Capítulo 14

32 6 0
                                    

-Vamos á praia, quero que me vejas surfar-o Gonçalo disse de repente

Acordamos tarde então não quisemos almoçar e agora estávamos deitados na minha cama, a minha cabeça estava pousada em cima da sua barriga

-Tu fazes surf?-perguntei levantando a cabeça para olhar para ele

-Desde os meus 10 anos-um sorriso iluminou o seu rosto

-Vamos, quero ver se vales alguma coisa-desafiei o

-Espero por ti lá em baixo-depois disso, saiu do quarto

Vesti me e coloquei algumas coisas numa mala de praia, desci as escadas e lá estava ele á minha espera, já com a prancha na mão
Fizemos o percurso a pé, entre conversas e risadas. Assim que chegamos, estendi a toalha na areia e deitei me na mesma

-Não vais entrar?-o Gonçalo perguntou enquanto tirava a sua camisola e vestia o seu fato de surf, perdi me por alguns segundos nos seus abdominais, não tinha como negar que ele era um rapaz atraente

-Vai na frente, quero bronzear me um pouco-ele assentiu, beijando a minha testa e correndo para o mar

Fiquei a ler um livro por quase uma hora, até que me levantei e caminhei pela areia, parei ao pé do mar enquanto observava o Gonçalo, era realmente um bom surfista

-Finalmente vieste, já estava a pensar que te tinha de ir buscar-ele nadou até mim

-Estou a estranhar o facto de a minha mãe não me ter contado que surfavas-comentei

-Ela provavelmente não sabe, quase ninguém sabe na verdade-olhei para ele com atenção, vendo o suspirar em seguida- Senta te na prancha-ele pediu e eu, mesmo sem entender, obedeci

Ele sentou se atrás de mim e remou um pouco, o seu peito estava colado com as minhas costas e senti todo o seu corpo tenso

-Trouxe te aqui porque te queria contar a minha história Luna-arregalei os olhos mas não me atrevi a dizer um piu, parando para pensar percebi que não sabia nada sobre ele- Lembro me que quando era pequeno me sentia triste, para além de não ter mãe, que o meu pai dizia ter me abandonado, o meu irmão mal olhava para mim, recusava se a brincar comigo e nem sequer me falava-ele começou a falar

-O Lucca?-perguntei mais para mim do que para ele, não conseguia acreditar que o Lucca poderia ter sido frio com o irmão quando eram mais novos

-Sempre que eu perguntava ao meu pai, ele usava a desculpa de que por o meu irmão ser mais velho três anos, não se interessava pelas mesmas coisas que eu. Eu engoli isso, mas mesto assim até aos meus 10 anos tentava ao máximo chamar a atenção do Lucca, sem sucesso. Até que um dia ele me contou toda a verdade-a sua voz estava embriagada e senti as suas lágrimas no meu ombro quando ele pousou a cabeça lá- A minha mãe não nos tinha abandonado, na verdade ela tinha morrido no meu parto-lágrimas começaram também a escorrer pelo meu rosto

-Não..-sussurrei, deixando escapar um soluço, a história que ele me estava a contar fazia o aperto do meu coração tornar se cada vez mais forte

-Durante a gravidez, os meus pais descobriram que a mim mãe estava doente, e se ela não começasse imediatamente os tratamentos, morreria. Mas havia um porém, para fazer os tratamentos, ela não poderia levar a gravidez em frente. A minha mãe podia simplesmente ter me abortado, mas ela decidiu que ia levar a gravidez até ao final e passou o resto da gestação internada no hospital-o seu choro intensificou se e vê lo tão vulnerável partiu me o coração- Quando estava grávida de oito meses, a sua saúde havia piorado bastante e ou eu nascia o mais rápido possível, ou ambos morreriamos. O meu pai contou me que assim que ela me viu, deixou uma lágrima cair e depois de lhe pedir que cuidasse de mim, morreu-os nossos soluços misturavam se e as lágrimas escorriam sem parar

-A tua mãe sacrificou se por ti, não há maior prova de amor do que essa-eu disse baixinho

-Quando descobri eu senti me tão culpado Luna, queria morrer. Corri para a praia e tentei afogar me, mas um homem não o permitiu. Foi ele que me ensinou a surfar, e depois desse dia, todas as tardes eu aparecia nesta mesma praia para ele me dar aulas. O surf salvou me e eu sou grato áquele homem até hoje-ele abraçou me por trás

-Agradeço a esse homem, se não fosse ele não teria tido a chance de te conhecer-coloquei a minha mão por cima da dele

-Depois dos meus treze anos, o meu pai começou a trazer mulheres para casa, ele dizia que queria que eu e o meu irmão tivéssemos uma figura feminina presente nas nossas vidas. Eu tratava as mal, porque não queria que elas ocupassem o lugar da minha mãe, e elas não duravam nem dois meses lá em casa. Mas depois chegaste tu e a tua mãe e mudaram tudo, ela não tentava substituir a minha mãe e não importava o quão mal a tratava, ela era sempre doce e preocupada. E tu, que não baixavas a cabeça e tinhas sempre uma resposta na ponta da língua, fazias me passar uma raiva tão grande! Mas ao mesmo tempo um sentimento novo crescia dentro de mim, uma necessidade de cuidar de ti e te proteger de tudo o que te pudesse magoar. E aqui estamos hoje, pela primeira vez eu conto a alguém a minha história-sorri com as suas palavras

-Eu achei que te odiaria para sempre, tu não foste nem um pouco recetivo quando chegamos e tratavas mal não só a mim, como á minha mãe. Mas aos poucos aprendemos a conviver um com o outro, e tu tornaste te a minha maior companhia naquela casa. Tu és muito importante para mim Gonçalo-fechei os olhos e aproveitei o momento, apesar de a dor pela história que acabara de ouvir ainda se fazer presente, os seus braços a envolver o meu corpo e o som das ondas traziam me paz

O ReencontroOnde histórias criam vida. Descubra agora