And you will see it's easy to love, I know you wanna be loved.

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Autora: Camila Guerra Contine


Tema: Descrença no amor

(Explicação: um dos personagens não acredita na existência real do amor, ele crê que tudo não passa de costume – se acostumar com a pessoa)

Personagens: Dois ou três, um deles tem que ser ranzinza

Local: Paris

Ambientação da história: Atual ou anos 90


{and you will see it's easy to love, I know you wanna be loved}

Eu observava tudo ao meu redor acontecer como em qualquer outro dia da semana. Por mais que fosse monótono e entediante, nada disso me preocupava ao ponto de me fazer cometer loucuras somente para viver experiências que me trariam a sensação de que eu não havia desperdiçado, em momento algum, todo o meu tempo de existência.

Na verdade, era até engraçado ficar parado naquela ponta do mesmo banco de madeira da Pont des Arts, lugar onde eu sempre ia no horário livre que eu tinha durante meu expediente do trabalho. Paris costuma ser uma cidade movimentada, mas toda vez consigo me surpreender um pouco mais com a quantidade de pessoas que transitam por esse lugar, em qualquer momento possível do dia.

E eu continuava ali, sendo o rapaz que se senta no banco de madeira e come sua baguette recheada enquanto observa um acúmulo de almas inocentes se esbarrando, no desespero de tentarem fixar naquela ponte um pouco do que o mundo mais tinha para oferecer: ilusão. Esse não é o verdadeiro nome em questão, mas costumava chamar assim, por mil e uma experiências pessoais que me fizeram tomar a decisão de jogar tudo para o alto e desistir de vez daquela vivência estúpida e traumática que, por algum motivo, os seres humanos sempre estão procurando. A maioria das pessoas costuma chamar de amor, e eu afirmava com a maior clareza que aquilo não passava de um erro que elas aceitavam cometer.

E qual era o sentido de grudar cadeados com as iniciais de seu nome juntas das inicias da pessoa que você ama numa ponte da cidade? O que aquilo traria de bom para a vida? Não é como se o ritual do cadeado preso nas grades da ponte e a chave sendo jogada no rio logo em seguida fosse trazer algo mágico e impressionantemente infinito para um casal. Eu sentia medo a cada vez que assistia aquele bando de pessoas pregando seus cadeados na ponte já sobrecarregada de tantas juras de amor, inconformado com o fato de que todo o restante do mundo parecia depositar fielmente suas crenças amorosas em um ponto turístico da cidade.

Estava frio e ventava muito. Eu me encolhia no banco, com o sanduíche sendo apertado contra meu corpo e os dedos de minhas mãos tremendo. Planejei me levantar dali no mesmo instante e talvez voltar para o meu trabalho alguns exagerados minutos mais cedo, mas acabei sendo surpreendido por uma figura de um outro rapaz, que se sentou no extremo oposto do banco onde eu estava.

Levei meus olhos de relance até alcançar sua imagem, fitando-o por alguns instantes. Seus dedos tremelicavam como os meus, e o cadeado mantido por entre eles balançava por conta dos movimentos constantes. Eu nem ao menos percebi minha testa enrugando e uma careta tomando conta de meu rosto, muito menos as palavras que saíram de minha boca em resmungos altos demais para alguém que costumava ser apenas o observador de toda aquela estupidez.

— Pobrezinho, mal sabe ele que esse cadeado vai ser tirado daí em poucos dias...

Não consegui ouvir mais nada por longos instantes, como se todos daquele lugar houvessem decidido ficar em silêncio para contemplar o semblante assustado que havia impregnado minha face.

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