Cravo - Ushijima Wakatoshi

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Obs: Textos em itálico representam uma lembrança, algo que aconteceu no passado.

> Insistentes

> Talentosos

Bufei incomodado, batucando com a caneta no caderno sem saber o que mais poderia escrever ali, algumas palavras cruzavam a minha mente, mas eram ofensas ou características que nem existiam de verdade — minhas dúvidas que nunca foram confirmadas. Nós nunca tivemos muito em comum e mal nos falávamos, na verdade nem sei como pude gostar dele, eu só. Sei lá, me sentia carente? Gostava do modo como ele tentava me convencer a ir para sua equipe? Da atenção que me dava sem que eu precisasse pedir ou correr atrás? Não, nada disso me parecia certo

O que senti por ele veio antes, não havia o Ushijima tentando me arrastar para seu time, havia apenas um garoto estranho e calado que gostava de me chamar para jogar vôlei em uma quadra abandonada perto de onde eu morava.

Eu gostava da simplicidade daqueles dias, eram tão calmos e felizes, o peso do mundo parecia insignificante e inexistente, tudo era tão terrivelmente confortável. No entanto, não voltaria no tempo ou mudaria nada, tudo aconteceu do jeito que era para ser, foi melhor assim.

— Você me mandou mensagem, dizendo que estava entediado, então vim buscá-lo para que fôssemos jogar juntos. — Murmurou calmo, erguendo a bola de vôlei que estava em sua mão direita para me mostrar.

Revirei os olhos, encostando-me no batente da porta enquanto continuava o encarando de maneira superior. Trocávamos torpedos e ligações há bastante tempo, a voz dele se tornara menos irritante e até mais suportável aos meus ouvidos, mas uma partida com ele em uma competição amigável era um ponto bem diferente, era abusar da boa vontade que eu nem tinha.

No entanto, ao ver sua expressão tão relaxada e fofa fez com que minha sanidade fosse embora, concordei com a cabeça sem ao menos notar que o fazia. Sua mão segurando a minha quando fechei a porta, o que nem tentei impedir, ou quando não largou mesmo que começássemos a descer rua abaixo, calados e inquietos enquanto um acompanhava o ritmo do outro.

Talvez se eu fosse mais perceptível ou preocupado com as coisas que acontecem ao meu redor, teria notado o olhar frio que minha mãe me direcionou quando nos viu juntos e o modo como parecia transtornada. As coisas poderiam ter sido diferentes. A culpa não foi dele também, só minha por não ter dito e tentado explicar tudo quando tive tempo.

— Tem que aceitar, Ushijima, você só é bom no bloqueio. Já eu? Sou o astro, não há nada em que eu me dê mal! — Exclamei saltando animado, eu estava vencendo de cinco acerto de dez enquanto ele tinha dois. A garrafa estava distante e mesmo assim eu conseguia acertá-la com destreza — mesmo que o rapaz saltasse algumas vezes tentando me impedir.

Ele era atacante, mas possuía melhor desempenho no bloqueio e isso era notável mesmo como seu oponente, do lado de fora em qualquer canto alto que fosse possível vê-lo, qualquer pessoa poderia afirmar o mesmo. Eu lhe dissera isso inúmeras vezes, mas sua teimosia era tão grande, ele era tão persistente, não desistiria e isso era inspirador, muito bobo e infantil de sua parte, porém realmente inspirador.

O rapaz me encarou com a expressão indiferente. O suor escorria por sua testa e ensopava sua regata vermelha, manchando-a com gotas escuras que logo iriam secar, eu podia ficar admirando seu belo corpo, aquela estrutura definida e peitoral largo para alguém que ainda era jovem, mas decidi que não faria aquilo, ao menos não naquele momento.

Ergui o rosto, sabendo que o mesmo estava um pouco vermelho porque sempre ficava assim quando eu pensava estranhezas sobre os corpos dos meus colegas. Qualquer coisa eu tinha a desculpa de ser o cansaço ou o calor.

𝘖𝘴 𝘢𝘮𝘰𝘳𝘦𝘴 𝘧𝘳𝘢𝘤𝘢𝘴𝘴𝘢𝘥𝘰𝘴 𝘥𝘦 𝘖𝘪𝘬𝘢𝘸𝘢 𝘛𝘰𝘰𝘳𝘶Onde histórias criam vida. Descubra agora