Capítulo 8 - O baile

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Maria Cristina Cumbana Lima, 2005

A cidade parece calma. É noite, mas consigo notar uma nova loja, na avenida popular. Nunca tinha reparado, provavelmente por causa do caos e do tráfego de sempre. Magneto é uma daquelas cidades ainda em desenvolvimento, cheia de estradas esburacadas, mas infinita em carros e pessoas. É uma tristeza que nesta cidade só possamos observar as performances do sol ou a beleza e a estrutura dos edifícios, aos domingos.

Mal piso o chão brilhante e escorregadio do salão, sinto um baque forte no peito. Há-de ser pelo ambiente, estou como um peixe fora da água. O paradoxo, entretanto, é que sempre que posso, frequento estes mesmos ambientes, para tocar guitarra e fazer algum dinheiro. Não me pagam muito, mas é sempre uma boa ajuda e aos poucos vou amealhando. Quanto mais cedo poder ter a minha independência, melhor.

Caminho de rosto erguido, apesar de intimida. Isto está fortemente poluído de luzes decorativas e há um cercado de mesas, bastante gente a acotovelar-se. Os docentes, os convidados, os meus amigos e os que por aqui vejo estão muito elegantes, facto que faz-me sentir ridícula. Acho apenas que o professor Masseque Júnior confundiu o baile com alguma festa no Hawai, porque a camisa que traja tem uma estampa que, Jesus, fere os olhos.

Uma leve brisa vem da marginal e proporciona uma ampla frescura que penetra os poros. O som que se ouve além das animadas vozes, é de música ambiente suave. Bem ao fundo há uma grande mesa com aperitivos e um palco organizado, com fios, amplificadores, colunas e microfones.

- MC!

Não tinha visto que a Moysha já tinha chegado.

Olha-me admirada. Desapontada, diria eu.

- O que foi?

- Você não vinha de vestido? – indaga perscrutando as minhas calças pretas, a blusa branca e o casaquinho preto sem chamariz.

- Ah, não, não era confortável, sabes que vou tocar, então quanto mais à vontade melhor.

Ajeito a pasta da guitarra nas costas. Moysha está exuberante com o vestido verde limão, o cabelo preso no alto da nuca, combinando com os finos e compridos brincos.

- Para mim a MC está ótima! – afirma uma voz por trás de mim. António está gracioso no seu fato azul escuro e traz uma câmara fotográfica pendurada pelo pescoço - Deus nos ajude, tantas meninas com o corpo a mostra, o que é isso? Olha para o decote do teu vestido, Moysha! Em que mundo estamos?

- Santo António, você não comece, estamos num baile, e melhor dizendo, estamos no século vinte e um!

- Ouçam-me meninas, já dizia o rei Salomão: como jóia de ouro no focinho de uma porca, assim é a mulher formosa que não guarda discrição.

Dou uma risadinha cristalina e Moysha fica escandalizada.

- Santo António, vá mas é fazer cobertura do evento e deixe de me incomodar, sim? Me deixe aqui quieta!

António olha-a contrariado.

- Pobre alma desafortunada – e com este último comentário, ergue a câmara, faz um flash na cara amarrada da Moysha, de seguida em mim, e distancia-se, começando a registar o evento, passando pelo seu gémeo Fradique, que vem em nossa direção. Fradique está lindo e perfumado, como sempre.

- Então meus amores!

Estou no meio de um abraço seu, quando noto algo. Acho que é um anjo. É a menina mais linda da festa que está a entrar no salão. E olha que tem muita maria bonita por aqui. Ela está até mais linda que a Moysha, que normalmente é quem nos eclipsa com a sua beleza. O vestido branco da minha amiga lampeja a volta dela, assim como a sua pele que irradia suavidade igual à de um raio de sol baixando no mar. Mas ela não está sozinha.

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