Capítulo 8

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Fui para a cozinha afim de preparar a lasanha. Eu não sabia se estava fazendo o certo, acho que as coisas estavam indo rápido demais. Mesmo assim, o jantar era uma boa opção, pois assim eu não teria que ver ele de novo tão rapidamente, eu espero.
Preparei os ingredientes e comecei a fazer a lasanha. Assim que terminei, coloquei a mesma no forno para assar. Resolvi fazer um pavê de chocolate para servir de sobremesa. Coloquei o pavê na geladeira depois de pronto, pois ele gelado é muito mais gostoso.
Lasanha assada, agora só faltava eu colocar a mesa e tomar um banho para esperar ele. Meu pai já havia tomado banho, então apenas ficou esperando.

Jeremy chegou na hora combinada. Esses americanos são sempre pontuais.
Abri a porta e lá estava um Jeremy totalmente lindo com uma calça jeans escura, camiseta polo branca e um sorriso maravilho no rosto, com um buquê de rosas lindo na mão.
  - Isso aqui é pra você Kate. -Me disse, entregando o buquê.
  - Obrigada Jeremy, são lindas! -Exclamei.
  Peguei e mandei ele entrar, logo em seguida colocando o buquê em um vaso. Jeremy cumprimentou meu pai e começaram a conversar coisas aleatórias. Eu apenas observava a intimidade que os dois tinha para conversar entre si com admiração. Depois de um tempo, meu pai se retirou da sala, logo em seguida me dizendo que iria sair. Fiquei meio zangada com ele porque uma das coisas que ele mais queria era comer a lasanha, e agora está saindo para não atrapalhar o meu jantar com o Jeremy.
Fomos para a sala de jantar. Enquanto eu fui pegar a lasanha no forno, ele permaneceu ali, observando o lugar. Quando cheguei com a assadeira na sala, percebi que Jeremy estava com uma das fotos da estante na mão direita, observando-a com uma cara de dúvida.
Ai não. Essa foto não! Eu não vou aguentar falar disso outra vez.
Aquela foto era um assunto delicado para mim. Não, não é uma foto minha e do Kumar. Se você pensou que fosse, está enganada.
Aquela foto é de uma menininha com 4 aninhos de idade atualmente. Ela se chama Clara. Era a minha garotinha. Não. Ela não é minha filha. É a minha sobrinha. Mas a tinha como filha adotiva. A mãe dela, Reymily faleceu no trabalho de parto. Apesar de ter sido uma gravidez de risco, Reymily tinha certeza que a filha nasceria bem, mas o que não contavamos era que Reymily morreria. Antes de ela partir, ela fez eu prometer que se alguma coisa acontecesse com ela, eu ficaria responsável por Clara, e a teria como filha. E assim eu fiz. Todos os dias da vida dela, até Clara ser sequestrada. Já faz seis meses e não a encontramos em lugar nenhum. Isso me corrói por dentro. Como o coração apertado de uma mãe quando seu filho sai de casa e não chega no horário que vocês combinaram. É a seis meses eu tento aceitar que talvez a Clara *nunca* volte para a casa.
  - Quem é ela? -Jeremy faz a pergunta mais temida por mim.
  - Ela é minha sobrinha. - Respondi e respirei fundo, tentando segurar as lágrimas. Jeremy vendo meu desespero pergunta:
  - Você está bem?
  - Ahn... é que esse assunto é um pouco delicado por mim.
  - Pode me contar se quiser. Quando estiver preparada, estou a ouvidos. - Ele responde na maior calma.
  - Obrigada. Daqui a pouco eu te conto, vamos comer se não a lasanha esfria. - O chamei para a mesa.

Nos sentamos e nos servimos. Comemos a maior parte em silêncio, até que Jeremy decide cortá-lo.
  - Essa lasanha está uma delícia! Nunca comi nada igual. - Ele elogia.
Sinto meu rosto esquentar e acho que estou vermelha.
  - Obrigada.

Terminamos e fomos para a sala. Ele ficou olhando os quadros pendurados na parede. Tinha diversas fotos minha e do meu pai, minha e da Renata, minha sozinha, meu pai em algumas premieré e uma da Clara comigo. Ele parou outra vez e ficou contemplando a foto com Clara. Meu coração disparou. Estava quase sem ar. Literalmente.
Ele me olhou, e nos olhos dele vi um ponto de exclamação dizendo: "e aí, você não vai me explicar? Estou esperando!"
Antes de piorar a situação, eu comecei a falar:
  - Clara é a minha única sobrinha. Ela desde pequena tem o hábito de me chamar de mãe. Eu já tentei cortar, mas meu pai não deixou. Ele disse que isso faria bem para ela. Ela sempre me respeitou, me trata como mãe e como tive a responsabilidade de ter ela como filha, eduquei ela da melhor maneira possível, até porque quando ela nasceu eu tinha 18 anos. Na época fiquei desesperada pois eu tinha acabado de começar a faculdade e não sabia o que fazer. Tive que seguir um cronograma totalmente rigoroso e nos primeiros meses de vida da Clara, tive que deixar ela com a Renata e meu pai revezava com ela as vezes quando estava de folga. Foi difícil, mas não me arrependo nenhum segundo de tudo que fiz. -Sinto uma lágrima escorrer. - Ela cresceu, eu continuei na faculadade e tive que mudar os dias; apenas ia pra faculdade nas segundas e quartas. E o resto da semana era eu e Clara brincando o dia inteiro e saindo para passear. Ela nunca me desobedeceu, sempre fez tudo o que eu pedia. Tínhamos aquela relação amiga-mãe-filha. Eu nunca tive a coragem para contar a ela a verdade. Nunca contei a ela que na verdade eu sou sua tia e não sua mãe. Ela sempre me exibiu para as suas amiguinhas, sempre teve muito orgulho de mim. Eu amo aquela menina de um tanto que você não pode imaginar. -Dei uma pausa.
  - Meu Deus Kate. Eu.. eu não tenho palavras. Mas como? Como ela foi sequestrada? - Ele pergunta com cara de surpreso.
  - Nós estávamos no paque em Santa Monica. Ela estava se divertindo muito. Tínhamos acabado de ir na roda gigante. Ela estava eufórica. E com fome também. Fomos para uma lanchonete no píer e eu fui comprar alguma coisa para comermos. Fiz os nossos pedidos e quando fui pegar a Clara para sentarmos em uma mesa, ela não estava lá. Foi coisa de segundos. Eu fiquei desesperada, procurei ela naquela lanchonete inteira, e não a encontrei. Comecei a chorar e gritar por ela. As pessoas viram meu desespero e algumas começaram a procurar também. Avisamos a polícia e procuramos por todo o parque. Não tivemos resultados. Liguei para todos em prantos. Eu estava em pânico. Comecei a gritar, chorar, implorar para ter ela de volta e quis desejar nunca ter ido à aquele parque. Passei muito mal, esperamos o parque fechar, procuramos, procuramos e procuramos. Eu não conseguia dormir, pensando em tudo que poderia acontecer com ela. Fiquei sem dormir por três meses. Até hoje, eu nunca tenho um sono bom.  Sempre tenho pesadelos com aquele dia. Mas tento acreditar todos os dias que ela está bem e peço a Deus para que guarde ela onde estiver. A única coisa que eu nunca penso, mas que as vezes alguém me diz que ela pode estar morta. Só de pensar, eu fico... fico... -Começo a soluçar.
  - Ei, olha pra mim. Não fica assim, vem cá. -Jeremy sentou no sofá e me cerca entre seus braços. - Vai ficar tudo bem, você vai ver. Vamos encontrar ela, nem que eu tenha que ir para a China, mas nós encontramos.
Ficamos em silêncio por um tempo, até eu me acalmar e Jeremy teve a ideia de assistir a um filme.

Será que Superaremos Tudo?Onde histórias criam vida. Descubra agora