Capítulo 9

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Jeremy e eu escolhemos assistir Colateral, um filme do meu pai. O filme se resume em: meu pai tem que matar cinco pessoas e pega um táxi. O taxista tenta impedir ele de matar a quinta pessoa. Fim. Mas tem muita ação, lutas e tal.

Jeremy assistiu o filme inteiro, já eu assisti pela metade. Eu sempre acabo dormindo na metade dos filmes.
Meu pai chegou em silêncio, eu nem ouvi. Na verdade eu só acordei na manhã seguinte na minha cama. Calma. Na minha cama?! No criado mudo havia um bilhete, que estava escrito:

"Estou indo embora, espero que você não se importe por eu ter te colocado na cama. A comida estava ótima, e o filme também. Adorei passar umas horas com você e espero que surja mais oportunidades para que fiquemos juntos mais vezes. Boa viagem e espero que sua viagem seja incrível e que o encontro com sua família, inesquecível. Bons sonhos pequena.
Beijos, Jeremy."

Fiquei surpresa.

Jeremy é carinhoso. Sorri enquanto eu lia.

Resolvi levantar da cama. Que preguiça. Que horas são? 07:56. Legal.

Tenho algumas horas até o vôo, mas poderia ter acordado um pouquinho mais tarde. Fiz a minha higiene matinal e desci as escadas. Encontrei meu pai com uma calça jeans, camiseta com estampa tipo exército (acho que ele já está pegando a mania dos filmes, de usar roupas como do exército) e aparentemente o cabelo dele estava molhado, ou seja, ele acabou de tomar banho. O perfume o entregava, parece que ele tomou banho de perfume também. Homens... sempre exagerando na quantidade de perfumes. Ele estava pronto já. Mas não é nem oito da manhã ainda! Ah, e com um óculos de sol na mão.
- Bom dia papito.

- Bom dia bela adormecida. Dormiu bastante ontem hein... Jeremy teve que te colocar na cama. -Ele riu. -Mas você ainda nem está pronta? -Me olhou de cima à baixo.

- Pai. Presta atenção: não é nem oito horas da manhã, eu acabei de levantar de um sono pesado e olha que você sabe que eu não durmo bem à meses e caramba, por quê você já está pronto? - Suspirei.

- Tenho que resolver umas coisas. Que bom que você dormiu bem. Eu vou dar uma saída agora e eu te perdoo por não estar pronta à essa hora, era uma brincadeira. Vai lá, se arruma enquanto eu saio. Jeremy vai te ligar eu acho, não tenho certeza. Mas enfim, estou indo. -Papai veio até mim, me abraçou e me deu um beijo na bochecha. - Se cuida que eu já volto.

Tomei um café que comprei o refil na Starbucks, que por sinal estava delicioso, tomei um banho relaxante e coloquei uma roupa fresca, apesar de estar ventando em Los Angeles, eu sabia que chegando no Brasil estaria um calor insuportável se eu conheço bem o clima.

Conferi minha mala pela última vez e vi se a casa estava toda em ordem e trancada direito.

Me sentei no sofá e fiquei ali. Era por volta de 8:37 hrs da manhã. Vi o piano ali na sala e senti uma vontade enorme de tocar. Sentei na banqueta e pensei em uma música. Resolvi tocar I Can't Be Mad de Nathan Sykes. A letra é linda. Comecei a tocar e cantar ali, naquela sala sozinha:

"The bigger picture,

I'll be with ya, many years for now
So go your own way, do your own things

I don't see working out

Gave permission

To take the easy way out

Bad decision

'Cause I'm here missing you now

But I can't be mad

For loving you that way

I can't be mad

I gave you my heart to break

Can drown in sorrow, try to numb the pain

But I can't be mad

Because I'm the one to blame."

Eu ia começar a tocar a segunda parte, ouvi um aplauso atrás de mim.

Olhei para trás assustada, pois instantes atrás eu estava sozinha. Vi meu pai quase chorando encostado na porta e me aplaudindo sem parar. Fui até ele e o abracei. Eu sabia que ele estava pensando em minha mãe. Sempre que eu toco ele lembra nela, pois ela que me ensinou a tocar.

Ele derramou uma lágrima e me separou de seu corpo, olhando em meus olhos e me disse em um som quase inaudível: "Eu Te Amo".

Voltei a abraçar ele e também disse que amava ele. Papai sempre fora carinhoso comigo, estava acostumada a lidar com esse comportamento dele e particularmente eu amava aquilo.

Ele ainda não está preparado para enfrentar o Brasil e eu sei bem disso. Mas ele quer tentar e me levar dessa vez. Às vezes, acho que na vida real ele não é tão bom assim para esconder sentimentos como nos filmes.

- Vamos pai. -O chamei olhando em meu relógio. - Já é 09:00hrs e vamos nos atrasar para o vôo.

- Vamos. - Ele conferiu outra vez a casa, trancou a porta e saimos rumo ao aeroporto. Nosso vôo sairia as 09:30hrs, por isso devemos chegar mais cedo para fazer o *check-in* e mais algumas coisas.

Meu pai chamou o Jackson, nosso motorista particular para nos levar. Entramos no carro e meu pai foi o caminho inteiro conversando com Jack, a amizade deles era admirável.
Chegamos lá no aeroporto e descemos do carro. Me despedi de Jackson e papai também, fomos juntos para dentro com nossas malas em mãos.

Alguns paparazzis estavam à vista e nos fotografavam enquanto íamos andando até o lugar que faz o check-in, mas não ligamos. Aquilo já era normal para nós. Fizemos, e agora era só esperar o vôo ser chamado para embarcarmos.

Comprei alguns salgadinhos para a viagem, apesar de saber que iria na primeira classe, eu sempre comprava alguma coisa antes. Meu pai ficou me observando o tempo inteiro e a expressão dele estava séria.

- Pai, aconteceu alguma coisa? - Perguntei.

- Nã... - Papai foi interrompido.

Vôo 153 com destino à São Paulo, Brasil, por favor embarque no portão 03.

- Vamos filha, chegou a nossa vez. - Papai disse mudando de conversa e ignorando a minha pergunta.

- Ah... Vamos! - Tentei parecer empolgada.

Caminhamos até o portão 03 e nos dirigimos até o avião. Entramos e fomos para a primeira classe. Graças a Deus eu peguei o lugar da janelinha, e meu pai se sentou ao meu lado.
Dez minutos depois, estávamos voando para o Brasil, onde toda a história dos meus pais começou.

Olhei para o lado e meu pai estava olhando para o chão, perdido em seus pensamentos e eu não quis o atrapalhar. Por isso, como a viagem teria 14 horas, eu fechei os meus olhos e peguei no sono.

Será que Superaremos Tudo?Onde histórias criam vida. Descubra agora