DOAÇÃO DE PLOTS | Desafio 4

Cath the Ripper

Autora: Luíza Carolina de Oliveira Silva

- Tema: Amizade de infância

- Número de personagens: No mínimo duas, uma delas muda

- Local: Londres

- Ambientação: Séc. XIX

Como a proposta do plot ficou um pouco vaga, tomei a liberdade de desenvolver o tema de um jeito bastante distorcido. Acho que nunca escrevi uma história num tom assim antes, então foi realmente um desafio pra mim!

Peguei um basicão da história do "Jack, o Estripador" e adaptei para o tema proposto.

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Cath the Ripper

Abençoados com o privilégio de terem nascido em berço de ouro, Jack e Catherine, filhos de dois grandes membros da alta burguesia britânica, nasceram e cresceram praticamente como irmãos. Enquanto seus pais se ocupavam de afazeres profissionais e suas mães passavam o tempo conversando sobre as últimas tendências da moda vitoriana, os dois brincavam nos imensos jardins das propriedades de suas famílias sem se preocupar com nada além de se divertirem o máximo que podiam. Jack, por ser um garoto mais franzino e de saúde delicada, não conseguia aguentar a correria da sempre animada e atlética Catherine por muito tempo, por isso suas brincadeiras se resumiam a imitações do cotidiano dos criados que os cercavam e das pessoas de classes inferiores que viam diariamente pelas ruas no caminho para a escola. Naquela época, devido à inocência que suas almas de criança possuíam, a imitação não tinha absolutamente nenhum teor discriminatório ou preconceituoso: Jack e Catherine só parodiavam o que viam, e se divertiam muito com isso. Porém, com o passar dos anos e do desenvolvimento da vida social de cada um deles, as imitações começaram a reproduzir o caráter intolerante com o qual a classe burguesa se referia aos menos favorecidos, e isso acabou fazendo nascer nos dois a típica aversão à pobreza que seus pais possuíam.

Foi numa noite quente e seca de verão que a vida de uma das crianças mudou drasticamente. Ninguém soube se aquilo aconteceu por um mero acidente ou se uma pessoa provocou todo aquele inferno, mas é fato que toda a fortuna da família de Catherine, acumulada em obras de arte e artigos de luxo, foi reduzida a pó pelo incêndio catastrófico que se alastrou pela mansão que os abrigava. O pai da menina, numa tentativa enlouquecida de salvar pelo menos algum bem de maior valor, foi consumido pelas chamas e não conseguiu sair de seus aposentos com vida.

Agora sem nenhum poder financeiro em mãos, Catherine e sua mãe foram automaticamente transferidas para a "plebe" de Londres. Tiveram todas as suas conexões com a classe burguesa cortadas e, sem receber ajuda alguma, foram expulsas da região onde moraram por toda a vida. A jovem Catherine, já com seus quinze anos, correu ao encontro de Jack para implorar-lhe que a ajudasse, ao menos até que ela e sua mãe descobrissem o que fazer, mas todos os anos que passaram rindo juntos, brincando juntos, sendo os melhores amigos que Londres já vira, também viraram cinzas. Olhando-a com um desprezo profundo, Jack empurrou Catherine com o pé antes que ela pudesse se aproximar o suficiente para tocá-lo e cuspiu em seu rosto. Virou-lhe as costas e saiu com os outros burgueses para longe do casarão em ruínas. E, naquele mesmo instante, algo que a garota nunca sentira na vida floresceu em seu coração: o mais puro e perverso ódio invadiu cada pedacinho de lembrança feliz em que Jack aparecia, o que a fez jurar para si mesma que um dia se vingaria daquele desgraçado.

Achar um lugar para dormir nos dias que se seguiram ao incêndio não foi nada fácil. Conseguir o que comer era ainda mais difícil. Catherine e sua mãe já haviam tentado tudo que consideravam digno de duas donzelas, mas nada funcionava. Se quisessem sobreviver teriam que jogar o orgulho fora e aceitar a nova realidade à qual pertenciam. Começaram, então, com muita dificuldade, a pedir esmola nas ruas, e até estavam conseguindo um trocado aqui e ali, mas o que ganhavam não era suficiente para comprar nem mesmo um pedaço de pão. Não sabiam mais o que fazer, já estavam desnutridas e sem forças para sequer pensar em algo diferente, prestes a desmaiar de fome, quando uma mulher as reconheceu na rua e ofereceu sua casa para abrigá-las por um tempo. Ela se chamava Emma e tinha trabalhado para a família de Catherine alguns anos atrás como cozinheira, por isso soube imediatamente quem eram quando as viu. As três se amontoaram num cabriolé, cujo cocheiro era um velho amigo de Emma e sempre lhe oferecia um bom desconto por seus serviços, e partiram para East End, o lugar que seria o lar das duas ex-burguesas pelo resto de suas vidas.