu namorado apaixonado

Maurício"

Não posso deixar de sorrir, ele é meio piegas, até brega diria, mas sei que gosta mesmo de mim. Suspiro e levo as rosas para a cozinha, a procura de um vaso. Estamos namorando há 2 meses, após muita insistência dele. Ele não é da minha cidade, e nos conhecemos nas férias de julho, através de uma prima dele que é minha amiga. É 2 anos mais velho do que eu, já está na faculdade e não sei o que viu em mim. Desde que me conheceu, disse que não consegue pensar em mais ninguém. Passou os meses seguintes enviando cartas e mensagens, implorando por uma chance e, quando esteve aqui em dezembro, resolvi aceitar seu pedido. Ele mora longe, há cerca de 4 horas de viagem, e vem para cá apenas nas férias e feriados prolongados, nosso namoro é mais por telefone e e-mails.

Não estava apaixonada por ele, e nem estou ainda, mas precisava tomar uma atitude. Não podia ficar chorando pelos cantos pelo Rom, precisava dar um jeito de esquecê-lo e voltar a gostar dele apenas como amigo. Conforme sua banda faz mais sucesso, o desfile de garotas em seus braços aumenta e meu coração já se partiu tantas vezes que nem sei se é possível remendar. Ninguém imagina o quanto sofro em silêncio. Todos só veem a Julieta alegre, sorridente, animada.

Tenho muitos amigos e estou sempre cercada de pessoas. Não me faltam pretendentes, mas sempre os dispenso. Acho que só aceitei o Maurício por ele não morar aqui e não precisar me dedicar ao namoro, e tenho também agora uma desculpa para dispensar o pedido de outro rapaz.

Após arrumar as flores em meu quarto, ligo para Maurício para agradecer e ele atende ao primeiro toque.

- Parabéns, meu amor. Como gostaria de estar com você neste dia especial – diz antes mesmo de eu falar qualquer coisa.

- Recebi seu presente, são lindas, muito obrigada.

- Linda é você, minha rosa. Estou contando os dias para o feriado, não vejo a hora de te ver - Sinto-me mal com a intensidade de seus sentimentos por mim, pois por mais que tente, não consigo corresponder.

- Está chegando, mais dois dias e estará aqui.

- Serão uma eternidade para mim, amor. Tem algo programado?

- A Tempest, banda do Rom, irá tocar no sábado à noite em uma festa para aqueles que não gostam de carnaval. Eu adoraria ir, evito perder suas apresentações.

- Claro, tudo que você quiser.

- Preciso desligar, só liguei mesmo para agradecer – sei que agora se seguirá longos minutos de despedida.

- Tchau, amor, te ligo mais tarde. Não se esqueça que te amo e que é a dona do meu coração... – depois de muitas declarações de amor da parte dele e evasivas da minha, consigo finalmente desligar.

Este namoro à distância já está sendo difícil, não suportaria ter ele por perto todos os dias. Sei que não é certo estar com ele sem amá-lo, mas fui sincera desde o começo, nunca o enganei. Porém, acho que já foi o suficiente para eu saber que não é ele que me fará esquecer o Rom. Quando Maurício me beija, não sinta nada semelhante ao que senti em meu aniversário de 15 anos e tenho que me forçar a não sair correndo. Irei terminar neste feriado, não posso mais manter esta situação. Não é justo com nenhum de nós.

Meus irmãos estão na escola e convido minha mãe para dar uma volta no mini shopping de nossa cidade. Estou me preparando para sair quando Rom chega.

- Está de saída? – ele me pergunta ao me ver arrumada, mas é minha mãe que responde.

- Que bom que chegou, meu filho, assim acompanha a Julieta ao cinema. Eu disse que iria, mas apenas para não deixá-la sozinha hoje. Estou com uma dor de cabeça terrível.

Minha mãe parecia perfeitamente bem até uns minutos antes, e acho que esta mudança faz parte de seus planos de me unir ao Rom. Quando comecei a namorar o Maurício, ela me disse que estava feliz por mim, mas um pouco decepcionada, já que tia Priscila e ela sonham em nos ver juntos desde nosso nascimento. Quase contei para ela que quero também isto, mas não consegui me abrir, apenas sorri e disse que era improvável, que éramos apenas amigos, quase irmãos. O Romeu e a Julieta originais teriam um final bem diferente se tivessem o apoio que tenho, mas que não posso aproveitar.

- Vamos então, Juli. Podemos assistir Uma noite no museu, o que acha? Ainda está em cartaz.

- Claro, quero mesmo assistir a este filme. Mas você já não foi com a Raíssa?

- Até fui, mas não entendi direito... – Ele fica sem graça e não quero pensar nos motivos para isso. Engulo minha vontade de chorar e despeço-me de minha mãe.

Tento esquecer este incidente e aproveitar a tarde ao lado do meu amigo. O filme é muito engraçado e me divirto muito. Após a sessão, passamos na sorveteria e ficamos conversando até às 21h. Nestes momentos, só nós dois, sem Maurício, ou Raíssa, Monique, Juliana, entre outras, sou muito feliz. É ótimo ter ele assim apenas para mim, e, tirando meus sentimentos, posso falar de tudo com ele e ninguém me entende tão bem.

- E os shows?

- Estou muito animado, temos vários programados. A sua música é uma das mais pedidas.

- Sinto tanto não conseguir ir a todas as apresentações, mas com o vestibular chegando, estou estudando demais.

- Já decidiu em qual faculdade prestará vestibular? – ele me pergunta ao sairmos do shopping.

- Tentarei cinco ou seis, em nosso estado e nos vizinhos. Quero perto daqui, mas posso não passar.

- Você é ótima aluna, isso não será um problema. Mas me preocupo de você ir para longe, será a primeira vez que não estudaremos juntos – sinto um aperto no peito ao ouvir isso.

- Tem razão, mas ainda nos veremos sempre que possível e há e-mail, telefone... Manteremos contato – falo com animação, mas por dentro estou angustiada.

Chegamos e ele me dá um abraço apertado de despedida no portão de minha casa. Por um momento, a lembrança daquele nosso beijo vem com força à minha mente. Pela forma como ele me olha, sei que está lembrando também. Porém, ele se afasta, deseja boa noite e caminha para longe de mim.

Meus olhos se enchem de lágrimas, mas disfarço para meus pais não perceberem e entro. Vou para meu quarto, tranco a porta e deitada com o rosto no travesseiro, deixo minha angústia sair, num choro dolorido. Já perdi a conta de quantas noites dormi assim, cansada depois de tanto chorar por meu amor não correspondido.


Já aviso que também estou com raiva do Rom kkkk

Bom final de semana e até segunda. Muito obrigada.


Rom & JuliOnde histórias criam vida. Descubra agora