Capítulo 5 - Vida bela em projectos perfeitos

3 0 0
                                    


Daniel de Barros, 2005

A minha agenda para estes dias está bem mais preenchida do que imaginava. Vem aí três workshops e tenho que terminar a revisão do Estudo de Impacto Ambiental para o grupo DAKA. Julgo que a fama que me é atribuída, de ser rigoroso demais no trabalho, é verdadeira. E é por isso que dá-me um enorme prazer trabalhar com esta empresa. São tipos sérios, abertos à avaliar alternativas, acometidos em implementar todas as medidas de mitigação possíveis, potenciando ao máximo os benefícios. Muito ajudava se fosse assim a maioria das empresas.

Reparo que tenho agendado para o próximo mês um baile de angariação de fundos, organizado pela faculdade de Magneto. Já que estou a ponderar dar aulas lá no próximo semestre, não é má ideia participar do baile, até por uma questão de gentileza para com o Masseque Júnior, meu grande amigo.

Uma batida ressoa no gabinete.

- Sim?

A porta é ligeiramente afastada e deixa a espreita uma cabecita masculina de cabelo loiro. É o meu colega e amigo Christo.

- Suricate? Tenho aqui uma surpresinha para ti... – esboça um sorriso e escancara a porta, revelando a surpresa. É desses presentes que tem sabor à café na cama.

- Oh, meu anjo...

Sei que soa um pouco tolo, mas volvidos três anos, vê-la causa-me sempre a mesma adrenalina. Ela aproxima-se e permito que me enlace num abraço cheio de calor, e me beije com os seus lábios de pêssego, sob o olhar complacente de Christo.

- Porque é que não me disseste para ir buscar-te ao aeroporto? – pergunto dececionado.

Ela sorri com ar maroto, sacudindo o longo cabelo.

- Assim não seria surpresa – pousa sobre a minha secretária um saco pardo e pelas insígnias da pastelaria adivinho serem os meus muffins preferidos. Abro os braços para ela.

- Sabes que adoro-te, não sabes?

Imediatamente Christo coloca-se entre nós, levantando as mãos.

- Uou, uou, intervalo, que isto é local de trabalho!

Acho uma graça o seu sotaque carregado, porque contrasta com seus olhos azuis de ascendência alemã. Christo, entretanto, nasceu e cresceu nesta cidade, o que o faz tão local como os nativos.

– Tenha calma, suricate, ela não vai fugir! – prossegue gozão - Agora escuta-me que tenho notícias para completar o teu dia.

- Ai sim? – fixo-o com expectativa.

- Não é de graça, custam um bolo – avisa-me, abrindo o saco que a Jéssica me deu, e sem cerimónias degusta um pedaço – que delícia!

- Tens cá uma lata! Para a tua saúde é bom que sejam mesmo boas notícias, Christo!

Ele engole um pedaço de bolo que lhe enche a boca e explica:

- Estão a chover propostas para a Aruanda, suricate, melhores do que esperávamos! Diz lá se não são boas notícias?

- Yes! – vibro num pequeno urro, dobrando o cotovelo em gesto de vitória. Vamos receber o financiamento necessário, a restauração de Aruanda vai andar! Meu Deus, são anos de um sonho que está a um passo de saltar à realidade!

SinaOnde histórias criam vida. Descubra agora