capítulo 16

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Emma*

Sinto algo quente e úmido espirrar sobre mim, quando abro os olhos vejo o homem caído no chão e uma poça de sangue se formando ao redor da cabeça. Na verdade há várias delas espalhadas pela lanchonete.

Olho em volta para achar e agradecer o atirador que salvou a minha vida mas não ha sinal algum dele, o som de sirenes se aproxima e uma multidão de pessoas se forma do lado de fora. Me levanto e vou em direção a mesa onde deixei os dois rapazes e o senhor mas o que vejo chega a me dar ânsia de vômitos. Todos estavam mortos, tudo indica que quem fez isso se certificou de que não haveria testemunhas e se for esse o caso... Por que, diabos, eu ainda estou viva?

— Mãos na cabeça! Mãos na cabeça! — um policial com megafone ordena atrás da porta de uma das dezenas de viaturas estacionadas na rua.

— Okey, só não atirem — eu poderia muito bem tentar dialogar com ele mas deu pra perceber o nervosismo em sua voz, por isso optei por obedecer.

Três policiais entraram e vieram até mim. Eles simplesmente colocaram algemas em mim e me arrastaram para uma das viaturas dando partida logo em seguida. Pontadas de dor que começavam da cabeça e irradiavam para o resto do corpo, me deixavam inquieta. O pior é que ninguém vai me reconhecer com esse sangue na cara.

— Com licença, vocês teriam algum tipo de pano aqui dentro ou sei lá... Água?

— Cale a boca — o policial que está dirigindo diz — Já estamos chegando no departamento e lá você poderá recorrer ao seu advogado.

— Acho que nenhum advogado conseguiria tirar você dessa enrascada — o outro diz logo em seguida.

Depois de dez minutos, eles estacionam a viatura e me arrastam para dentro do departamento de polícia. Tento achar meus documentos no bolso da calça jeans mas eles não estão lá. Que droga, porcaria de bolso, porcaria de dia.

— Chame o chefe aqui, diga que trouxemos um dos capangas do Auditore — um deles diz, tá na cara que são novatos.

O outro me arrastou para a sala de interrogatório e me jogou na cadeira me xingando ao mesmo tempo.

— Você deve saber seus direitos não é mesmo ? Então vamos para o que interessa — ele faz uma pausa e se senta na cadeira a minha frente, uma mesa de metal é tudo o que nos separa — Você estava na sena do crime e...

— Com licença — digo, interrompendo seu discurso—  De qual crime estou sendo acusada ?— ele dá uma risada de deboche e volta a falar.

— Pare de joguinhos, um dos capangas de Marco foi encontrado morto dentro da lanchonete e a arma do crime está desaparecida.

— Mas o que isso tem a ver comigo? Cara, eu só fui comer e de repente começou um tiroteio.

— Sim, e foi você que causou o tiroteio e depois matou todos aqueles inocentes para não ter testemunhas e agora deve estar querendo proteger Antony Auditore, o seu chefão da máfia.

— Caramba, você joga muito videogame. Olha pra minha cara e me diga se pareço com algum tipo de capanga.

— Quem faz as perguntas aqui sou eu e é bom você responde-las — a porta da sala se abre e a imagem que vejo me deixa angustiada, mais que merda de  problema que eu fui arrumar.

Um homem de terno preto feito sob medida entra na sala e se aproxima de mim me encarando dos pés a cabeça, um arrepio percorre minha espinha. Sem dizer nada ele mostra sua identificação, os letras F.B.I fazendo com que o policial que me interrogava desse um fora da sala.

— Sou inocente— digo logo de cara.

— Culpado até que se prove o contrário, agora comece a falar sobre o ocorrido e para o seu bem é melhor não mentir ou omitir sobre qualquer detalhe.

— Ok, primeiramente... Por que você não me disse que estava na cidade pai — seus olhos se arregalaram — E por que está com o FBI se você era da ... Qual o nome mesmo ?

— Georgiana ? Impossível!? — ele se aproxima rapidamente e me abraça — Por que está aqui ? Pensei que você fosse secretaria de algum otário.

— E sou mesmo, porém, também trabalho aqui — ele se afasta e se senta na cadeira.

Outro policial entra na sala e faz sinal para que meu pai se retira me deixando sozinha novamente. Essa sala é completamente fechada e, ao contrário de outras salas de interrogatório, não havia nenhum espelho. Uma câmera no canto superior esquerdo, uma mesa no centro com duas cadeiras posicionadas nas estremidades, uma garrafa de água e eu com minhas algemas super polidas, Típico de novatos pensei comigo mesma.

As horas passaram e eu nem percebi, depois de esperar, sei lá quantas horas, cai no sono. Só sei que é de manhã porque o barulho dos guardas trocando de turno me acordou. Droga, vou me atrasar para o trabalho. O medo tomou conta de mim, se ele me demitir estou ferrada.

A porta se abre repentinamente e um guarda entra acompanhado por Houston, que está de mal humor. Isso é tão natural que sempre quando o vejo de bom humor me dá medo. Ele cochicha algo no ouvido do guarda que se retira e tranca a porta do lado de fora nos deixando a sós.

— Mais que merda Leigh!? Como você conseguiu se enfiar no meio de uma disputa de gangues? — um silêncio paira sobre nós — Estou esperando uma resposta.

— Oh, claro, foi mal — acerto minha postura e tento bolar uma resposta adequada já que estamos sendo filmados — Pra começar... Vejamos, eu estava com fome...

Contei cada detalhe do ocorrido e quando finalmente terminei reparo que os olhos de Houston estão encarando diretamente os meus lábios, isso causa um desconforto. Olho em volta tentando disfarçar o nervosismo mas quando volto a encarar ele seus olhos continuam focados em mim.

— Algum problema Houston ?— pergunto e de repente ele está com o rosto bem próximo ao meu, fico paralisada quando sinto sua mão tocar de leve meu rosto.

Lembranças de momentos íntimos nossos me vêem na mente, cada toque, cada beijo... Tudo de uma única vez. Porém uma única lembrança faz com que essas sejam facilmente esquecidas...

— Não Thomas – viro o rosto e afasto suas mãos — Foi você que escolheu não se lembra ?

— E daí? Eu não suporto ver como ele te trata e ainda ter que ficar calado, apoiando um casamento que nunca vai dar certo — ele cospe as palavras— Eu estou de saco cheio Georgiana, pede logo a droga do divórcio e ...

— E o que ? Vamos diga Thomas — me levanto da cadeira e o encaro — Voltar pra você? Até parece, foi você que escolheu me deixar ir embora, será que não se lembra ?

— Droga Georgiana!?

— Não me chame de Georgiana seu imbecil!

— Ok, volta pra ele mas depois não venha me pedir ajuda LEIGH , você não sabe com que espécie de homem está casada e sinceramente espero que não seja tarde de mais quando descobrir.

Ele se retira da sala logo em seguida e outra pessoa entra para me liberar. Um relógio em frente a cafeteira marca 08:56, estou atrasada, muito atrasada. Saio da delegacia correndo e por sorte consigo pegar um táxi, fico presa no transito umas sete quadras de distância da BlackCorp.

Um pensamento insistente me deixa intrigada, na verdade mais que um. Por que o atirador da lanchonete me deixou viva e matou os outros que estavam lá? E mais importante, por que o Houston disse aquelas coisas, o que ele sabe sobre o William?

Me perco nesses devaneios. O táxi estaciona em frente ao edifício coberto por vidros negros, ainda cercada pela faixa amarela está a cena do crime. Já se passou um mês e  ninguém descobriu o que realmente aconteceu, as câmeras foram desligadas, nenhum funcionário viu ou ouviu algo sofre o assassinato tudo porque, supostamente, ninguém estava no andar em que tudo aconteceu. Isso é estranho porque, poxa, um andar inteiro totalmente vazio e câmeras de segurança que estavam em manutenção? Que tipo de idiota cairia nessa ? Minha nossa, e se Will tiver algo a ver com isso? Aquela reunião particular com Black...

Entre quatro paredesOnde histórias criam vida. Descubra agora