Capítulo 3

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( Onde estou? )

   Ao acordar você percebe que está na frente de sua casa, porém, está tudo diferente.

   De primeira vista você se vê em uma versão alternativa e distorcida da realidade. Não há nada em volta, só a vizinhança, é como se todo o resto tivesse desaparecido, deixando para trás apenas o seu quarteirão. O pôr-do-sol estranhamente azul acontece no final da rua, mas mesmo assim o céu está negro. Os ventos estão muito fortes, tão velozes que parece estar havendo um furacão por perto. O único som que se ouve é o do vento batendo nas janelas, portas e árvores. Você está só, pelo que parece.

   A escuridão limita o seu campo de visão, o terror dessa cena lhe deixa com medo e as lágrimas caem.

( Que isso seja um pesadelo, que isso seja apenas um simples e bobo pesadelo. )

   Sua única preocupação é sair dali, mas como? Em resposta a essa pergunta você corre até a porta de sua casa na esperança de abrir-la e encontrar sua mãe do outro lado de braços abertos para lhe abraçar, mas isso, infelizmente, não aconteceu. A porta não abriu, e a esperança se foi, junto das lágrimas que correm soltas de seu rosto. Com todo esse abalo, suas pernas já não conseguem mais suportar seu próprio corpo, lhe fazendo cair no chão aos prantos.

   Nesse momento passos são ouvidos de longe, sua alma congela, seu corpo treme.

- Q-quem está ai? - Você gritou.

( Quem está ai? O que está acontecendo?.. O que é isso? )

   Ouve-se apenas um latido auto e bruto. Os passos estão mais rápidos e cada vez mais perto. Em meio a escuridão você vê um vulto se aproximando. A adrenalina em seu cérebro é ativada, como se fosse um botão do pânico. Suas pernas começaram a correr na direção oposta a daquele ser, você corre com todas as forças. Olhando para os lados, A procura de abrigo, mas você não vê nenhuma porta aberta, menos a da igreja, que estava levemente encostada.

( Finalmente, a casa de Deus, nada poderá me atingir lá. )

   Você entra na igreja, fecha a porta e empurra um banco para trancar-la. Observando o interior da catedral, apenas há escuridão, a única luz é a de duas velas acesas no altar, iluminando a única outra pessoa que está lá dentro, o padre.

( Isso é suspeito. )

- Venha aqui minha criança, chegue mais perto. - Disse o padre.

( Isso é mais suspeito ainda. )

- O que está acontecendo?

- Está chegando a hora. - Disse ele, com um brilho inexplicável no olhar.

   De repente alguém tenta arrombar a porta pelo lado de fora, e de novo, de novo e de novo, até abrir-la. Nessa hora você já estava longe dela. E quem entra é a dona Rita, uma senhora que mora no fim da rua e que todos os dias estava aqui na igreja.

( O que esse velha está fazendo aqui? )

- Está na hora de voltar. - Ela lhe disse.

- Como assim? Voltar para onde? - Você quase chorava.

- Para casa! - Ela gritou.

- Serio?

   Sem poder terminar a pergunta, você acorda no hospital. Sua mãe está dormindo na cadeira de acompanhante e Stavo está sentado do seu lado.

- Finalmente você acordou. - Ele falou, te abraçando. - Estamos todos preocupados.

- Não se preocupe, estou bem. - Você diz, se levantando e indo em direção à porta.

- Onde vai? - Stavo pergunta.

- Tomar um ar. - Você falou, saindo do quarto.

- Mas já são quase meia noite. Ei! - Stavo te alcança e puxa seu pulso.

- Não tenho tempo. - Você disse se soltando de seu irmão. - Tenho que ir

- Para onde? - Ele gritou.

   Sem dar importância ao que seu irmão dizia, você continua o seu caminho, como se estivesse em um transe. Você se separa de Stavo ao entrar no elevador e descer até o saguão de entrada do hospital. Porém, seu irmão veio correndo pela rampa, e por ser muito rápido chegou antes de você.

- Onde você está indo? - Ele pega em seus ombros e te chacoalha. - Somos irmãos porra, me diga!

- Solte-me agora! - Você ordenou com um tom ameaçador.

- Quem é você?

- Você não vai querer saber. - Você empurra Stavo. - Agora deixe-me ir.

- Nunca.

- Tanto faz, eu não me importo. - Você disse saindo do hospital.

   Você para na encruzilhada do lado de fora do hospital, Stavo estava do seu lado mesmo que você não queira, mas ele não irá lhe abandonar. Com o som do badalar da igreja, indicando meia noite, aparece na encruzilhada a dona Rita, com uma sacola de mercado na mão, cheia de compras. Ela vem até você.

- É agora? - Você à perguntou.

- Sim. - Ela respondeu, acariciando o seu rosto.

- O que é agora? - Gritou Stavo, segurando com força a mão de Rita, que soltou um rosnado de cachorro feroz, e logo ele a soltou.

- Siga-me. - Ela dizia, seguindo o caminho da igreja, e logo atrás está você e seu irmão.

   Ao chegar na igreja, a paisagem está igual a do transe que ficara mais cedo. O céu negro, os ventos fortes,a falta de vida na rua e a escuridão completa.

   Vocês entram, a catedral está iluminada com velas vermelhas, espalhadas pelo chão, bancos e candelabros. Há muita gente ali. Tem gente conhecida e aqueles que você nunca havia visto, todos te olhando.

- O que está acontecendo aqui? Me diga. - Stavo sussurrou em seu ouvido.

   Você não o respondeu e continuou o seu caminho até o altar.

- Quem é esse padre? - Ele sussurrou de novo.

- Ele é o Diabo.

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